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16/12/2019 00:00:00 A força do movimento Green Building, por Felipe Faria, CEO do Green Building Council Brasil
O movimento das construções verdes no Brasil ganhou musculatura para alcançar um patamar mais elevado no país. De acordo com dados do World Green Building Council, no mundo este setor movimenta cerca de US$ 1 trilhão por ano, e irá gerar 6,5 milhões de novos empregos, diretos e indiretos, até 2030. Empregos com capacitação profissional em áreas como eficiência energética e renováveis, reaproveitamento e tratamento de resíduos, uso eficiente de água, processos industrializados de construção, desenvolvimento de materiais e recursos de baixo impacto sócio ambiental, inteligência artificial para a otimização de processos nas fases de projeto, construção e operação de uma edificação, entre outros...
Trata-se do setor que mais contribui para os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, estabelecidos em 2015, especialmente nas questões relacionadas às cidades e comunidades mais sustentáveis, promoção de inovação na infraestrutura, saúde e bem estar, água limpa e saneamento, energia limpa e acessível, produção e consumo responsável, entre outros aspectos. Hoje, o país é o quarto colocado no ranking mundial das construções certificadas LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), principal certificação de construções sustentáveis no mundo, presente em 170 países.
Além dos ganhos sociais e ambientais, essas edificações também despontam como a melhor opção de negócio do mercado imobiliário, apresentam maior velocidade de ocupação, melhor retenção, diminuição dos custos de operação, valorização do metro quadrado, em suma, riscos de investimento reduzidos. De acordo com estudo feito por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Odilon Costa e Wesley Silva, o fator certificação de edificações eficientes, isoladamente, é responsável pela valorização de 4% a 8% no valor do aluguel nos prédios comerciais na cidade de São Paulo. Valorização sem comprometer a ocupação, pois nestas edificações a taxa de ocupação também se apresentam melhores. A pesquisa analisou mais de 2.000 prédios comerciais na cidade.
Diante da relevância do movimento, a Organização das Nações Unidas (ONU), durante a COP 21, nos lançou o desafio de criarmos uma ferramenta que contribuísse, de maneira mais intensa, com a economia de recursos naturais em edificações. Após análises e estudos, lançamos o GBC Zero Energy, ferramenta que certifica edificações que geram 100% da energia que consomem durante 12 meses corridos de operação. São edificações com alta eficiência energética, excelência na operação e gestão predial, ocupação consciente e produção de energia renovável on site ou off site, tudo com viabilidade financeira. Só foi possível aceitar este desafio com planejamento, técnica, experiência e maturidade. São 33 projetos registrados nesta ferramenta, dez deles já certificados. São centros de distribuição e logística, sede administrativa de indústrias, construtoras, escritório de advocacia, casas, creche pública, universidades, escolas, prédios comerciais, entre outras tipologias. E recentemente, um Memorando de Entendimento assinado com o Governo do Estado do Paraná, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas, o Paranacidade e o Fomento Paraná, cria o Programa de Edificações Públicas Autossuficientes, onde o Estado garante recursos para o primeiro passo, transformar 180 escolas públicas de 6 diferentes municípios em zero energia, e um segundo momento, apoiado pelo Instituto Purunã, todos os 68 prédios públicos da cidade de Balsa Nova e sua iluminação pública em Zero Energia.
Esse avanço vivido pela construção sustentável comprova que nosso país pode dar muito certo quando nossas semelhanças são mais valorizadas que nossas diferenças. Esse movimento é caracterizado por uma forte rede colaborativa envolvendo os diversos stakeholders que atuam na construção civil, poder público, associações de classes, ONGs e os veículos de mídia que auxiliam na disseminação dos casos de sucesso, benefícios e novidades. Nossos profissionais e empresas aceleram a elevação do nível técnico do mercado onde a técnica passa a vencer os melhores contatos, maximizam o planejamento de modo a alcançar a eficiência em sentido amplo... desta forma, trouxemos para o presente a execução e edificações autossuficientes em energia com viabilidade financeira.
Esta maturidade, inclusive, nos fez refletir sobre o amadurecimento do movimento green building no país, e de que maneira ele poderia impactar direta e decisivamente em todas as camadas da população/mercado. A partir de 2017, lançamos a certificação GBC Casa & Condomínio para ser empregada em projetos residenciais. A ferramenta possui alguns pilares fundamentais que tem atraído a atenção de incorporadores e desenvolvedores a investirem neste tipo de empreendimento: conforto, saúde e bem estar; economia operacional e manutenção; verificação adicional de qualidade; e vantagens econômicas para investidores e proprietários. Em menos de dois anos, temos mais de 70 empreendimentos nesta categoria.
Vivemos um momento histórico para o movimento. Fazemos parte de uma revolução no mercado de uma maneira geral. Temos conciliado respostas rápidas para a preservação de nosso planeta e desenvolvimento da economia. Por fim, destaco o comportamento de empresas e profissionais com conduta norteada pela colaboração com altruísmo, que não se sentem melhores por terem alcançado o melhor modelo de negocio do mercado imobiliário, e sim mais responsáveis, estando sempre dispostos em engajar tantos outros profissionais, mesmo que concorrentes, pois sabem que a transformação que nos propusemos depende da participação de todos. Nós, do GBC Brasil, temos a convicção que, ainda nessa geração, progressivamente, todos irão morar, trabalhar e estudar em uma edificação sustentável.
Felipe Faria é CEO do Green Building Council Brasil e Diretor do Conselho Administrativo do World Green Building Council