60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

EXPERIENCIA DO SERVIÇO DE CIRURGIA PLASTICA DA SANTA CASA DE PORTO ALEGRE COM RESSECÇOES DE LESOES CUTANEAS NO ANO DE 2023: UM ESTUDO DE COORTE

Resumo

O presente estudo sintetiza os dados da casuística de tumores de pele tratados pelo serviço de cirurgia plástica de um hospital terciário do sul do Brasil no ano de 2023.

Introdução

A ocorrência de tumores cutâneos é frequente na população mundial e apresenta etiologia variada, com destaque para as neoplasias malignas de pele não melanoma devido a sua alta prevalência e seu grande potencial de morbidade. Aliado a isso, a apresentação preferencial em áreas fotoexpostas como a face reforça a importância do cirurgião plástico participar do manejo desses pacientes com vistas a obtenção de bons resultados estéticos e funcionais.

Objetivo

O presente estudo visa à avaliação das cirurgias de exérese de lesões cutâneas realizadas pelo Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre no ano de 2023, com ênfase na identificação das características da população alvo, dos tipos de lesões mais frequentes, dos principais métodos usados para fechamento dos defeitos e das complicações pós-operatórias.

Método

Foram incluídos no estudo apenas pacientes operados sob anestesia local que tiveram seu procedimento realizado entre os meses de Fevereiro e Dezembro de 2023. Pacientes submetidos a anestesia geral ou sedação foram excluídos do estudo. Os dados dos pacientes, - assim como as informações referente a exames e pós-operatório - foram extraídos de prontuário eletrônico. Avaliou-se o número total de pacientes beneficiados pelas cirurgias e o número total de lesões. A idade representativa da amostra foi apresentada pela média aritmética e pelos valores extremos. As informações sobre sexo dos pacientes, características das lesões, métodos de fechamento e complicações pós-operatórias foram apresentadas através da porcentagem de ocorrência utilizando-se como denominador o número de pacientes ou o número de lesões, conforme conveniência. As complicações pós-operatórias consideradas foram sangramento, infecção de sítio cirúrgico, deiscência e necrose em qualquer grau.

Resultado

Durante o período analisado, 120 pacientes foram beneficiados com as cirurgias de exérese de tumores cutâneos, totalizando 189 lesões ressecadas. A idade média da população estudada foi de 65 anos (23 - 90), havendo uma leve predominância de pacientes do sexo masculino (52%). A maioria dos pacientes apresentava lesões únicas (82%) e localizadas em face (90%). No que se refere às características das lesões, 136 delas (72%) apresentavam comportamento maligno pela biópsia e 172 lesões (91%) foram consideradas de apresentação primária, enquanto 16 (8%) tratavam-se de recidivas. O método de fechamento das feridas operatórias preferencial foi o fechamento primário (60%), seguido por retalhos locais (21%) e enxertos de pele total (18%). Em relação aos resultados oncológicos obtidos, quando considerado apenas o tratamento de lesões malignas ou pré-malignas, 92% das ressecções apresentaram margens livres de neoplasia no exame anatomopatológico. A incidência de complicações pós-operatórias na população estudada foi de 17%. Quando considerada a incidência de complicações conforme cada técnica de fechamento de feridas, as enxertia de pele apresentaram incidência de 28%, enquanto os retalhos de 7% e os fechamentos primários de 4%.

