60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ACIDENTE POR MORDEDURA DE ANIMAL DOMESTICO - RELATO DE CASOS

Resumo

O convívio com animais de estimação como os cachorros e gatos proporciona inúmeros benefícios psicológicos, fisiológicos e sociais aos seres humanos. Uma questão em voga nesse contexto é o aumento do risco de agressão à população humana pelos animais, além de possibilitar a transmissão de doenças. As lesões por mordeduras caninas e felinas representam uma parcela significativa dos atendimentos de emergência em ambientes hospitalares, suscitando grande preocupação devido à possibilidade de contágio de zoonoses, como a raiva, ao desenvolvimento de infecções secundárias, além da ocorrência de sequelas físicas e emocionais pelo resultado não estético dos lesões associadas.

Apresentamos 07 casos clínicos de mordedura de animal doméstico atendidos pelo Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica no ano 2023, seguindo um protocolo adequado, a fim de prevenir infecções e obter um prognóstico funcional e estético satisfatório para os pacientes.

Introdução

Lesões por mordedura de animal doméstico são uma causa evitável e a mais comum, de hospitalização relacionada a animais (1). O aumento do número de cães e gatos convivendo com os humanos na sociedade contemporânea também elevou a ocorrência de lesões por mordidas caninas ou felinas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estas estão entre as 12 principais causas de lesões não fatais no mundo. As mordidas por animais domésticos podem gerar lacerações graves, avulsão de tecidos e fraturas ósseas pela força da mordida (2). Os danos causados por mordidas prolongadas aumentam a possibilidade de necrose tecidual local e avulsão, podendo eventualmente resultar em defeitos teciduais que prejudicam gravemente a qualidade de vida dos pacientes pelo acometimento funcional e estético, sendo necessário enxertia ou até confecção de retalhos (3).

Objetivo

O objetivo deste trabalho é relatar uma série de casos de mordedura por animal doméstico discutindo a apresentação clínica e a importância do tratamento do cirurgião plástico para obter o melhor resultado funcional e estético.

Método

Reportar 07 casos de mordedura por animal doméstico atendidos pelo Serviço do Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica durante o ano de 2023 e 2024.

Resultado

Caso 1: PHSO, 6 anos, mordida por cão.

Caso 2: VRDC 40 anos, mordida por gato

Caso 3: JEOR 19 Anos, mordida por cão

Caso 4: GOC, 3 anos de idade, mordida por cão.

Caso 5: LSR, 8 anos de idade, mordida por cão

Discussão

A mordida de cachorro é de longe a mordida de animal mais frequente (80-90%) dos casos, seguida pela mordida de gato (20%) e mordidas de animais selvagens, roedores e outros animais de estimação (1–2%) (4). As crianças apresentam mais frequentemente mordidas de cães na cabeça e pescoço, e adolescentes e adultos geralmente apresentam mordidas de cães nas extremidades e nas mãos (5).

O tratamento padrão para os acidentes por mordedura por animal doméstico envolve sutura direta, enxerto ou retalhos locais, dependendo do tipo de ferida e da preferência do cirurgião, independente do tempo decorrido do acidente. As feridas por esmagamento são difíceis de tratar porque os danos aos tecidos são muitas vezes tão profundos que a amputação é inevitável. O manejo de mordidas de animais domésticos envolve uma abordagem múltipla. Em primeiro lugar, o tratamento eficaz das feridas é essencial para reduzir o risco de infecção e promover uma cicatrização ideal. Isto inclui a irrigação, desbridamento, avaliação dos danos aos tecidos e a decisão sobre o fechamento primário versus cicatrização por segunda intenção, sendo que a preferência nas lesões em face é o fechamento primário. Além disso, a profilaxia do tétano e o uso de antibióticos podem ser necessários. O papel da profilaxia da raiva também é crucial, especialmente em regiões endêmicas ou após mordidas de animais de alto risco. Uma estratégia-chave de prevenção é a educação sobre a linguagem corporal e o comportamento dos animais. Ensinar a reconhecer sinais de medo ou agressividade nos animais para identificar situações potencialmente arriscadas e a tomar as medidas adequadas, como procurar a supervisão de um adulto no caso das crianças ou evitar o contato (4, 6).

Os cães têm dentes e mandíbulas fortes, porém em feridas de mordedura canina podem ser observadas feridas graves em músculos, nervos, veias, artérias, ossos, tecidos profundos. Além das graves perdas anatômicas, funcionais e estéticas que ocorrem como resultado de ataques de cães (7). Os gatos têm dentes muito afiados que penetram nos tecidos moles e alcançam estruturas profundas, como bainhas de tendões, articulações e ossos. A região anatômica mais afetada é a mão junto com a face. Lesões por mordidas de gato podem afetar significativamente a função e a estética do paciente (8).

Os casos atendidos pela equipe do Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica durante os anos 2023 e 2024 foram na sua totalidade em face, sendo principalmente na região dos lábios, sendo conseguido uma melhora funcional e estética importante após o tratamento cirúrgico, sendo realizado em todos os casos o fechamento cirúrgico primário e antibioticoterapia.

Em geral, como a cabeça, assim como o pescoço são partes vulneráveis ​​do corpo, estão principalmente envolvidos nas mordidas, o manejo médico e cirúrgico das mordidas faciais constitui uma emergência infecciosa, funcional e estética que requer cirurgiões especializados (9). As complicações da lesão facial são pouco frequentes, sendo aproximadamente 15% do total dos casos e incluíram infecção de tecidos moles e cicatriz proeminente (10).

