Dados do Trabalho
Título
USO DO RETALHO INTEROSSEO POSTERIOR DO ANTEBRAÇO PARA TRATAMENTO CIRURGICO DE LESAO POR QUEIMADURA EM PUNHO: RELATO DE CASO
Resumo
Introdução: As lesões por queimadura elétrica de membros superiores com perda de substância são relativamente frequentes e a cirurgia plástica desempenha um papel essencial na sua reconstrução, procurando preservar a função do membro e obter o melhor resultado estético. Dentre as opções, o retalho interósseo posterior reverso do antebraço é bem indicado para defeitos no dorso da mão e punho, proporcionando boa cobertura, sem sacrificar as artérias vitais para a perfusão da mão, com reduzida morbidade na área doadora. Métodos: Trata-se de um caso de um paciente com queimadura elétrica de terceiro grau, em antebraço, punho e mão direita, cuja reconstrução foi realizada com o uso do retalho interósseo posterior reverso do antebraço, após desbridamentos seriados. O paciente apresentou boa evolução pós-operatória e encontra-se em reabilitação fisioterapêutica para melhorar a motricidade da mão direita. Conclusão: O retalho da artéria interóssea posterior apresenta boa cobertura para lesões graves do terço distal do membro superior, promovendo cobertura estável e segura, não sacrificando as artérias principais para irrigação da mão. Portanto, é opção válida em casos como o descrito.
Introdução
O retalho da artéria interóssea posterior é um retalho em ilha pediculado, fasciocutâneo, com suprimento proveniente da artéria interóssea posterior1.
Desde sua primeira descrição em 1988 por Zancolli e Angrigiani, o retalho interósseo posterior é
uma das opções para reconstrução de mão e punho2. Como retalho fasciocutâneo tipo B de acordo com
a classificação de Lamberty e Cormack; não sacrifica as principais artérias de a mão, as artérias radiais e ulnar; e esta é provavelmente sua maior vantagem3.
Constitui um retalho esteticamente favorável, no entanto exige uma disseção cuidadosa, de forma a evitar a lesão do nervo interósseo posterior e consequente perda da função de extensão da mão e dos dedos e de supinação2. Apesar da técnica cirúrgica ter evoluído nos últimos anos, a congestão venosa pós-operatória continua sendo uma importante complicação deste retalho3.
A torção do pedículo vascular pode levar à necrose do retalho, que constitui outra possível complicação do retalho interósseo posterior, o que requer atenção redobrada durante sua fixação. Além disso, os ramos perfurantes ao serem manipulados, podem gerar vasoespasmo, o que pode causar trombose do ramo perfurante4.
Objetivo
Ressaltar a importância da inclusão do retalho interósseo posterior reverso do antebraço na gama de conhecimentos do cirurgião plástico, para cobertura de lesões do punho e palma da mão. Uma vez que, apresenta diversas vantagens como o procedimento ser realizado em um único estágio, a ausência de dependência da mão como visto em retalhos à distância, a restrição da deformidade do sítio doador à extremidade envolvida e, o retorno da mobilização e reabilitação precoces.
Além disso, o fato de não necessitar de anastomose microvascular, ser de fácil preparo e não sacrificar as artérias principais para irrigação da mão.
Método
Paciente do sexo masculino, 16 anos, hígido, testemunha de Jeová, deu entrada em Unidade de Pronto Atendimento em Niterói em janeiro de 2023, cerca de 30 minutos após sofrer queimadura elétrica, causada por contato de objeto metálico em rede elétrica de alta tensão. Após medidas iniciais de atendimento ao politraumatizado, foi realizada fasciotomia anterior e posterior de antebraço e dorso de mão direita. Somente no quarto dia após o acidente, foi encaminhado ao Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Federal do Andaraí.
Apresentava 4% da superfície corporal queimada, acometendo: a palma da mão direita (Figuras 1A), ponto de entrada; antebraço e cotovelo direito, ponto de saída (Figura 1B); todas de terceiro grau.
Após admissão no CTQ, paciente foi submetido a desbridamentos cirúrgicos seriados das áreas de queimadura, além de sessões de curativo por pressão negativa e de sutura elástica para orientação da cicatrização e redução de área cruenta em face ulnar do antebraço (Figura 2).
