Dados do Trabalho
Título
ANALISE RETROSPECTIVA DAS CIRURGIAS DE TRAUMA DE FACE NA SANTA CASA DE MISERICORDIA DE SAO JOSE DO RIO PRETO
Resumo
INTRODUÇÃO: O trauma facial complexo demanda reparos e soluções complexas, desafiando cirurgiões e impactando na vida do paciente e seus familiares. No Brasil, fraturas faciais são frequentes entre 1 e 40 anos, com altos custos e possíveis complicações de diversos focos. OBJETIVO: Analisar cirurgias de trauma de face na Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto, avaliando dados demográficos e possíveis complicações, e a relação entre complexidade do trauma e complicações pós-operatórias. MÉTODO: Estudo transversal e analítico de março de 2022 a março de 2024, analisando dados de fraturas faciais tratadas cirurgicamente, com estatísticas descritivas. RESULTADO: Entre 76 pacientes, 123 fraturas faciais foram analisadas. Mandíbula foi a mais afetada (85,5%), com predominância masculina (80,3%). Três complicações cirúrgicas notáveis foram registradas e com bom prognóstico. CONCLUSÃO: Não houve correlação significativa entre o número de fraturas faciais e complicações cirúrgicas, sugerindo eficácia
da abordagem cirúrgica especializada.
Introdução
Trauma facial complexo requer reparos e soluções complexas. Esse processo é desafiador para o cirurgião que busca gerenciar as expectativas do paciente e da família e ao mesmo tempo alcançar o melhor resultado possível (1). O trauma de face está amplamente presente em todo o mundo. Seu manejo necessita de especialistas na área. No entanto, um grande número desses padrões de trauma pode estar associado a lesões adicionais, como lesões neurocirúrgicas e/ou cirurgias traumáticas das extremidades (2).
Segundo Coelho et. Al (2024), as fraturas de face no Brasil estão entre as principais causas de trauma entre 1 e 40 anos. Além dos riscos, pacientes de trauma de face enfrentam sérios desafios financeiros, afetando tanto as vítimas quanto suas famílias e impondo altos custos ao sistema de saúde. Em 2016, por exemplo, os acidentes de trânsito resultaram em 180.443 internações, com um custo de R$ 253,2 milhões para o SUS (3).
As complicações mais citadas na literatura incluem sangramentos, lesões dentárias, infecções, assimetria, má oclusão, distúrbios neurossensoriais e lesões glandulares. As complicações podem estar diretamente relacionadas com diversas etapas do atendimento ou com o próprio procedimento cirúrgico, como anestesia, sítio cirúrgico, redução e fixação das fraturas (4).
A face, devido à sua complexidade e importância nas expressões e funções diárias, deve ser tratada com especial cuidado para evitar sequelas graves de natureza estética, funcional e psicológica. Se não abordadas corretamente, essas sequelas podem impactar significativamente a qualidade de vida do paciente.
Objetivo
Analisar retrospectivamente as cirurgias realizadas no serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto, seus dados demográficos e as complicações cirúrgicas, além de determinar se a complexidade do trauma está associada a um aumento nas complicações pós-operatórias.
Método
Trata-se de um estudo do tipo transversal, analítico, com abordagem quantitativa, realizado através de uma análise retrospectiva e descritiva pelo sistema de informações do bloco cirúrgico da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto (SCMSJRP), hospital terciário, entre março de 2022 e março de 2024, sobre os pacientes das fraturas de face. Apenas pacientes que tiveram fraturas de ossos da face tratadas cirurgicamente foram incluídos. Foram excluídos os pacientes que tiveram fraturas de ossos da face alinhadas sem necessidade de tratamento cirúrgico.
Os dados dos pacientes para caracterização foram enviados pelos autores em um formulário do Google Forms, e posteriormente organizados em planilha no programa Pages do MacOS Monterey, no qual registraram variáveis como sexo, faixa etária, procedência e sítio do trauma, bem como os dados quantitativos de acordo com o sítio do trauma. Foram realizadas análises estatísticas descritivas. As variáveis categóricas foram expressas em percentual ou frequência. As informações estão apresentadas em tabelas. (DEMONSTRADAS E ILUSTRADAS NO TRABALHO).
