60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

QUALIDADE DE VIDA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO ATENDIMENTO AO PACIENTE COM QUEIMADURA

Resumo

Introdução: Analisando a literatura, fica evidente que a rotina de trabalho nas Unidades de Tratamento de Queimaduras (UTQ) é estressante. Dentre os principais fatores está a constante percepção da dor do outro, tanto física quanto psicológica, durante um tratamento longo que requer esforço excessivo do paciente, da equipe e dos familiares. O estresse envolvido no trabalho pode ter diversos efeitos negativos na vida dos profissionais, tais como depressão e ansiedade, refletindo na qualidade do cuidado prestado. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida da equipe multidisciplinar que atua na UTQ do HU/HSP. Método: Trata-se de um estudo individual, observacional, transversal e analítico. Foram aplicados três questionários: o Medical Outcomes Study-Item Short Form Health Survey (SF-36), para uma visão geral da qualidade de vida (QV), o Total Quality of Work Life (TQWL-42), para analisar a QV e satisfação no trabalho, e o Brief Symptom Inventory 18 (BSI-18), para avaliar os sintomas psicossomáticos apresentados pelos participantes. Resultados: Foram obtidas respostas de 44 profissionais da equipe multidisciplinar da UTQ, do qual foi possível identificar uma correlação significativa entre “enfermagem” e pior valor no aspecto feedback [X²(2)=9,159; p<0,05]; “médicos atendentes” e pior valor no aspecto da autonomia [X²(2)=12,001; p<0,05], e “médicos residentes” com pior valor para os recursos financeiros [X²(2)=8,922; p<0,05]. Quando comparados com o índice geral de gravidade de estresse (IG) dado pelo BSI-18, esses mesmos dados fornecidos pelo TQWL-42 demonstraram que os aspectos disposição física e mental (ρ= -0,472; p<0,05), autoestima (ρ= -0,448; p<0,01), benefícios extras (ρ= -0,343; p<0,05), jornada de trabalho (ρ= -0,329; p<0,05) e autoavaliação da QV (ρ= -0,464; p<0,01) apresentam correlação negativa e moderada com o estresse (IG). Discussão: A qualidade de vida e o desempenho dos profissionais da equipe multidisciplinar da Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) são significativamente impactados pelos desafios inerentes ao trabalho. A demanda constante por comunicação efetiva, os conflitos frequentes no ambiente de trabalho e a exposição contínua à dor e ao trauma dos pacientes são fontes substanciais de estresse. Os resultados revelam que os profissionais de enfermagem e médicos residentes enfrentam limitações emocionais mais pronunciadas. A supressão emocional, frequentemente necessária para a execução dos procedimentos dolorosos, contribui para um desgaste físico e social considerável. Com base nos dados apresentados, algumas propostas de intervenção incluem a implementação de programas de suporte psicológico contínuo, visando ajudar os profissionais a gerenciar o estresse e as emoções associadas ao trabalho na UTQ. Além disso, oferecer treinamentos focados no manejo do estresse, técnicas de comunicação e resiliência emocional pode capacitar a equipe a lidar melhor com as demandas emocionais. Melhorias no ambiente de trabalho, como ajustes na carga de trabalho e aprimoramento das condições físicas, são essenciais para minimizar o estresse. Desenvolver ações de reconhecimento e valorização dos esforços dos profissionais promoverá um ambiente de trabalho mais positivo e motivador. Por fim, criar e implementar políticas de equidade de gênero que abordem especificamente as necessidades e desafios enfrentados pelas mulheres na UTQ é crucial para promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo. Conclusão: Os profissionais da equipe multidisciplinar da UTQ HU/HSP enfrentam desafios significativos que afetam profundamente sua qualidade de vida e desempenho no trabalho, devido à demanda constante por comunicação eficaz, conflitos no ambiente de trabalho e exposição contínua à dor e ao trauma dos pacientes, gerando altos níveis de estresse. Propostas de melhoria no ambiente de trabalho e políticas de equidade de gênero, são essenciais para criar um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável.

