Dados do Trabalho
Título
RECONSTRUÇAO DO LABIO SUPERIOR COM RETALHO DE AVANÇO PERIALAR EM CRESCENTE APOS EXERESE DE TUMOR ESPINOCELULAR: RELATO DE CASO
Resumo
Relato de caso de tratamento de extenso tumor espinocelular acometendo 50% do lábio superior utilizando o retalho de avanço perialar em crescente para reconstrução cutanea do lábio superior associado ao retalho V-Y de mucosa para reconstrução do vermelhão do lábio superior. A técnica se mostrou segura e eficaz, preservando a funcionalidade do lábio e apresentando resultado estético satisfatório.
Introdução
O carcinoma espinocelular é uma neoplasia maligna comum da pele que frequentemente afeta áreas expostas ao sol, como o lábio superior. A reconstrução funcional e estética do lábio superior após a exérese do tumor é um desafio cirúrgico, exigindo técnicas que mantenham a integridade funcional e a harmonia facial. O retalho de avanço perialar em crescente é uma técnica eficaz para cobrir grandes defeitos na lateral do lábio após a remoção de tumores malignos nesta região.
Objetivo
Descrever um caso de reconstrução do lábio superior utilizando o retalho de avanço perialar em crescente após a exérese de um tumor espinocelular que acometia aproximadamente 40% do lábio superior, destacando a técnica cirúrgica e os resultados obtidos.
Método
Paciente IXDS, sexo feminino, 68 anos, é encaminhada ao atendimento ambulatorial no Hospital das Clínicas da UFMG para avaliação de lesão em lábio superior esquerdo. A paciente já havia realização biópsia prévia, com diagnóstico histopatológico de carcinoma espinocelular. Ao exame, foi identificada lesão ulcerada, com bordas elevadas e alterações de pele correspondendo a 40% do lábio superior esquerdo, a qual invadia discretamente o vermelhão do lábio. Após delimitação da lesão visível e definida margem de segurança de 0,6cm, foi identificado que o defeito resultante acometeria todo o vermelhão e porção cutânea do lábio à esquerda, chegando até o filtro labial ipslateral. Não foi identificada lesão na mucosa oral. Ausência de comprometimento de função dos lábios. No intra-operatório, não identificamos acometimento neoplásico visível do músculo orbicular na boca e optamos por preservá-lo. Desta forma, foi programada a reconstrução do vermelhão com um retalho em V-Y de mucosa e um retalho de avanço perialar em crescente para reconstrução da subunidade cutânea do lábio. Optado por não realizar triangulação do defeito como proposto por Webster e manter a pele excedente na porção inferior do retalho que futuramente poderia ser utilizada para correção de microstomia, se necessário.
Resultado
O procedimento proposto foi realizado sem intercorrências, com alta médica imediata após o procedimento. No 2º DPO, paciente retornou para reavaliação apresentando aumento de volume e enduramento local, compatível com hematoma. Os retalhos encontravam-se bem perfundidos, sem sinais de sofrimento vascular. Nesta oportunidade, foi feita a drenagem do hematoma, com retornos seriados no 5º, 7º, 14º, 30º e 90º DPO, sem novas intercorrências.
Ao final do 3º mês, identificamos a ferida em bom estado de cicatrização, principalmente em região peri-nasal. Abertura bucal adequada, ausência de microstomia e déficits funcionais. No entanto, apresentava excedente de pele em lateral do lábio, o que motivou a paciente a solicitar nova abordagem para ressecção, apesar de referir estar satisfeita com resultado estético. Foi então planejado refinamento estético do retalho após 6 meses do procedimento inicial. O retalho de avanço perialar em crescente proporcionou uma cobertura adequada do defeito cirúrgico, preservando a função do lábio superior e com resultado estético satisfatório. O exame anatomopatológico indicou ressecção do CEC com margens livres.
Discussão
A reconstrução do lábio superior é desafiadora devido à necessidade de preservar tanto a funcionalidade quanto a simetria das subunidades anatômicas da região. No aspecto funcional, devemos sempre buscar pela manutenção da função esfincteriana, competência oral e abertura bucal adequada, reduzindo o risco de microstomia. No que tange a reconstrução estética, a reconstrução de lábio superior apresenta desafios devido a complexidade das suas subunidades anatômicas e a simetrização das estruturas. Por ser um elemento central na face, assimetrias, perdas dos filtros labiais ou do desenho do arco do cupido geram deformidades facilmente notadas pelo observador.
Defeitos do lábio superior que acometam menos de 25% do lábio podem ser fechadas por aproximação dos dois seguimentos, com fechamento separados das camadas cutânea, muscular e mucosa para preservação da função. Defeitos pequenos de espessura total podem ser reconstruídos com retalhos de transposição do lábio oposto.
Defeitos maiores que não comprometem a espessura total do lábio podem ser fechados com retalhos da bochecha, como o retalho de nasolabial em dois estágios e o retalho de avanço perialar. Sempre que possível, buscamos utilizar pele com coloração semelhante ao defeito nas reconstruções. Em homens, devemos avaliar a presença do barba na região e preferir áreas doadoras com pelos.
O retalho de avanço perialar em crescente foi descrito e publicado por Webster em 1955 e é uma técnica eficaz para defeitos de tamanho moderados a grandes, localizados na lateral do lábio superior sem causar deformidade significativas da base alar do lábio e da comissura oral. Após definir a região a ser ressecada, sugere que o defeito seja triangulado, de forma que o maior eixo do defeito esteja na diagonal e não na vertical. Desta forma, evita-se o alongamento do lábio superior e possibilita a retirada da orelha de pele . O retalho é então desenhado contornando as subunidades nasais, dissecado e elevado em plano subcutâneo superficial, possibilitando o avanço do retalho sem déficits na área doadora. Então, é ressecada a elipse de pele excedente na porção superior e inferior do retalho.
O retalho é confiável, oferecendo boa vascularização e resultados estéticos satisfatórios. Comparado a outras técnicas reconstrutivas, este método apresenta menor morbidade e recuperação mais rápida.
Conclusão
A utilização do retalho de avanço perialar em crescente é uma excelente opção para a reconstrução de defeitos de espessura parcial em lábio superior, permitindo a restauração funcional e estética da região. A técnica demonstrou ser segura e eficaz, proporcionando resultados positivos para o paciente.
Referências
1. Webster, I.P. : Crescentic peri-alar cheek excision for upper lip flap advancement with a short history of upper lip repair, Plast. Reconstr. Surg. 16:434, 1955.
2. Jackson, I. T. "Retalhos locais na reconstrução de cabeça e pescoço." Rio de Janeiro: DiLivros (2002): 327-412.
3. Neligan PC. Cirurgia plástica: princípios. 3a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015. v. 3
Palavras Chave
Retalho de avanço perialar; Reconstrução de Lábio superior; Tumor espinocelular
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospital das Clínicas da UFMG - Minas Gerais - Brasil
Autores
PALOMA APARECIDA FREITAS DUARTE, ANDRE CARNEIRO ROCHA, ISABELLA BRISA GONTIJO BUENO, ANA CÉLIA HOLLANDA CAVALCANTI GUIMARÃES, LUCAS FONSECA QUEIROZ, BRUNO MEILMAN FERREIRA