Dados do Trabalho
Título
RECONSTRUCAO DE COMPLEXO AREOLOPAPILAR EM PACIENTES ONCOLOGICAS: CASUISTICA DO HOSPITAL FEDERAL DE IPANEMA
Resumo
Introdução: A reconstrução do complexo aréolopapilar é umas das cirurgias que representam a reabilitação da reconstrução mamária em pacientes oncológicas e estão cada vez mais populares, juntamente com o progresso contínuo da reconstrução mamária. Foram desenvolvidas diversas técnicas cirúrgicas, temos como objetivo principal, descrever as principais técnicas realizadas no serviço e suas complicações.
Métodos: Estudo epidemiológico, observacional, retrospectivo, realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do HFI de janeiro/2017 a dezembro/2022, mediante a consulta a prontuários eletrônicos e físicos.
Resultados: Amostra com 15 reconstruções de CAP, com idade média de 53,73 anos, lateralidade equivalente, previamente hígidos e IMC com sobrepeso. Foram procedimentos eletivos, por conta de neoplasia mamária e em pacientes submetidas a mastectomia total, que ocorreram entre o 3º e o 5º tempo cirúrgico com a média de 30,53 meses e a grande maioria teve sua reconstrução mamária com a técnica de implante mamário. Dentre as técnicas cirúrgicas, grande maioria com enxerto de mamilo contralateral, seguida de técnica em ´skate´, técnica em estrela e técnica em cilindro, associadas a retalho cutâneo com área inguinal doadora. A maioria (73,33%) não apresentavam radioterapia prévia no local, com taxa global de complicação de 13,5% e apenas uma paciente necessitou de nova abordagem local (6,63%).
Conclusão: A reconstrução do complexo aréolopapilar agrega um ponto de vista estético e psicológico importante na reabilitação das pacientes, realizou-se a reconstrução do CAP, em média, após 30 meses da reparação mamária, com a técnica de enxerto de mamilo contralateral associada a retalho cutâneo com área inguinal doadora, com baixa taxa de complicação e reabordagem. O índice de satisfação costuma ser alto, contribuindo com a melhora na qualidade de vida das pacientes, estimulando o desenvolvimento e o estudo de novos conceitos e técnicas para reconstrução de CAP.
Introdução
A reconstrução do complexo areolopapilar (CAP) é uma das cirurgias que representa a reabilitação de pacientes com câncer de mama. Diversas técnicas foram descritas ao longo dos anos com o objetivo de reconstruir um CAP com aparência semelhante ao original, principalmente em relação à projeção da papila, formato, textura e cor da aréola. A cirurgia é realizada com o uso de retalhos locais e/ou opções de enxertos distantes.
Objetivo
Frente ao estudo proposto, temos como objetivo principal, descrever as principais técnicas e complicações dos pacientes cirúrgicos que realizaram reconstrução de CAP no Hospital Federal de Ipanema (HFI) de janeiro de 2017 a dezembro de 2022.
Secundariamente, determinar o perfil epidemiológico, avaliar reconstruções mamárias mais utilizadas e tempo cirúrgico mais comum para reconstrução de CAP realizados nesse serviço.
Método
Estudo epidemiológico, observacional e retrospectivo realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Federal de Ipanema no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2022. Os dados foram coletados por meio de prontuários eletrônicos e físicos.
Resultado
Foram realizadas 15 reconstruções do CAP com lateralidade equivalente (8 e 7 no lado esquerdo e direito, respectivamente). A média de idade foi de 53,73 anos, 60% eram saudáveis e 46,67% tinham excesso de peso (IMC > 25).
Todas as pacientes submetidas à mastectomia total eletivamente por neoplasia mamária e 8, 5 e 2 pacientes tiveram reconstrução mamária com implante mamário, grande dorsal e retalho livre do reto abdominal, respectivamente. As reconstruções do CAP ocorreram entre o 3º e o 5º tempo cirúrgico com média de 30,53 meses. Dentre as técnicas cirúrgicas, a mais comum foi o enxerto de mamilo contralateral (60%), seguida da técnica de retalho em 'skate' (26,66%), em 'estrela' (6,67%) e em 'cilindro' (6,67%) associada à enxerto cutâneo com área inguinal doadora. A maioria (73,33%) não realizou radioterapia local prévia. A taxa global de complicações foi de 13,5% (infecção local e necrose parcial) e apenas um paciente necessitou de nova abordagem local (6,63%).
Discussão
Observou-se nesse estudo que os pacientes se mantiveram na faixa etária média de 53,73 anos, indo ao encontro com um estudo retrospectivo feito em Stanford, que analisou 139 pacientes nos quais a idade média relatada foi de 47,5 anos, com a variação de 29 a 75 anos, complementarmente referiram que não há significância estatística entre a idade e o índice de complicações após reconstrução de CAP (p=0,43) 12.
Do ponto de vista da lateralidade, nosso estudo mostrou uma equiparidade do lado reconstruído, assim como no estudo revisional de Lobo et al, com a amostra de 113 reconstruções de CAP, apresentou 49% das reconstruções realizadas a direita e 51% das reconstruções a esquerda 8.
A associação de comorbidades levam a um prejuízo na sobrevida global da paciente, no estudo, foi visto que mais da metade das pacientes (60,9%) eram previamente hígidas. Conforme Scott Lobo et al, com a amostra de 59 reconstruções de CAP, apenas 18,65% das pacientes eram portadoras de doenças crônicas, as mais prevalentes eram diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica 10.