Introdução

A realidade vivida por uma vítima de queimaduras é traumática, e lidar com ela representa um dos maiores desafios para uma equipe de saúde. O tratamento envolve uma ampla gama de procedimentos médicos e cirúrgicos, abordando questões psicológicas como trauma, separação, risco de morte, dor crônica, cirurgias repetitivas e prolongada hospitalização até a reabilitação. Esses procedimentos dolorosos são executados pela equipe multidisciplinar visando a melhor recuperação do paciente.A carga de dor física e psicológica envolvida no cuidado de pacientes com queimaduras afeta diretamente médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais, tornando a rotina de trabalho estressante, pois a dor da queimadura é terrível para quem a sente e estressante para quem cuida. É inegável o impacto que o cuidado em uma Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) tem na qualidade de vida da equipe envolvida. A constante percepção da dor alheia, tanto física quanto psicológica, durante um tratamento longo que exige esforço excessivo do paciente, da equipe e dos familiares, é um dos principais fatores de estresse. Esse estresse pode levar a diversos efeitos negativos na vida dos profissionais, como depressão e ansiedade, refletindo na qualidade do cuidado prestado. No entanto, esses efeitos e seus impactos na qualidade de vida e na satisfação no trabalho foram pouco explorados em equipes multidisciplinares.

Objetivo

Avaliar a qualidade de vida dos profissionais da equipe multidisciplinar que atuam no atendimento a pacientes com queimadura na Unidade de Tratamento de Queimaduras da EPM/UNIFESP/HU/HSP.

Método

Trata-se de um estudo observacional, transversal e analítico, aprovado pelo CEP UNIFESP (CAAE: 34402620.5.0000.5505). O trabalho incluiu profissionais que trabalham na UTQ do HU/HSP e médicos residentes da cirurgia plástica do primeiro ano da UNIFESP e excluiu profissionais de outras unidades. Foram aplicados três questionários: o Medical Outcomes Study-Item Short Form Health Survey (SF-36), para uma visão geral da qualidade de vida (QV), o Total Quality of Work Life (TQWL-42), para analisar a QV e satisfação no trabalho, e o Brief Symptom Inventory 18 (BSI-18), para avaliar os sintomas psicossomáticos apresentados pelos participantes. A análise descritiva da amostra foi avaliada pelos parâmetros de sexo, idade e categoria profissional (dividida em “médicos atendentes”, “médicos residentes”, “enfermagem” que inclui técnicos de enfermagem e enfermeiros, e “outras” incluindo fisioterapeutas, assistente social e nutricionista). Além disso, foi realizada a análise descritiva das respostas coletadas de cada um dos escores dos questionários, incluindo dados da média, desvio padrão, valores máximos e mínimos.

Resultado

Foram obtidas respostas de 44 profissionais da equipe multidisciplinar da UTQ. Para uma análise mais específica, esses profissionais foram divididos em 4 categorias: médicos atendentes (9 pessoas – 20,5%), médicos residentes (11 pessoas – 25%), enfermagem (incluindo enfermeiros e técnicos de enfermagem) (18 pessoas – 40,9%) e outras (fisioterapeutas, nutricionista, escriturário e assistente social) (6 pessoas – 13,6%).
Comparando as diferentes categorias profissionais quanto aos dados obtidos sobre aspectos da qualidade de vida no trabalho, através do questionário TQWL-42, foi possível identificar uma correlação significativa entre “enfermagem” e pior valor no aspecto feedback [X²(2)=9,159; p<0,05]; “médicos atendentes” e pior valor no aspecto da autonomia [X²(2)=12,001; p<0,05], e “médicos residentes” com pior valor para os recursos financeiros [X²(2)=8,922; p<0,05]. Quando comparados com o índice geral de gravidade de estresse (IG) dado pelo BSI-18, esses mesmos dados fornecidos pelo TQWL-42 demonstraram que os aspectos disposição física e mental (ρ= -0,472; p<0,05), autoestima (ρ= -0,448; p<0,01), benefícios extras (ρ= -0,343; p<0,05), jornada de trabalho (ρ= -0,329; p<0,05) e autoavaliação da QV (ρ= -0,464; p<0,01) apresentam correlação negativa e moderada com o estresse (IG). Já a análise correlacionada dos resultados obtidos no TQWL-42 e BSI-18 com o sexo dos profissionais, mostra que o sexo feminino teve efeito negativo sobre os aspectos de serviços de saúde e assistência (U= 132,500; p<0,05) e de desenvolvimento pessoal e profissional (U= 151,500; p<0,05) porém não teve efeito sobre o índice geral de estresse (U= 219,000; p>0,05).