Conclusão

O manejo eficaz de mordidas de animais é um desafio multifacetado que requer uma abordagem abrangente. Isso inclui o tratamento adequado das feridas, avaliação do estado de vacinação contra o tétano, antibióticos profiláticos quando necessário e a administração imediata de profilaxia anti-rábica em casos de alto risco. A intervenção da cirurgia plástica procurando obter um resultado estético contribui para evitar danos psicológicos e funcionais, como no caso dos pacientes com mordida por animal doméstico atendidos pelo Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica nos anos 2023 e 2024, com acometimento em face e com melhora importante tanto estética quanto funcional após o tratamento cirúrgico.

Para reduzir a incidência de mordidas de animais, a ênfase deve estar na prevenção. Ensinar as crianças, principalmente, a interpretar a linguagem corporal dos animais e promover práticas responsáveis ​​de posse de animais de estimação, como treinamento adequado, socialização e vacinação, podem ajudar a minimizar o risco. Pesquisas futuras que explorem novas modalidades de tratamento, como agentes antimicrobianos tópicos e sistemas de liberação sustentada de medicamentos podem oferecer avanços no tratamento de feridas e redução do risco de complicações. Além disso, a implementação de regulamentos e a aplicação de leis sobre coleiras em espaços públicos, bem como a conservação da vida selvagem, podem ajudar a prevenir interações entre crianças e animais.

Referências

1. Briotti DJ, Cransberg DJ, Chidambaram DR, Nasim DS. A two-year retrospective cohort study investigating the occurrence and short-term outcomes of dog-bite injures in regional Western Australia. Injury. 2024 Jun;55(6):111588. doi: 10.1016/j.injury.2024.111588. Epub 2024 Apr 25. PMID: 38718712.

2. Huang D, Jia W, Li K, Liu Z, Liu L. Establishment of an Animal Model of Dog Bite Injuries. Int J Med Sci. 2024 Mar 31;21(5):958-964. doi: 10.7150/ijms.94432. PMID: 38617003; PMCID: PMC11008484.

3. Kelly SKM, Hoffman GR. The K9-Teen Pandemic: When Good Boy Goes Bad. The Epidemiology, Management and Public Health Ramifications of Facial Dog Bite Injuries: Newcastle, Australia, Experience. Craniomaxillofac Trauma Reconstr. 2024 Mar;17(1):47-55. doi: 10.1177/19433875231161941. Epub 2023 Mar 7. PMID: 38371213; PMCID: PMC10874210.

4. Septelici D, Carbone G, Cipri A, Esposito S. Management Strategies for Common Animal Bites in Pediatrics: A Narrative Review on the Latest Progress. Microorganisms. 2024 May 1;12(5):924. doi: 10.3390/microorganisms12050924. PMID: 38792754; PMCID: PMC11124134.

5. Ortiz DD, Lezcano FO. Dog and Cat Bites: Rapid Evidence Review. Am Fam Physician. 2023 Nov;108(5):501-505. PMID: 37983702.

6. Nehru S, Thangaraju P, Cibee N, Velmurugan H. Dog Bite Injury: Rusk Became a Risk - A Case Report. Infect Disord Drug Targets. 2024 Jan 25. doi: 10.2174/0118715265277314231211045515. Epub ahead of print. PMID: 38279737.

7. Vural T, Erbaş M, Karaca Baysal I. Medical and legal evaluation of injuries due to dog bites: a Türkiye study. Ulus Travma Acil Cerrahi Derg. 2024 Jan;30(1):43-49. doi: 10.14744/tjtes.2024.77550. PMID: 38226579; PMCID: PMC10977485.

8. Wangler S, Elias M, Schoepke L, Merky DN, Meier R, Vögelin E. Cat bite injuries to the hand and forearm: the impact of antibiotic treatment on microbiological findings and clinical outcome. Arch Orthop Trauma Surg. 2024 May;144(5):2443-2447. doi: 10.1007/s00402-024-05277-7. Epub 2024 Mar 28. PMID: 38546860; PMCID: PMC11093789.

9. Rohee-Traore A, Kahn A, Khonsari RH, Pham-Dang N, Majoufre-Lefebvre C, Meyer C, Ferri J, Trost O, Poisbleau D, Kimakhe J, Rougeot A, Moret A, Prevost R, Toure G, Hachani M, DeBoutray M, Laure B, Joly A, Kün-Darbois JD. Facial dog bites in children: A public health problem highlighted by COVID-19 lockdown. J Stomatol Oral Maxillofac Surg. 2024 Apr;125(2):101671. doi: 10.1016/j.jormas.2023.101671. Epub 2023 Oct 28. PMID: 37898301.

10. Becerra CMC, Hodge DO, Bradley EA. Incidence and Characteristics of Facial and Ophthalmic Injuries From Domestic Mammal Bites: Parts of the data in the manuscript were presented at the American Academy of Ophthalmology Annual Meeting, 2022. Am J Ophthalmol. 2023 Aug;252:164-169. doi: 10.1016/j.ajo.2023.03.035. Epub 2023 Apr 6. PMID: 37030493; PMCID: PMC10758302.

Palavras Chave

mordedura canina; mordedura felina; cirurgia plástica

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

INSTITUTO BRASILEIRO DE CIRURGIA PLÁSTICA - São Paulo - Brasil

Autores

ADDLER STEVE QUEZADA PALACIOS, JAVÉ OLIVEIRA VALDEVIÑO, ISABELLA MARTINS MORO, NATHALIA CRISTINA SANTOS STUCCHI FERREIRA, DANIELE PEREIRA BRANQUINHO, JOSE ARIMATEIA MENDES