60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ASPECTOS RELACIONADOS A SATISFAÇAO APOS ADENOMASTECTOMIA NO PROCESSO TRANSEXUALIZADOR

Resumo

O processo transexualizador inclui uma série de intervenções médicas e cirúrgicas para alinhar a aparência física do indivíduo com sua identidade de gênero. A adenomastectomia, ou mastectomia subcutânea, é uma das cirurgias mais realizadas para indivíduos transmasculinos, objetivando a remoção do tecido mamário e a criação de um tórax esteticamente masculino. As cicatrizes são uma consequência inevitável da cirurgia e podem influenciar significativamente a percepção de satisfação e a qualidade de vida do paciente.
A escolha da técnica cirúrgica adequada, juntamente com cuidados pós-operatórios meticulosos e suporte psicológico, é fundamental para minimizar o impacto das cicatrizes e melhorar a satisfação do paciente com o resultado final da cirurgia.

Introdução

A adenomastectomia, também conhecida como mastectomia subcutânea, é uma cirurgia crucial no processo transexualizador para indivíduos transmasculinos. Esta intervenção visa a remoção do tecido mamário, resultando em um tórax mais masculino. No entanto, como em qualquer procedimento cirúrgico, a adenomastectomia deixa cicatrizes, e a qualidade dessas cicatrizes pode impactar significativamente a satisfação do paciente com o resultado estético e funcional da cirurgia.

Objetivo

As cicatrizes resultantes da adenomastectomia podem ter um impacto significativo na saúde mental dos pacientes. Uma cicatrização inadequada pode causar insatisfação com a aparência, afetando a autoestima e o bem-estar emocional. É fundamental que os pacientes recebam suporte psicológico durante o processo de cicatrização. O objetivo deste trabalho foi avaliar o grau de satisfação dos pacientes operados neste serviço no período de 2022 a 2023 (38 casos).

Método

Foram realizadas entrevistas com os pacientes após 6 meses e 1 ano, questionando sobre seu grau de satisfação com relação a suas cicatrizes e o procedimento cirúrgico. Em nosso serviço realizamos Mastectomia subcutanea com incisão periareolar ou Mastectomia com dupla incisão associada ao enxerto livre de CAP.

Na literatura, McEvenue et al. (2017) publicaram o trabalho com a maior casuística deste procedimento cirúrgico na literatura (679 pacientes durante 15 anos). Simplificaram a conduta cirúrgica baseado na classificação em 2 únicos grupos:

1) Mastectomia subcutânea com incisão periareolar semicircular associada à lipoaspiração em paciente com ptose grau 0 ou 1 com boa elasticidade cutânea (chamada pelo mesmo de técnica de “fechadura”, do inglês “keyhole”);

2) Mastectomia com dupla incisão associada ao enxerto livre de CAP em todas as outras mamas.

Resende (2007) descreve uma técnica para tratar ginecomastia que usualmente é aplicada para transexuais homens, porém a cicatriz tende a ficar perceptível e colocada fora do sulco inframamário, que é onde o contorno inferior do tórax tende a ficar com menor tensão horizontal. Monstrey et al. (2008) também utiliza esta técnica em alguns casos.

Detalhe importante se refere ao enxerto livre do CAP, similar à técnica de Thorek (1946). A área doadora do enxerto pode ser: 1 - margem da aréola; 2 - centro da aréola com a papila; ou 3 - combinação de ambas, com a papila central em torno de 0,5 a 1,0cm de diâmetro e diâmetro areolar de 2,5cm.

Ponto crucial deste procedimento cirúrgico é a posição horizontal final do enxerto do CAP no tórax. Normalmente a posição deste tende a ficar mais agradável quando se situa em torno de um a dois centímetros lateral à intersecção entre a linha hemiclavicular original e a cicatriz horizontal final no sulco inframamário. Desta maneira o autor deste trabalho simplifica outras técnicas de marcação baseadas na borda lateral do músculo peitoral maior, na junção de linhas corporais ou numa tabela com referência na circunferência torácica, de reprodutibilidade mais difíceis. A distância vertical entre o CAP e a cicatriz final do sulco inframamário é orientada pelo autor a apresentar 2,5cm, próximas ao que Monstrey et al. (2008) orientam (linha hemiclavicular e 2 a 3cm acima da cicatriz horizontal).

É comum o enxerto do CAP, quando coletado em forma circular, ao longo do tempo se apresentar elíptico com maior eixo na vertical, devido às forças de tensão neste sentido do tórax. Para evitar essa complicação, Agarwal et al. (2017) orientam a retirar o enxerto elíptico com 1,5 por 2,5 centímetros, fixando-o com o menor diâmetro na vertical. Ao longo do tempo o mesmo tende a ficar com o formato arredondado.

