16º CONGRESSO BRASILEIRO DE NEUROLOGIA INFANTIL

Dados do Trabalho


Título

PTOSE PALPEBRAL: DIAGNOSTICO DIFERENCIAL

Apresentação do Caso

AMN, feminina, 2 anos, bom DNPM, história de 3 dias de GEA em 1/5/21. Em 3/5 vacinada para gripe. Em 5/5 apresentou ptose palpebral e oftalmoparesia E, com evolução à D em 24 horas. Encaminhada para o neurologista pela oftalmologia em 11/05. Ao exame ptose palpebral bilateral assimétrica, midríase com fraca fotorreação à D, sem movimentos dos globos oculares, discreta ataxia de marcha, dança dos tendões, tremor fino em mãos, ROT 2+/4, discreta hipotonia, força muscular diminuída em pálpebras. Mãe negava flutuação da ptose durante o dia ou melhora após o repouso, teste do gelo negativo. Internada com hipótese de síndrome de Miller Fisher (SMF). Líquor com 1 linfócito, proteína 135mg/dl, anti-GQ1b negativo. Recebeu imunoglobulina por 5 dias, com abertura das pálpebras. 10 dias pós-alta pálpebras amanhecem abertas com fraqueza ao longo do dia. A investigação de Miastenia Gravis (MG) demonstrou anti-Ach positivo. Em 19/05, iniciou-se piridostigmina 0,5mg/kg/dia com posterior escalonamento. Atualmente há melhora da abertura ocular mantendo flutuação ao longo do dia. Foi solicitada avaliação oftalmológica para síndrome de Kearns-Sayre (SKS).

Discussão

A SMF é uma doença desmielinizante aguda inflamatória definida por oftalmoparesia, ataxia e arreflexia com dissociação proteino-citológica no liquor. O antiGQ1-b possui alta sensibilidade (>90%). Frente ao resultado negativo e evolução clínica desfavorável, foram aventadas hipóteses diagnósticas de MG e SKS. A MG é uma doença autoimune da placa motora caracterizada por fraqueza muscular. Pode se apresentar sob a forma ocular isolada flutuante. O teste do gelo apresenta alto grau de sensibilidade (80-100%), porém na ausência de resposta, é indicada a pesquisa dos anticorpos anti-Ach e anti-Musk que neste caso concluíram o diagnóstico. O anti-Ach em formas oculares puras apresenta sensibilidade variável de 56-70%, sendo o teste mais específico para MG.

Comentários Finais

A ptose palpebral como manifestação oftalmológica isolada pode atrasar o diagnóstico neurológico e seu tratamento. Neste caso, a anamnese sem flutuação da manifestação, com quadro infeccioso, imunização e alteração liquórica apontaram para a SMF, inclusive com resposta inicial favorável a IVIG. Contudo, é importante descartar outras possibilidades diagnósticas como doenças autoimunes, hipotireoidismo além de tumores e causas genéticas que podem estar subjacentes.

Referências (se houver)

1) Damiani et al. Síndrome de Miller Fisher: considerações diagnósticas e diagnósticos diferenciais. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2011 nov-dez;9(6):423-7
2) Peragallo JH. Pediatric Myasthenia Gravis. Semin Pediatr Neurol. 2017 May;24(2):116-121. doi: 10.1016/j.spen.2017.04.003. Epub 2017 Apr 7. PMID: 28941526.
3) Melson AT, McClelland CM, Lee MS. Ocular myasthenia gravis: updates on an elusive target. Curr Opin Neurol. 2020 Feb;33(1):55-61. doi: 10.1097/WCO.0000000000000775. PMID: 31789705.

Fonte de Fomento (se houver)

Declaração de conflito de interesses de TODOS os autores

Os autores não apresentam conflito de interesses.

Área

Neuroimunologia, esclerose múltipla e outras doenças desmielinizantes

Instituições

INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Jessyca Thays Melo Andrade Ramos, Wilson Ramalho Coelho Neto, Daiane Vieira Botelho, Ana Luiza Almeida Carneiro, Larissa Beatriz do Carmo Moreira, Renata Joviano Alvim, Alessandra Augusta Barroso Penna Costa, Fernanda Veiga de Góes, Tania Regina Dias Saad Salles