Analisando o IMC, foi ressaltado que a grande maioria das pacientes estavam dentro da faixa de sobrepeso (46,67%), conclusão também encontrada no estudo retrospectivo israelita de Omer et al, com amostra de 2.700 pacientes, relatou um IMC médio de 27,5, na sua maioria na faixa do sobrepeso, apresentando, também, 23% das pacientes com IMC acima de 30, portanto, na faixa da obesidade 8.
Na presente amostra, o intervalo de tempo entre a reconstrução mamária e a reconstrução do CAP, obtivemos o tempo médio de 30,53 meses, com uma grande variação de meses, intervalo de 4 a 66 meses, muito acima do que vemos na maioria dos estudos. Na revisão de literatura realizada, encontramos dois estudos com intervalo de tempo menor, conforme Rem et al, com uma amostra de 49 reconstruções, tiveram um intervalo médio de 8,6 meses (variação de 2,8 a 22 meses) e Momeni et al relataram um intervalo de 8,5 meses (variação de 0 a 60 meses) 11,12.
No estudo conduzido, foram observados, três tipos de reconstruções: implante mamário, reconstrução com o músculo grande dorsal e reconstrução com o músculo reto abdominal; a primeira com a maior parte da amostra (46,67%). Segundo o estudo de revisão de literatura com 75 artigos, realizado na Itália, pacientes submetidas a reconstrução mamária com prótese, terão uma base de tecido de pele e subcutâneo fino e expandido, dificultado a reconstrução do CAP 9. Já Gilleard et al, em um estudo com 47 amostras, sua grande maioria foi reconstruída após reconstrução mamária com implante e notou-se que os CAP reconstruídos mantiveram uma maior projeção do que aqueles reconstruídos com tecido autólogo 13. Em contrapartida, no estudo de Haslik et al, com a amostra de 25 pacientes, a reconstrução mamária foi predominantemente com tecido autólogo, com 70% dos casos, utilizada em sua grande maioria a reconstrução com músculo grácil 14.
No que tange à técnica cirúrgica realizada, há poucos estudos comparando as diferentes técnicas de reconstrução mamilar e seus resultados a longo prazo. Isso decorre por conta da grande variedade de técnicas empregadas na reconstrução, que podem envolver enxertos, retalhos, assim como, associação com materiais sintéticos até realização de tatuagem 7. Nesse estudo, a mais realizada foi a técnica de enxerto de mamilo contralateral associada a retalho cutâneo com área inguinal doadora. Essas diversas técnicas descritas em literatura para reconstrução de CAP, apresentam lados positivos e negativos inerentes de cada uma, sendo assim, não há um padrão-ouro globalmente aceito, então a técnica será escolhida conforme experiência do cirurgião, condições locais do tecido, incluindo posicionamento, cor, projeção a longo prazo e morbidade do local doador.
Conforme descrito neste estudo, apresentamos uma porcentagem pequena de pacientes submetidas à radioterapia prévia, com 26,67% da amostra e apenas uma (6,67%) das pacientes que apresentaram complicação local possuía tal característica. Confirmando a compatibilidade da amostra desse estudo com os trabalhos científicos, segundo Momeni at al, que analisou 139 pacientes, apenas 20,86% da amostra possuía radioterapia prévia 12. Assim como, em outro estudo retrospectivo de Momeni et al, em uma série de 189 reconstruções mamilares, analisaram que a presença de radioterapia foi associada a um aumento estatisticamente significativo a taxa de complicações pós-operatórias 11,15.
Do ponto de vista de complicações cirúrgicas, apresentamos uma taxa global de 13,3%, com apenas uma paciente necessitando de nova abordagem local, sendo semelhante ao estudo de Momeni et al, que apresentou uma taxa global de 13,2% de complicações 12. No entanto, o estudo de Rem et al, apresentou uma taxa menor de 6,1% de complicações, entre as mais prevalentes: perda parcial e infecção local, todas resolvidas com tratamento conservador, ou seja, amostra sem pacientes que realizaram nova abordagem local 11.
A mastectomia total é um procedimento muito realizado em ambientes hospitalares, que vem crescendo gradualmente, devido à capacidade de obtermos um diagnóstico cada vez mais precoce das neoplasias mamárias, o achado antecipado da doença permite que o procedimento cirúrgico seja realizado para o controle dela.
O uso de critérios racionais e fundamentados em medicina baseada em evidências podem ajudar na melhora do aspecto psicossocial das pacientes e maximizar o benefício do procedimento cirúrgico. A escolha da técnica depende da experiência do cirurgião, condições clínicas da paciente, tipo de reconstrução mamária prévia e condições locais do tecido cutâneo.
Conclusão
A reconstrução do CAP agrega um importante ponto de vista estético e psicológico na reabilitação dos pacientes. A maior parte da amostra foi submetida à reconstrução de CAP após 30 meses de reconstrução mamária pela técnica de enxerto de mamilo contralateral associado a retalho cutâneo da área doadora inguinal. Houve baixa taxa de complicações e reabordagens. O índice de satisfação costuma ser elevado e essa abordagem contribui para a qualidade de vida dos pacientes, o que deve estimular o aprimoramento de pesquisas sobre novos conceitos e técnicas para reconstrução de CAP.
Referências
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Palavras Chave
reconstrução de CAP; Reconstrução Mamária; Mama
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
HOSPITAL FEDERAL DE IPANEMA - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
NATHALIA RIBEIRO PINHO DE SOUSA, AMANDA DE VASCONCELOS MAPELLI, FÁBIO COELHO DUARTE, SERGIO DOMINGO BOCARDO