Resultado

A mastectomia masculinizadora é um procedimento seguro, com boa reprodutibilidade e que traz resultados estéticos apesar de ocasionalmente esses pacientes apresentarem algum tipo de cicatrização patológica. O grau de satisfação contemplou todo o grupo participante (38 pacientes), com apenas 03 casos solicitando algum tipo de refinamento para melhor aspecto final.

Discussão

O transexualismo masculino (ou de feminino para masculino, do inglês “female to male” - FTM) é um distúrbio de identidade (disforia) de gênero. Esses indivíduos acreditam que foram criados no corpo do gênero errado, sofrem de persistente desconforto psicológico relacionado ao seu sexo anatômico e desejam viver e ser aceitos permanentemente no papel social do gênero masculino.

O tratamento da disforia de gênero consiste na combinação de diferentes abordagens como terapia hormonal, terapia cirúrgica e psicoterapia. Devido ao desejo de mudar suas características sexuais anatômicas para aquelas do sexo oposto, a MM é geralmente o primeiro, o mais importante e muitas vezes o único procedimento cirúrgico na readequação de gênero em transexuais masculinos, principalmente naqueles que apresentam mamas de grandes volumes.

Sobre as bases legais atuais das cirurgias de transexuais, a Resolução no 2.265, de 20 de setembro de 2019, do Conselho Federal de Medicina, corroborado por publicação no Diário Oficial da União dia 09/01/2020 (edição 6, seção 1, página 96), define a idade mínima de 18 anos para a as cirurgias mamárias de retribuição sexual, como a mastectomia simples bilateral (masculinizadora) e 16 anos para hormonioterapia, bem como um ano de acompanhamento psiquiátrico mínimo. No período deste trabalho a base legal era a Resolução CFM 1955/2010, que exigia 2 anos de acompanhamento prévio com endocrinologista, psicólogo e assistente social, além de liberar a hormonioterapia aos 18 anos e procedimentos cirúrgicos aos 21 anos.

Comumente utilizam-se técnicas de ginecomastia ou mastectomia por doença mamária em paciente do sexo feminino, porém a mastectomia subcutânea em transexuais FTM é mais difícil do que os dois procedimentos, porque esses indivíduos têm volume mamário consideravelmente maior, maior grau de flacidez e menor elasticidade da pele. A compressão mamária contínua com faixas elástica torna a qualidade da pele e do parênquima mamário piores

Conclusão

A adenomastectomia é uma parte vital do processo transexualizador para indivíduos trans masculinos, proporcionando uma aparência torácica mais alinhada com a identidade de gênero. No entanto, a formação de cicatrizes é inevitável e pode variar amplamente entre os indivíduos. A escolha da técnica cirúrgica, juntamente com cuidados pós-operatórios adequados e suporte psicológico, é essencial para minimizar o impacto das cicatrizes e melhorar a satisfação do paciente com o resultado da cirurgia.

É importante que os profissionais de saúde estejam atentos aos aspectos cicatriciais e ofereçam um acompanhamento contínuo e personalizado, garantindo assim uma melhor qualidade de vida para os pacientes transexuais.

Referências

1. Nelson L, Whallett EJ, McGregor JC. Transgender patient satisfaction following reduction mammaplasty. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2009 Mar;62(3):331-4.

2. Colic MM, Colic MM. Circumareolar mastectomy in female-to-male transexuals and large gynecomastias: a personal approach. Aesthetic Plast Surg. 2000 Nov/Dez;24(6):450-4.

3. Takayagi S, Nakagawa C. Chest wall contouring for female-to-male transexuals. Aesthetic Plast Surg. 2006 Mar/Abr;30(2):206-213.

4.Hage JJ, Bloem JJ. Chest wall contouring for female-to-male transsexuals: Amsterdam experience. Ann Plast Surg. 1995 Jan;34(1):59-66.

5. Resende JHC. Técnica para correção de ptose mamária masculina pós-grandes emagrecimentos. Rev Bras Cir Plást. 2007;22(1):1-9.

6. Thorek M. Plastic reconstruction of the breast and free transplantation of the nipple. J Int Coll Surg. 1946 Mar/Abr;9:194-224.

7. Tanini S, Lo Russo G. Shape, position and dimension of the nipple areola complex in the ideal male chest: a quick and simple operating room technique. Aesth Plast Surg. 2018 Ago;42(4):951-7.

8. Antoszewski B, Bratos R, Sitek A, Fijalkowska M. Long-term results of breast reduction in female-to-male transsexuals. Pol Przegl Chir. 2012 Mar;84(3):144-51.

Palavras Chave

adenomascteomia masculinizadora; cicatriz; Satisfação

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital Geral de Goiania - Goiás - Brasil

Autores

CAROLINA GABRIELA DE FARIA, YURI KOSSA BARBOSA, JOAOZINEI FRANCISCO DA ROCHA, RENAN MIRANDA SANTANA