60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

RETALHO BIPEDICULADO DE TRIPIER NA CORREÇAO DE ECTROPIO APOS RESSECCAO DE CBC: RELATO DE CASO.

Resumo

Introdução: Ectrópio é o quadro de eversão da margem palpebral superior ou inferior. Pode ser classificado em congênito ou adquirido (involucional, cicatricial, paralítico ou mecânico). O involucional é o mais comum gerado pela frouxidão dos tendões cantais. O cicatricial associado a qualquer condição que gere retração tecidual. O mecânico é mais comumente gerado por tumores. O paralítico é devido a perda do tônus da musculatura orbicular inervara pelo VII par craniano. Várias técnicas foram descritas e neste estudo vamos relatar o caso de um paciente com quadro de ectrópio cicatricial que foi submetido a correção deste defeito com a rotação do retalho miocutâneo local bipediculado (Tripier). Discussão: O termo Ectrópio se refere ao afastamento da margem palpebral da conjuntiva Bulbar, podendo gerar irritação ocular, prurido, epífora, vermilhidão. As lamelas são as estruturas responsáveis pela sustentação palpebral, e quando sofrem alteração estrutural, podem dar origem a esta alteração. A etiopatogenia é multifatorial e o tratamento cirúrgico tem se apresentando como única opção resolutiva. O ectrópio involucional é gerado pela contração dos tecidos palpebrais. Já o ectrópio cicatricial é gerado pela a contração dos tecidos. As opções cirúrgicas incluem o Tarsal Strip, enxertos cutâneos e retalhos locais, uni ou bipediculados. Os retalhos locais de pálpebras superiores, apresentam superiores na reconstrução palpebral devido à semelhança da espessura, tonalidade da pele e baixa morbidade da área doadora. Neste relato trazido, apresentou excelente resultado a curto prazo com a utilização de retalho miocutaneo local periocular na correção do ectrópio inferior. Conclusão: A correção palpebral inferior com a utilização de retalho miocutâneo local de Tripier, demonstrou excelente resultado estético e funcional, não trazendo qualquer prejuízo a área doadora, além de preservar a semelhança de espessura, textura e cor de pele entre as pálpebras.

Introdução

Ectrópio é o quadro de eversão da margem palpebral superior ou inferior, podendo gerar complicações oculares como epífora, conjuntivite crônica, exposição e ressecamento conjuntival1. O ectrópio é classificado como congênito (primário ou secundário) e adquirido (involucional, cicatricial, paralítico ou mecânico)3. O mais comum é o involucional, gerado pela frouxidão palpebral horizontal dos tendões do cantais, sejam eles, medial e/ou lateral. O ectrópio cicatricial está associado a qualquer condição que gere retração e encurtamento palpebral durante o processo cicatricial, sejam elas, queimaduras, tumores, cirurgias prévias. O ectrópio mecânico é causado mais comumente por tumores que gerem espasmos na musculatura do orbicular. O ectrópio paralítico é devido a perda do tônus da musculatura do orbicular devido a paralisia do VII nervo craniano. Além disso, pode variar de leve a grave, esse quando apresentar eversão dos cílios e do ponto lacrimal, moderado nos casos em que a margem palpebral se apresenta afastada do globo ocular e por ultimo, o severo que apresenta exposição da conjuntiva tarsal2.
Várias técnicas foram descritas para o reparo do ectrópio inferiores, são elas, o Tarsal Strip descrito por Anderson em 19794, rotação de retalhos do terço médio da face, retalhos palpebrais superiores, retalho glabelar, retalho de Fricke, retalho de Tenzel, retalho de Horner, retalho de Tripier, dentre outros5,6.
Neste estudo, vamos relatar o caso de um paciente com quadro de ectrópio cicatricial palpebral inferior que foi submetido a rotação de um retalho miocutâneo local bipediculdo (retalho de Tripier) associado a reconstrução de lamela posterior com o uso de cartilagem de escafa ipsilateral.

Objetivo

O objetivo deste trabalho é relatar o tratamento do ectrópio cicatricial e defeito palpebral em um paciente utilizando o retalho de Tripier e uso de cartilagem de escafa para reconstrucao de lamela posterior.

Método

O estudo foi realizado com um paciente atendido pelo setor de cirurgia plástica do Araújo Jorge em Goiânia. O paciente foi operado no mesmo Serviço com a ressecção de tumor palpebral inferior a direita.
O Paciente realizou a reconstrução em primeiro tempo em unidade de origem com avanço de tecido local. Após realizou radioterapia devido a comprometimento de margens profundas.
Paciente apresentou em sua evolução ectrópio cicatricial palpebral inferior a direita e lagoftalmia. Com relação a intensidade, apresentou ectrópio grave, além de defeito na lamela posterior por ausência parcial do tarso.