FIGURA 1: Gráfico mostrando a proporção entre os sexos
FIGURA 2: Gráfico evidenciado a proporção de pacientes conforme a localização das lesões
FIGURA 3: Gráfico apresentando a distribuição das técnica de fechamento de ferida em relação ao total de lesões ressecadas
FIGURA 4: Gráfico apresentando o resultado oncológico das cirurgias de ressecção de neoplasias cutâneas malignas a partir da proporção de margens livres obtidas
FIGURA 5: Incidência das complicações consideradas conforme a técnica de fechamento

Discussão

Segundo dados do último levantamento de Sociedade Americana de Cirurgiões plásticos (ASPS) de 2022, a remoção de tumores foi o procedimento de caráter reconstrutivo mais realizado nesse período nos EUA¹, enquanto, no Brasil, estimativas do INCA colocam o câncer de pele não melanoma como o mais frequente no país, com expectativa de 220490 novos casos para cada ano do triênio 2023-2025 ². A diversidade de etiologias possíveis para neoplasias de pele torna vital a correta avaliação clínica para identificação de lesões com potencial risco de malignidade, sendo indispensável a realização de biópsia nos casos de diagnóstico incerto ³. As lesões de caráter benigno não demandam tratamento cirúrgico necessariamente e devem ter a indicação de exérese discutida com paciente baseada nas características histopatológicas, na sua localização e nos sintomas relatados pelos pacientes ⁴ ⁵. Por outro lado, as neoplasias malignas demandam tratamento precoce e têm a cirurgia como uma das principais modalidades terapêuticas ⁶ ⁷.
Na coorte de pacientes apresentadas neste trabalho, incluímos a grande maioria da exérese de tumores de pele realizadas no ano de 2023, uma vez que tais procedimentos são realizados com anestesia local na grande maioria dos casos, o que proporciona uma experiência confortável ao paciente e permite a realização de uma maior número de procedimento na nossa instituição. Além disso, evita-se os paraefeitos e riscos desnecessários de sedações e anestesias gerais e diminui-se as admissões e custos hospitalares ⁸. Em relação às características populacionais analisadas, identificamos a predominância de população idosa (apesar de grande variação dentro da amostra) e uma proporção próxima entre os sexos, o que mostrou-se similar a outras coortes de pacientes ⁹. A maior predominância de lesões malignas na nossa amostra está relacionada ao nível de atenção terciário em saúde, que absorve casos com diagnóstico suspeito ou comprovado de câncer de pele não melanoma e lesão nas quais a ressecção cirúrgica impõem desafios técnicos pelo potencial de sequelas funcionais e estéticas, especialmente quando localizadas em face.
O resultado oncológico obtido na ressecção de lesões malignas foi considerado satisfatória ao obter taxa de margens livres de cerca de 92% das ressecções realizadas, o que também foi similar a outros trabalhos descritos na literatura que evidenciaram a ocorrência de comprometimento de margens em 5 - 25% ⁹ ¹º ¹¹ ¹² ¹³ ¹⁴. As técnicas de fechamento de feridas refletem o conceito misto entre escada e elevador da reconstrução utilizada atualmente. Para a grande maioria dos casos, demos preferência para realização de fechamento primário quando este era tecnicamente factível e não apresentava risco de gerar sequelas funcionais e estéticas, o que justifica a predominância dessa técnica de reconstrução em 60% das lesões ressecadas. Por outro lado, a predominância da confecção de retalhos locais de pele sobre os enxertos é explicada pela melhor resultado estético e funcional daqueles em lesões faciais devido à similaridade de cor, textura e espessura da pele adjacente. Por fim, a incidência de complicações foi calculada sobre o número total de pacientes e não sobre o número total de lesões ressecadas, na medida em que a ocorrência do evento é clinicamente relevante quando considerado à nível individual. Nesse ínterim, a alta taxa das complicações parece estar relacionada à sua maior ocorrência no subgrupo dos enxertos de pele, os quais, na nossa amostra, apresentou incidência de 28% nas lesões em que usamos essa técnica para fechamento da ferida operatória, o que parece ser notavelmente maior que os valores encontrados para os fechamentos primários (4%) e para os retalhos locais (7%). No entanto, nosso estudo apresenta limitações metodológicas que limitam as inferências realizadas, uma vez que não foi realizado cálculo de espaço amostral, além de não serem realizadas análises estatísticas para validação das diferenças observadas como eventos não relacionados ao acaso.

