16º CONGRESSO BRASILEIRO DE NEUROLOGIA INFANTIL

Dados do Trabalho


Título

SINDROME DE HAREL-YOON POR MUTAÇAO DE NOVO EM HETEROZIGOSE NO GENE ATAD3A: PRIMEIRO RELATO DE CASO BRASILEIRO

Apresentação do Caso

Masculino, 12 anos, pais não consanguíneos, avós paternos primos de 1º grau, pré-termo por oligoâmnio, sem antecedentes perinatais, com bom desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) até a aquisição da marcha. Ao deambular com apoio aos 13 meses, observada ataxia global e atraso de linguagem. Iniciadas reabilitações, adquirindo a fala aos 3 anos, apesar de disártrica; deambulando sem apoio aos 5 anos. Aos 4 anos ressonância magnética de crânio evidenciou hipoplasia global de cerebelo. Teste do pezinho e ácidos orgânicos na urina normais, eletroneuromiografia: polineuropatia axonal sensitivo motora em membros inferiores e superior direito. Ao exame neurológico: sem dismorfismos, cognitivo preservado, síndrome piramidal deficitária e de liberação, síndrome de unidade motora e síndrome cerebelar. Painel de ataxias negativo. Exoma: mutação de novo em heterozigose do gene ATAD3A, sendo diagnosticada Síndrome de Harel-Yoon (SHY).

Discussão

Diversos distúrbios neurológicos surgem de disfunções mitocondriais devido à alta demanda dos neurônios por oxigênio e ATP (adenosina trifosfato) e sua suscetibilidade aumentada ao estresse oxidativo. Descrita em 2016, a SHY tem amplo espectro, associado a mutação de genes ATAD3 (A, B ou C), sendo o ATAD3A mais amplamente relacionado. ATAD3A é uma proteína mitocondrial responsável pela estabilização, organização e replicação do nucleóide do DNA mitocondrial, regulação da fissão/fusão mitocondrial e homeostase do colesterol. A depender do tipo de mutação ocorrem fenótipos que variam desde atrofia cerebelar e do tronco cerebral, hipotonia, encefalopatia com morte nos primeiros dias de vida, até pacientes com atraso do DNPM, catarata, atrofia óptica e cerebelar, convulsões, neuropatia axonal, cardiomiopatia hipertrófica e dismorfismos, dentre outras características, podendo chegar até a fase adulta. Nosso paciente apresentava uma mutação de novo em heterozigose, proporcionando um fenótipo mais leve, que faz diagnóstico diferencial com a Ataxia espástica de Charlevoix-Saguenay, previamente descartada.

Comentários Finais

Tendo em vista os diversos espectros da SHY com poucos casos descritos na literatura, faz-se necessário maiores estudos na área, principalmente delineando os papéis biológicos e patológicos do ATAD3A, o que nos permitirá lançar luzes sobre as etapas necessárias para desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes para o tratamento da SHY, além da importância em realização de diagnóstico precoce tendo em vista os casos mais graves e letais.

Referências (se houver)

1-Hanes, I. et al. Neurol Genet, 2020
2-Desai, R. et al. Brain, 2017
3-Harel, T. et al. Am.J.Hum.Genet., 2016

Fonte de Fomento (se houver)

Declaração de conflito de interesses de TODOS os autores

Nenhum

Área

Neurogenética

Instituições

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) - São Paulo - Brasil

Autores

Gabriela Procópio de Moraes Oliveira, Beatriz Borba Casella, Hugo Gustavo Vega Alcivar, Raquel Diógenes Alencar, Eric Oneda Sakai, Caroline Pereira Borginho, Tarcizio Brito Santos, Fernando Kok, Clarissa Bueno