Discussão

A qualidade de vida e o desempenho dos profissionais da equipe multidisciplinar da Unidade de Tratamento de Queimaduras (UTQ) são significativamente impactados pelos desafios inerentes ao trabalho. A demanda constante por comunicação efetiva, os conflitos frequentes no ambiente de trabalho e a exposição contínua à dor e ao trauma dos pacientes são fontes substanciais de estresse.

Os resultados revelam que os profissionais de enfermagem e médicos residentes enfrentam limitações emocionais mais pronunciadas. A supressão emocional, frequentemente necessária para a execução dos procedimentos dolorosos, contribui para um desgaste físico e social considerável. Esse fenômeno não apenas compromete a saúde dos cuidadores, mas também pode afetar a qualidade do cuidado prestado aos pacientes.
As mulheres apresentam piores índices em aspectos relacionados aos serviços de saúde, assistência e desenvolvimento pessoal e profissional. Esse dado sugere que políticas e programas específicos podem ser necessários para abordar essas disparidades e fornece suporte adequado a todas os profissionais.

O maior nível de estresse está associado a uma pior qualidade de vida e menor satisfação no trabalho, conforme medido pelo BSI-18. Profissionais com altos níveis de estresse tendem a apresentar disposição física e mental reduzida, autoestima abalada e menor satisfação geral no trabalho.

Com base nos dados apresentados, algumas propostas de intervenção incluem a implementação de programas de suporte psicológico contínuo, visando ajudar os profissionais a gerenciar o estresse e as emoções associadas ao trabalho na UTQ. Além disso, oferecer treinamentos focados no manejo do estresse, técnicas de comunicação e resiliência emocional pode capacitar a equipe a lidar melhor com as demandas emocionais. Melhorias no ambiente de trabalho, como ajustes na carga de trabalho e aprimoramento das condições físicas, são essenciais para minimizar o estresse. Desenvolver ações de reconhecimento e valorização dos esforços dos profissionais promoverá um ambiente de trabalho mais positivo e motivador. Por fim, criar e implementar políticas de equidade de gênero que abordem especificamente as necessidades e desafios enfrentados pelas mulheres na UTQ é crucial para promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo.

Conclusão

Os profissionais da equipe multidisciplinar da UTQ HU/HSP enfrentam desafios significativos que afetam profundamente sua qualidade de vida e desempenho no trabalho, devido à demanda constante por comunicação eficaz, conflitos no ambiente de trabalho e exposição contínua à dor e ao trauma dos pacientes, gerando altos níveis de estresse. Esse estresse é especialmente pronunciado entre profissionais de enfermagem e médicos residentes, impactando negativamente a qualidade de vida e a satisfação no trabalho. As disparidades de gênero, com mulheres apresentando piores índices, destacam a necessidade de políticas específicas. Propostas de melhoria no ambiente de trabalho e políticas de equidade de gênero, são essenciais para criar um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável. A implementação dessas medidas pode reduzir significativamente o estresse, melhorar a qualidade de vida dos profissionais e, consequentemente, a qualidade do cuidado prestado aos pacientes com queimaduras, garantindo o bem-estar dos profissionais da e a eficácia do tratamento oferecido.

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Palavras Chave

Qualidade de vida; Unidade de Queimados; Saúde do Trabalhador

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

UNIFESP - São Paulo - Brasil

Autores

RAPHAEL BRITO DE ALMEIDA DUTRA, THATIANY DA SILVA LIMA, GIOVANNA PELLEGRINO ZORZETTO, MARILIA FONSECA BAENINGER, ALFREDO GRAGNANI FILHO