Devido área de exposição tendínea em punho, optou-se pela realização de um retalho interósseo posterior reverso do antebraço direito do tipo peninsular, na 4º semana após o trauma (Figuras 3, 4).
O retalho dissecado permitiu cobertura adequada da lesão do punho, e houve fechamento primário da área doadora; demais áreas cruentas receberam enxerto de pele parcial proveniente de coxa direita. No pós-operatório, o retalho interósseo permaneceu viável, porém com pequena área de epidermólise, que manejada com tratamento conservador.
Resultado
No pós-operatório, seguiu-se o acompanhamento intensivo junto a paciente, com discussão clínica diária sobre o quadro e planejamento de condutas.
Paciente recebeu alta após longo período de hospitalização e se encontra com lesões cicatrizadas (Figura 5A, 5B), em fase de reabilitação fisioterapêutica para melhora da mobilidade de mão direita.
Discussão
As lesões que acometem a mão são desafiadoras para o cirurgião plástico. Danos ao tecido mole sobrejacente resultam em exposição de tendão, osso, músculos e estruturas neurovasculares que quando expostas, infectam e podem sofrer necrose5. Desta maneira, a cobertura precoce é importante. Existem várias alternativas disponíveis para reconstruir os defeitos dos membros superiores, desde procedimentos simples, como enxerto dermoepidérmico, até procedimentos mais complexos, como os retalhos6. Várias vantagens relacionadas aos retalhos regionais do antebraço os tornam uma opção preferível. As vantagens incluem o procedimento ser realizado em um único estágio, a ausência de dependência da mão como visto em retalhos à distância, a restrição da deformidade do sítio doador à extremidade envolvida e, o retorno da mobilização e reabilitação precoces7.
Os retalhos de fluxo reverso como o interósseo dorsal, ainda apresentam algumas vantagens em relação as demais, como o fato de não necessitarem de anastomose microvascular, serem de fácil preparo e não sacrificar as artérias principais para irrigação da mão.
Conclusão
Desta maneira, concluímos que o retalho interósseo posterior do antebraço reverso constitui uma boa opção de tratamento de lesões profundas do punho, assim como da palma da mão, permitindo cobertura satisfatória8,9.
Referências
1. LOBATO, Rodolfo Costa et al. Retalho interósseo posterior reverso do antebraço para o tratamento cirúrgico do trauma elétrico da mão: relato de caso. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 34, p. 423-427, 2023
2. Ortopedia Traumatologia. CEP, v. 89, p. 00
3. .PENTEADO, C. V.; MASQUELET, A. C.; CHEVREL, J. P. The anatomic basis of the fascio-cutaneous flap of the posterior interosseous artery. Surgical and radiologic anatomy: SRA, v. 8, n. 4, p. 209-215, 1986.
4. CHEN, Hung-chi et al. Posterior interosseous flap and its variations for coverage of hand wounds. Journal of Trauma and Acute Care Surgery, v. 45, n. 3, p. 570-574, 1998.
5. BAYLAN, Joseph M. et al. Reverse posterior interosseous flap for defects of the dorsal ulnar wrist using previously burned and recently grafted skin. Burns, v. 42, n. 2, p. e24-e30, 2016.
6. EO, Su Rak et al. Revisiting the posterior interosseous artery flap. Archives of Hand and Microsurgery, v. 23, n. 3, p. 195-205, 2018.
7. AKDAĞ, Osman et al. Posterior interosseous flap versus reverse adipofascial radial forearm flap for soft tissue reconstruction of dorsal hand defects. Turkish Journal of Trauma & Emergency Surgery, 2018.
8. KHURRAM, Mohammed Fahud et al. Reverse posterior interosseous artery flap: a reliable, comfortable and versatile flap for coverage of soft tissue defects of hand. Journal of Wound Management and Research, v. 16, n. 2, p. 73-79, 2020.
9. REIS, Joana Carvalho. RETALHO INTERÓSSEO POSTERIOR NA RECONSTRUÇÃO DA MÃO. 2023. Dissertação de Mestrado.
Palavras Chave
queimadura; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Retalhos cirúrgicos.
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospital Federal do Andarai - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
VANESSA BAIOCO, CAMILA BRANCO LOBATO, MATHEUS RODOLFO CAMUZI, FELIPE EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS, VITOR PEREIRA SCARPETTE, RAMON LUCAS BONFIM DE AGUIAR