60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

RELATO DE CASO: ULCERA DE MARJOLIN EM LESAO COM CORPO ESTRANHO DE AMIANTO - EXERESE E ENXERTIA

Resumo

Este relato de caso descreve o manejo de um paciente octogenário com uma úlcera crônica no membro inferior esquerdo, complicada por carcinoma espinocelular (CEC) bem diferenciado, desenvolvida em uma Úlcera de Marjolin. A úlcera surgiu em decorrência de um acidente de trabalho há 40 anos, que resultou na contaminação crônica por amianto. Em 2021, a lesão apresentou piora significativa, e uma biópsia em 2022 confirmou o diagnóstico de CEC. Em fevereiro de 2023, o paciente foi submetido a uma excisão completa do tecido neoplásico e remoção dos fragmentos de amianto, seguida de enxertia de pele em espessura total, com recuperação sem intercorrências.

Introdução

As Úlceras de Marjolin são lesões malignas que surgem em úlceras crônicas ou cicatrizes de longa data, frequentemente associadas ao carcinoma espinocelular (CEC). A exposição ao amianto é reconhecida como fator carcinogênico em cânceres pulmonares e mesoteliomas, mas sua relação com CEC cutâneo ainda carece de evidências robustas. O manejo dessas lesões é desafiador, especialmente em pacientes idosos com história prolongada de contaminação por amianto. Este caso visa discutir a complexidade e os desafios do tratamento cirúrgico de uma úlcera crônica complicada por CEC em um paciente exposto ao amianto.

Objetivo

Relatar e discutir o manejo cirúrgico de uma úlcera crônica complicada por CEC em um paciente octogenário com histórico de exposição ao amianto, destacando os desafios técnicos e as implicações clínicas.

Método

Paciente
- Idade: 80 anos
- Sexo: Masculino
- Histórico: Acidente de trabalho aos 40 anos resultando em trauma no membro inferior esquerdo e contaminação com fragmentos de telha de amianto.

Diagnóstico
- Histopatológico: Úlcera de Marjolin com CEC bem diferenciado, diagnosticado por biópsia em agosto de 2022.
- Evolução Clínica: Lesão crônica com piora significativa em 2021.

Procedimento Cirúrgico
- Datas: Fevereiro de 2023 e março de 2023
- Cirurgião: Dr. Freitas
- Técnica: Excisão completa do tecido neoplásico, remoção de fragmentos de amianto, exérese de planos profundos e enxertia de pele em espessura total em segundo ato operatório 3 semanas após. A área doadora foi o membro inferior contralateral.
- Resultado Operatório: Procedimento realizado sem intercorrências e recuperação pós-operatória sem complicações significativas.

Resultado

A cirurgia foi tecnicamente desafiadora devido à extensão e profundidade da lesão, bem como à presença de fragmentos de amianto de longa data. Na Figura 1, pode-se observar estado de cronicidade da lesão compatível com o desenvolvido da úlcera de Marjolin. Nota-se avançado estado de desenvolvimento da lesão carcinomatosa. O procedimento foi bem-sucedido, com exérese completa da neoplasia e remoção dos fragmentos de amianto. Na Figura 2, nota-se a extensa ressecção nos três ângulos anteriores de visualização. Na Figura 3, nota-se a peça retirada na exérese e, na mesma figura, a área ressecada após 3 semanas à direita, pronta para receber o enxerto de pele em espessura total. A Figura 4 mostra, também nas três visões anteriores, a grande área enxertada. A recuperação do paciente ocorreu sem intercorrências, e o seguimento pós-operatório indicou boa integração do enxerto e ausência de recidiva da lesão neoplásica. O paciente cedeu uma fotografia da lesão em pós-operatório tardio, um ano após (Figura 5).

Discussão

Este caso destaca a importância de uma abordagem multidisciplinar no manejo de úlceras crônicas com potencial maligno, especialmente em pacientes com histórico de exposição a agentes carcinogênicos como o amianto. A Úlcera de Marjolin é uma condição rara e agressiva, com alta taxa de transformação maligna em úlceras crônicas. O manejo cirúrgico dessas lesões requer excisão completa do tecido neoplásico e, frequentemente, remoção de tecido circundante para garantir margens livres de tumor. A enxertia de pele em espessura total é uma técnica eficaz para cobrir áreas extensas de exérese e promover a cicatrização adequada.

A relação entre a exposição ao amianto e o desenvolvimento de CEC cutâneo é um tópico que merece investigação adicional. Embora o amianto seja um carcinógeno conhecido para cânceres pulmonares e mesoteliomas, sua correlação com CEC cutâneo ainda não é bem estabelecida. Estudos futuros devem explorar essa possível associação, especialmente em países como o Brasil, onde o banimento do amianto ocorreu de forma tardia e a exposição ocupacional foi comum.

Conclusão

O manejo bem-sucedido de úlceras de Marjolin complicadas por CEC requer uma abordagem cirúrgica precisa e cuidados pós-operatórios meticulosos. A exposição a amianto em úlceras crônicas pode representar um fator de risco significativo para o desenvolvimento de malignidades cutâneas, justificando a necessidade de estudos adicionais para esclarecer essa correlação. Este caso ressalta a importância de protocolos de seguimento rigorosos para detectar precocemente quaisquer sinais de recidiva neoplásica.

Referências

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Palavras Chave

Carcinoma espinocelular; tumor de partes moles; Enxertia de pele.

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

YURI BELLO SIMOES, LEONARDO FONSECA LIMA PINHEIRO FREITAS, MICHELLE GONÇALVES MAUÉS