Conclusão

Devido a sua alta incidência e potencial morbidade, os tumores cutâneos merecem um conhecimento aprofundado por parte do cirurgião plástico. Os dados apresentados neste trabalho permitem a identificação de características populacionais e das principais lesões cutâneas tratadas pelo Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre no ano de 2023 com vistas a melhoria da assistência prestada à população.

Referências

¹ 2022 ASPS Procedural Statistics Release. Plast Reconstr Surg. 2024 Jan 1;153(1S):1-24. doi: 10.1097/PRS.0000000000011235. Epub 2023 Dec 21. PMID: 38113105.
² Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa de 2023: Incidência do Câncer no Brasil. Disponível em: http://www.inca.gov.br
³ Luba MC, Bangs SA, Mohler AM, Stulberg DL. Common benign skin tumors. Am Fam Physician. 2003 Feb 15;67(4):729-38. PMID: 12613727.
⁴ Lee EH, Nehal KS, Disa JJ. Benign and premalignant skin lesions. Plast Reconstr Surg. 2010 May;125(5):188e-198e. doi: 10.1097/PRS.0b013e3181d6e89a. PMID: 20440130.
⁵ Ingraffea A. Benign skin neoplasms. Facial Plast Surg Clin North Am. 2013 Feb;21(1):21-32. doi: 10.1016/j.fsc.2012.11.002. PMID: 23369586.
⁶ Rogers-Vizena CR, Lalonde DH, Menick FJ, Bentz ML. Surgical treatment and reconstruction of nonmelanoma facial skin cancers. Plast Reconstr Surg. 2015 May;135(5):895e-908e. doi: 10.1097/PRS.0000000000001146. PMID: 25919272.
⁷ Netscher DT, Leong M, Orengo I, Yang D, Berg C, Krishnan B. Cutaneous malignancies: melanoma and nonmelanoma types. Plast Reconstr Surg. 2011 Mar;127(3):37e-56e. doi: 10.1097/PRS.0b013e318206352b. PMID: 21364382.
⁸ Joukhadar N, Lalonde D. How to Minimize the Pain of Local Anesthetic Injection for Wide Awake Surgery. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2021 Aug 4;9(8):e3730. doi: 10.1097/GOX.0000000000003730. PMID: 34367856; PMCID: PMC8337068.
⁹ Rodrigues EW, Moreira MR, Menegazzo PB. Análise do Tratamento do Carcinoma Basocelular. Rev. Bras. Cir. Plást.2014;29(4):504-510
¹º Gregorio TCR, Sbalchiero JC, Leal, PRA. Acompanhamento a longo prazo de carcinomas basocelulares com margens comprometidas. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2005;20(1):8-11.
¹¹ Eliezri YD, Cohen PR. Câncer recurrence following Mohs micrographic surgery: a mechanism of tumor persistence. Plast Reconstr Surg. 1992;90(1):121-5.
¹² Holmikvist K, Rogers G, Dahl P. A. Incidence of residual basal cell carcinoma in patients who appear free after biopsy. J Am Acad Dermatol. 2002;46(4):549-53.
¹³ Quintas RCS. Coutinho ALF. Fatores de risco para o comproetimento de margens cirúrgicas nas ressecções de carcinomas basocelular. Rev. Bras. Cir. Plást. 2008;23(2):116-19
¹⁴ Sbalchiero JC, Gregorio TCR, Leitão L, Leal, PRA, Dibe MJA. Conduta na reconstrução da Ponta Nasal no tratamento das neoplasias cutâneas. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2005;20(1):12-16.

Palavras Chave

Neoplasias cutâneas; tumores de pele;

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Santa Casa de Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil, UFCSPA - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

RICARDO VITIELLO SCHRAMM, FRANCINE RODRIGUES PHILIPPSEN, BETINA VESCOVI, MARIA LUIZA DOS SANTOS, HEITOR VIEIRA RODRIGUES, DENIS SOUTO VALENTE