60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

PALATOPLASTIA PRIMARIA TARDIA EM PACIENTES ADULTOS: OBSTACULOS E RESULTADOS

Resumo

Como a realização da palatoplastia primária tardia em pacientes esqueleticamente maduros permanece controversa, há poucos dados disponíveis sobre os resultados da fala para essa população de pacientes. O objetivo deste estudo, portanto, é identificar e avaliar o impacto dos resultados da fala após o reparo tardio do palato nesta população. Um estudo retrospectivo foi realizado em 19 pacientes consecutivos submetidos à correção primária tardia do palato entre 2010 e 2018. A avaliação da fala foi realizada no pré-operatório, entre 3 e 6 meses de pós-operatório e depois de 6 meses de pós-operatório. Os pacientes foram estratificados por idade, sexo, presença de fístula pós-operatória e tipo de fissura de Veau. O teste de Kruskal-Wallis foi usado para comparar a avaliação da fala pré-operatória com os resultados da fala pós-operatória, e o teste de Mann-Whitney foi usado para analisar o impacto das variáveis acima nos resultados finais da fala. Nossos dados mostraram melhora geral da fala pós-operatória para todas as variáveis testadas. Os pacientes sem fístula pós-operatória apresentaram melhores resultados na pressão oral do que os pacientes com fístula pós-operatória (P<0,05). Nenhuma das outras variáveis testadas apresentou impacto negativo significativo nos resultados de fala. A palatoplastia primária tardia melhora significativamente os resultados da fala para pacientes esqueleticamente maduros. A fístula tem um impacto negativo na pressão oral.

Introdução

Na maioria dos países altamente desenvolvidos, o reparo primário da fissura labiopalatina é comumente indicado durante a primeira infância. No entanto, existem crianças e adultos que nunca receberam tratamento adequado para essas condições e para os quais o reparo primário tardio seria benéfico1. Há poucos dados disponíveis sobre os resultados da fala para essa população de pacientes2. Desta forma, estudos adicionais são necessários, bem como estudos que abordem especificamente a avaliação da articulação, ressonância, emissão nasal audível e inteligibilidade da fala.

Objetivo

O objetivo deste estudo é identificar e avaliar o impacto dos resultados da fala após o reparo tardio do palato em pacientes esqueleticamente maduros.

Método

Um estudo retrospectivo foi realizado em 19 pacientes consecutivos (7 homens e 12 mulheres), com variação de idade de 14 a 62 anos (idade média de 29,65 anos), os quais possuíam fenda palatina acompanhada ou não por fissura labial, e foram submetidos à correção primária tardia do palato entre 2010 e 2018. Pacientes que apresentavam síndromes craniofaciais, fissura labial isolada, pacientes submetidos à palatoplastia com retalho do músculo bucinador, pacientes com fenda palatina submucosa, perda auditiva superior a 25 decibéis ou pacientes que participaram do acompanhamento pós-operatório por menos de 12 meses foram excluídos do estudo. A maturidade esquelética (14 anos de idade para mulheres e 16 anos de idade homens) foi baseada em dados descritos anteriormente por Mulliken et al3. Os pacientes foram estratificados em 2 grupos de acordo com a idade em que a palatoplastia primária tardia foi realizada: o primeiro grupo entre 14 e 21 anos de idade e o segundo grupo com mais de 21 anos de idade. Além disso, também foram estratificados por gênero, presença de fístula pós-operatória e tipo de fissura pela classificação de Veau4, a fim de determinar o impacto de cada variável nos resultados finais da fala. A técnica cirúrgica foi determinada pelo tipo de fissura. A avaliação da fala foi realizada no pré-operatório, entre 3 e 6 meses de pós-operatório e depois de 6 meses de pós-operatório. Fala padronizada e gravações digitais nasofibroscópicas com recursos de áudio e vídeo foram feitas para cada paciente, tanto no pré quanto no pós-operatório, sendo posteriormente analisadas por 3 avaliadores experientes. Os níveis de hipernasalidade, pressão oral e emissão de ar nasal audível foram pontuados e registrados6-10. O teste de Kruskal-Wallis foi usado para comparar a avaliação da fala pré-operatória com os resultados da fala pós-operatória, e o teste de Mann-Whitney foi usado para analisar o impacto das variáveis acima nos resultados finais da fala.

Resultado

Nossos dados mostraram melhora geral da fala pós-operatória para todas as variáveis testadas. Todos os pacientes deste estudo apresentaram melhora estatisticamente significativa entre 3 e 6 meses de pós-operatório (T1), em todas as variáveis estudadas, e a melhora da fala manteve-se após 6 meses de pós-operatório (T2) (exceto para pressão oral dos pacientes Veau I e II, que significativamente melhoraram em T2). Os pacientes sem fístula pós-operatória apresentaram melhores resultados na pressão oral do que os pacientes com fístula pós-operatória (P<0,05). Nenhuma das outras variáveis testadas apresentou impacto negativo significativo nos resultados de fala.

Discussão

A literatura mostra que a palatoplastia primária deve ser concluída até os 2 anos de idade para se obter melhores resultados da fala11-12 e que a cirurgia primária tardia do palato é frequentemente relacionada à complicações e resultados ruins. Ortiz-Monasterio et al13-14 relataram que o fechamento tardio do palato foi decepcionante, com resultados de fala ruins e benefício mínimo, mesmo em casos com bons resultados anatômicos, e um palato longo e móvel (um grupo de pacientes com 12 anos ou mais). Sell e Grunwell mostraram que a palatoplastia primária tardia proporcionou apenas melhora limitada da fala1. No entanto, Hoppenreijs15 relatou que os resultados da fala após o reparo tardio do palato primário foram melhores do que antes da palatoplastia. Neste estudo, não houve diferenças estatisticamente significativas quando os resultados pós-operatórios entre a faixa etária de 14 a 21 anos foram comparados com a faixa etária de mais de 21 anos. Alguns autores descobriram que a necessidade de uma segunda cirurgia aumentou proporcionalmente com a gravidade da fissura, e que um maior grau de gravidade da fissura também foi associado a um resultado de fala inferior16-17. Em nosso estudo, pacientes sem fístula pós-operatória tiveram melhores resultados em pressão oral, sugerindo que a presença de fístula pós-operatória impactou negativamente no resultado da fala. Um dos desafios que envolvem o reparo tardio do palato em pacientes esqueleticamente maduros é abordar efetivamente a área de tensão localizada na transição entre os palatos duro e mole. Desta forma, excluímos os pacientes submetidos à palatoplastia primária com retalho do músculo bucinador a fim de enfatizar o papel da correção do palato utilizando a mobilização completa do músculo elevador do véu palatino nos resultados da fala pós-operatória. Embora nosso estudo seja de natureza retrospectiva, os dados coletados seguiram um protocolo padrão e, apesar disso, uma amostra maior seria benéfica para melhorar nossa análise estatística.

Conclusão

A palatoplastia primária tardia melhora significativamente os resultados da fala para pacientes adultos. A fístula tem um impacto negativo na pressão oral.

Referências

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Palavras Chave

Fissura labiopalatina; fenda palatina; palatoplastia

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

SOBRAPAR - São Paulo - Brasil

Autores

MARIANA MATIELO RIBEIRO, CASSIO EDUARDO ADAMI RAPOSO DO AMARAL, FELIPE LANDGRAF, MARCELA COSTA VINCENZI LEMES, MATEUS LACERDA MEDEIROS DA SILVA, BRUNA BERTECHINE GONZALEZ MAYEDA