Resultado
Foram analisados os dados de 76 pacientes, com um total de 123 traumas de ossos da face, categorizadas em quatro tipos principais: mandíbula, maxila, zigoma, órbita e Le Fort II. Cada tipo de fratura foi subdividido em localizações específicas para uma análise detalhada. Sendo assim, 80,3% correspondem ao sexo masculino e 19,7% ao sexo feminino. Destes, 43 indivíduos tinham entre 20 e 39 anos, representando um total de 56,6% (Tabela 1). Cabe mencionar, que osso mais acometido durante este período foi a mandíbula mais especificamente no corpo, em segundo lugar o ângulo, e o lado mais acometido da face foi o esquerdo (Tabela 2). Em relação aos ossos fraturados, houve uma acentuada prevalência do acometimento da mandíbula, em todas as faixas etárias, representando 65 pacientes (85,5%).
Correlacionamos o sítio fraturado com as complicações cirúrgicas e destacamos apenas três casos. O primeiro caso envolve um paciente com fratura no ângulo direito da mandíbula, o segundo com fratura no corpo esquerdo e no ângulo direito da mandíbula, que ocorreram no período de 7 dias pós-operatório devido a infecção do sítio cirúrgico. Já o terceiro caso, uma fratura bilateral na mandíbula, apresentou abscesso e evoluiu bem após drenagem e antibioticoterapia, sendo ceftriaxona e clindamicina por 14 dias.
Não foram observadas complicações iatrogênicas, como lesões palpebrais, distorção labial, perda visual, ptose palpebral ou má oclusão dentária.
(TABELAS ILUSTRADAS EM TRABALHO)
Discussão
Traumas agudos e dificuldades de ajustamento psicossocial complicam a gestão das expectativas dos pacientes e suas famílias, que muitas vezes esperam resultados mais !normais” do que o que a reconstrução contemporânea pode proporcionar. Traumas faciais
complexos podem envolver operações em etapas, tornando o processo longo e emocionalmente desafiador, tanto para o paciente quanto para sua família (1).
O trauma de face tem um papel importante nos atendimentos de emergência em todo mundo. É conhecido o acometimento do sexo masculino maior do que ao sexo feminino em eventos traumáticos. Por diversos motivos, homens são mais propensos a se envolver em brigas, maior índice de abuso de bebida alcoólica e maior tendencia a dirigir em rodovias. Neste trabalho foi encontrada uma diferença significativa entre os sexos. O índice que chama atenção de 76 casos de pacientes que sofreram trauma de face, 61 casos foram do sexo masculino e 15 casos foram do sexo feminino, dado que é concordante com o estudo Kopecký, A., & Němčanský, J (5), o qual descreve que homens adultos são mais acometidos por traumas. Os dados também concordam com Silva et al. (6), que relataram uma média de idade de 35 anos, com variação entre 4 e 71 anos, além de constatarem que os homens representaram 80,4% de todos os casos.
No nosso serviço, a mandíbula, especialmente o lado esquerdo, foi a estrutura mais fraturada, representando 85,5% dos casos, que difere com outros estudos, como Pinheiro et. Al (2022) com 290 pacientes, onde a órbita foi a estrutura mais fraturada (7).
Segundo Alves (2019) (4), o osso mais acometido foi a mandíbula, é o mesmo dado que apresentamos nesse presente estudo. Em contrapartida, o nosso segundo mais acometido foi o maxilar, enquanto no trabalho supracitado foi o zigomático.
Conclusão
Este estudo retrospectivo sobre pacientes tratados pela equipe de cirurgia plástica da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto não encontrou uma relação significativa entre o número de fraturas faciais e a incidência de complicações cirúrgicas. Tanto pacientes com fraturas isoladas quanto aqueles com fraturas múltiplas não mostraram uma diferença relevante na taxa de complicações. Esses achados sugerem que, independentemente da quantidade de fraturas, a abordagem cirúrgica especializada pode mitigar o risco de complicações.
Referências
1. Zeiderman, M. R., & Pu, L. L. Q. (2020). Contemporary reconstruction after complex facial trauma. