Dados do Trabalho
Título
ENCEFALOPATIA EPILEPTICA INFANTIL PRECOCE 34
Apresentação do Caso
MMO, 7 meses, sexo feminino, primogênita de pais não consanguíneos, com história familiar paterna de epilepsia. Parto normal, a termo, sem intercorrências. Apresentou episódios de cianose fugaz logo após nascimento. Aos 2 meses, o quadro associou-se a movimentos clônicos em membro superior direito e, posteriormente, foi relatado atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). Foi iniciado tratamento com fenobarbital, mas, devido à refratariedade dos episódios e a evolução com automatismos mastigatórios, foi substituído por carbamazepina (CBZ) e ácido valproico. Apesar disso, evoluiu para crises multifocais, sendo trocado CBZ por levetiracetam. Aos 4 meses, com crises reentrantes, apresentou estado de mal epiléptico e rebaixamento do nível de consciência, sendo necessária a internação em UTI com ventilação mecânica. Foram reajustados fármacos anticrises (FACs) e iniciada dieta cetogênica com resposta frusta. A ressonância do encéfalo revelou possível afilamento do corpo caloso, e o videoeletroencefalograma evidenciou atividade de base desorganizada, paroxismos epileptiformes nas projeções temporais predominantemente à esquerda e crises eletrográficas com início na região occipital direita, algumas prolongadas. Supondo-se quadro de epilepsia do lactente com crises focais migratórias, foi solicitado Painel de Epilepsias e Ataxias que evidenciou Encefalopatia Epiléptica Infantil Precoce 34 (EEIP34). Posteriormente, paciente contraiu COVID-19 e evoluiu com sinais de sepse, vindo a falecer.
Discussão
A EEIP34 é uma síndrome neurológica autossômica recessiva por mutação no gene SLC12A5 localizado no cromossomo 20q12, causando alteração no transporte de íons transmembrana com perda da inibição sináptica. Até 2019, 9 casos foram relatados, sendo uma síndrome rara. Caracteriza-se por epilepsia que começa como crises motoras focais que evoluem para focais migratórias. As crises se iniciam antes dos 6 meses de idade, são refratárias a FACs convencionais e associam-se a atraso no DNPM. O diagnóstico é realizado por biologia molecular. Não há tratamento específico, mas a dieta cetogênica e o brometo de potássio podem atenuar as crises. A infecção por COVID-19 aumenta a morbimortalidade para casos semelhantes.
Comentários Finais
A EEIP34 é um grave distúrbio neurológico com um prognóstico desfavorável com taxa de sobrevida baixa e pouca responsividade a tratamentos. São imprescindíveis a confirmação genética e o aconselhamento aos pais devido à grande morbimortalidade do caso.
Declaração de conflito de interesses de TODOS os autores
Sem conflitos de interesse.
Área
Epilepsias
Instituições
Centro Universitário Christus - Ceará - Brasil, Hospital Infantil Albert Sabin - Ceará - Brasil
Autores
Davi Torquato de Araújo Gonçalves, Liana Santos de Melo Coelho, Thais Ferreira Campos, Tamyres Ferreira Campos, Rebeca Pedrosa Holanda, Abner Pedrosa Holanda, Ana Yamin Vasconcelos de Oliveira Melo, Erlane Marques Ribeiro, Andre Luiz Santos Pessoa