Dados do Trabalho
Título
RELATO DE CASO: EVOLUÇAO E TRATAMENTO DE INFECÇAO EM PROTESE DE JOELHO COM RETALHO MUSCULAR E ENXERTO CUTANEO.
Resumo
A infecção periprotética é uma complicação devastadora da artroplastia total de joelho, especialmente em pacientes idosos. Este relato de caso descreve a evolução clínica e manejo terapêutico de uma paciente de 70 anos que desenvolveu infecção na prótese do joelho direito três meses após a cirurgia inicial. O tratamento incluiu antibioticoterapia, desbridamento cirúrgico com lavagem exaustiva da prótese e, após controle do foco infeccioso, retalho muscular com o músculo gastrocnêmio e enxerto cutâneo. Um mês após as intervenções, a paciente vem apresentando boa recuperação funcional e recuperação pós-operatória, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar e personalizada entre as equipes Ortopedia e Cirurgia Plástica no manejo de infecções de prótese especialmente em pacientes idosos.
Introdução
A artroplastia total de joelho (ATJ) é uma intervenção cirúrgica comum na atualidade como tratamento para casos de artropatia com grande perda funcional e/ou perda da qualidade de vida¹. Embora a ATJ tenha um alto índice de sucesso, complicações como infecções periprotéticas podem ocorrer e apresentam dificuldade de manejo, especialmente em pacientes idosos².
A taxa de infecção após ATJ varia entre 1% e 2%, e as consequências podem ser devastadoras, resultando em dor crônica, perda de função e necessidade de intervenções cirúrgicas adicionais³. A infecção periprotética é particularmente desafiadora devido à presença de biomateriais, que podem servir como locais de formação de biofilme4.
Os retalhos musculares pediculados e musculocutâneos ainda representam uma das principais técnicas para cobertura de defeitos do joelho, e são indicados especificamente para defeitos moles mais complexos com exposição articular e/ou protética. Os retalhos musculares obliteram o defeito tridimensional e fornecem um rico suprimento sanguíneo para a ferida, o que facilita a administração de antibióticos5.
Objetivo
O objetivo deste estudo é relatar a evolução clínica e o manejo terapêutico de uma paciente de 70 anos que desenvolveu infecção na prótese de joelho direito, destacando as intervenções realizadas e os resultados alcançados.
Método
Foi realizada uma análise retrospectiva do prontuário médico de uma paciente de 70 anos submetida à colocação de prótese no joelho direito. Dados coletados incluíram informações sobre a cirurgia inicial, evolução clínica, intervenções terapêuticas, resultados de exames laboratoriais e de imagem, e seguimento pós-operatório. A paciente foi acompanhada por uma equipe multidisciplinar composta por ortopedistas, infectologistas e cirurgiões plásticos.
A paciente foi submetida a ATJ devido a artrite degenerativa severa. A cirurgia foi realizada sem complicações imediatas, e a paciente teve alta hospitalar após uma recuperação inicial satisfatória. Três meses após a cirurgia, a paciente apresentou sinais de infecção, incluindo dor intensa, edema, eritema e secreção purulenta na região do joelho operado.
O manejo inicial incluiu antibioticoterapia intravenosa empírica durante internação hospitalar. A paciente também foi submetida a desbridamento cirúrgico para remover tecido infectado e necrosado. Apesar dessas intervenções, a infecção persistiu, necessitando de uma abordagem conjunta com a equipe de cirurgia plástica.
Resultado
Após o desbridamento inicial e antibioticoterapia, a paciente continuou a apresentar sinais de infecção persistente, incluindo febre baixa, aumento da dor e secreção contínua. A decisão foi tomada para realizar um procedimento adicional envolvendo retalho muscular utilizando o músculo gastrocnêmio (Figura 1) e enxerto cutâneo (Figura 2) para cobrir a área infectada e melhorar a vascularização local.
O retalho muscular foi realizado com sucesso, e um enxerto cutâneo foi aplicado para cobrir o defeito resultante. A paciente foi monitorada de perto no período pós-operatório, com cuidados meticulosos para evitar novas infecções. Um mês após a intervenção (Figura 3), a paciente apresentou uma boa evolução clínica, com controle da infecção e recuperação funcional satisfatória do joelho, sem sinais de recorrência.
Discussão
A infecção periprotética é uma complicação devastadora que requer uma abordagem multidisciplinar e precisa para ser tratada com sucesso. Em pacientes idosos, o desafio é ainda maior devido a fatores como comorbidades, fragilidade e menor capacidade de recuperação6. No caso apresentado, a infecção persistente após a antibioticoterapia e desbridamento inicial exigiu uma abordagem mais complexa.
O uso de retalho muscular com o músculo gastrocnêmio e enxerto cutâneo foi crucial para o controle da infecção. Esta técnica permite uma cobertura adequada da prótese, melhorando a vascularização local e promovendo a cicatrização.
Além disso, a abordagem multidisciplinar foi essencial para o sucesso do tratamento. A colaboração entre ortopedistas, infectologistas e cirurgiões plásticos permitiu um manejo mais eficaz da infecção, com intervenções bem coordenadas e personalizadas para as necessidades da paciente.
Conclusão
O manejo da infecção em prótese de joelho em pacientes idosos é desafiador e requer uma abordagem multidisciplinar e individualizada. A combinação de antibioticoterapia, desbridamento cirúrgico e uso de retalho muscular com enxerto cutâneo mostrou-se eficaz no controle da infecção e recuperação funcional. Este estudo de caso destaca a importância de estratégias terapêuticas abrangentes e personalizadas no tratamento de infecções de prótese, especialmente em pacientes idosos, que são mais vulneráveis a complicações graves.
Referências
1. Parvizi J, Zmistowski B, Berbari EF, et al. New definition for periprosthetic joint infection: from the Workgroup of the Musculoskeletal Infection Society. Clin Orthop Relat Res. 2011;469(11):2992-2994.
2. Zimmerli W, Trampuz A, Ochsner PE. Prosthetic-joint infections. N Engl J Med. 2004;351(16):1645-1654.
3. Kamath AF, Ong KL, Lau E, et al. Quantifying the burden of revision total joint arthroplasty for periprosthetic infection. J Arthroplasty. 2015;30(9):1492-1497.
4. Tsukayama DT, Estrada R, Gustilo RB. Infection after total hip arthroplasty. A study of the treatment of one hundred and six infections. J Bone Joint Surg Am. 1996;78(4):512-523.
5. Deacon JS, Pagkalos J, Kapadia BH, et al. The Role of Muscle Flaps in Lower Limb Reconstruction Following Total Knee Arthroplasty. J Knee Surg. 2018;31(6):551-557.
6. Wu C, Qu X, Liu F, et al. Outcome of Debridement, Antibiotics, and Implant Retention for Periprosthetic Joint Infection of the Knee: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Arthroplasty. 2017;32(8):2733-2740.
Palavras Chave
Retalho de gastrocnêmio; Enxertos; Infecção do Sítio Cirúrgico
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospital das Forças Armadas de Brasília - Distrito Federal - Brasil
Autores
PEDRO VICTOR GOMES OLIVEIRA, ADILSON BORGES FARRAPEIRA JUNIOR, RAQUEL CRISTINA FUCHS, ANSELMO EMÍLIO TOMAIN, THIAGO EBERHARD DUTRA, CARLOS EDUARDO TEIXEIRA