Resultado

Paciente masculino, 66 anos, com história de CBC (carcinoma basocelular) em pálpebra inferior direita, próximo ao canto medial do olho direito. Foi realizado ressecção de tumor com fechamento utilizando retalho em avanço e radioterapia adjuvante, evoluindo posteriormente com ectrópio cicatricial palpebral inferior a direita e lagoftalmo (Figura 1). Paciente apresentou irritação ocular, epífora e ressecamento ocular recorrente. Encaminhado ao Serviço de Cirurgia Plástica na mesma unidade hospitalar Araújo Jorge/ Goiânia para a correção de defeito.
O procedimento cirúrgico foi realizado sem intercorrências e o paciente apresentou uma boa evolução pós operatória, com correção do defeito além de não ter apresentado nenhuma complicação como hematomas ou recidiva (Figura 2).
Técnica cirúrgica do Retalho miocutâneo unipediculado de pálpebra superior a direita bipediculado (Retalho de Tripier)

Após marcação cirúrgica de excesso de tecidos palpebrais, foi iniciado a infiltração de solução anestésica com vasoconstrictores (1:100.000) nas adjacências do retalho palpebral superior e em régião de escafa auricular ipsilateral. Foi realizada a incisão de margem ciliar inferior direita com a dissecção do tecido infraorbicular em sentido caudal com liberação de toda a retração cicatricial. Em seguida, foi feita a incisão anterior de escafa com retirada de cartilagem retangular de aproximadamente 10 mm x 5 mm, com hemostasia e síntese (Figura 3). Realizadas as marcações e incisões palpebrais superiores bilaterais, mantendo o pedículo medial e lateral palpebral a direita e após, o preparo e a rotação do retalho miocutâneo palpebral superior para pálpebra inferior (Figura 4). Finalizando, foram tratadas as bolsas palpebrais superiores bilaterais e sínteses com nylon 6-0 com pontos intradérmicos de ambas as pálpebras e distribuição de pontos acomodando retalho inferior, e mantendo um ponto Frost mantendo palpebrais a direita ocluidas (Figura 5).

Discussão

O termo Ectrópio se refere ao afastamento da margem palpebral de seu contato com a conjuntiva bulbar. Dentre os sintomas, podem-se destacar, irritação ocular, prurido, epífora, vermelhidão8.
Os tendões cantais laterais e mediais, tarso, fáscia capsulopalpebral e músculo orbicular, são as estruturas responsáveis por manter o suporte palpebral inferior, esta é composta por 3 lamelas, anterior (pele e músculo orbicular), média (septo orbital e gordura orbital) e posterior (fáscia capsulopalpebral e conjuntiva). Quando qualquer uma dessas estruturas sofrem alteração estrutural, um processo cicatricial retrativo com alteração de posicionamento palpebral, pode ser gerado. Para isso, o tratamento cirúrgico tem se apresentado como única opção resolutiva7.
Existem diversos tipos de ectrópio e sua etiopatogenia é multifatorial, podendo estar relacionadas a fatores como selinidade, meio ambiente, doenças palpebrais, doenças neuromusculares, doenças cerebrovasculares, radiação solar e cirurgias prévias9.
O ectrópio involucional é gerado devido o processo natural do envelhecimento, decorrente de alterações como flacidez dos tendões cantais lateral e/ou medial e a flacidez palpebral em sentido horizontal10. Já o ectrópio cicatricial é gerado pela contração dos tecidos palpebrais (lamelas) durante o processo cicatricial decorrentes de lesões como queimaduras, lesões inflamatórias, dentre outras. Devido à ausência do suporte palpebral, forças são geradas em seu sentido inferior, gerando assimetria de posicionamento.
As opções cirúrgicas para o tratamento do ectrópio de pálpebra inferior incluem, cantotomia com cantólise (tarsal strip), utilização de enxertos de pele (pálpebra superior; supraclavicular; face medial do braço) e os retalhos locais unipediculados ou bipediculados. Estes apresentam um melhor suporte sanguíneo principalmente para tecidos cuja microcirculação não esteja comprometida por radioterapia, porém, apresentam uma boa cobertura de tecido e menor retrção. O detalhe importante para evitar o comprometimento e sofrimento deste retalho seria seguir os princípios na relação largura:comprimento, respeitando a proporção 1:411.
Dentre as opções de retalho local, o de pálpebra superior tem se apresentado com superioridade e principal escolha nos processos de reconstrução palpebral inferior e correção de ectrópio, justamente pela semelhança de espessura, tonalidade da pele entre as pálpebras , além de gerar baixa morbidade a área doadora12,13.

Neste relato trazido, foi utilizado retalho miocutâneo local periocular que apresentou excelente resultado na correção do ectrópio inferior a curto prazo, com baixa morbidade e nenhuma complicação relatado durante o seguimento até o presente momento.

Conclusão

A correção palpebral inferior com a utilização do retalho miocutâneo local de Tripier demonstrou excelente resultado estético e funcional ao paciente submetido a essas técnica, não trazendo qualquer prejuízo a área doadora, além de preservar a semelhança de espessura, textura e cor de pele entre as pálpebras.
O estudo carece de um seguimento a longo prazo, e por isso, pretendemos ampliar este estudo com um maior numero de casos e evoluções pós operatórios tardias.

Referências

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Palavras Chave

Ectrópio; pálpebras; retalhos cirúrgicos

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

HOSPITAL DO CÂNCER ARAUJO JORGE - Goiás - Brasil, SANTA CASA DE MISERICORDIA DE GOIANIA - Goiás - Brasil

Autores

PEDRO INÁCIO OLIVEIRA LOPES, KARINNE NAAARA MATOS DE BARROS, LUIS PEDRO CARVALHO VILELA VALVERDE, PABLO FLORENCIO RASSI, BRUNO CARVALHO MOREIRA, GHEISA MOURA LEAO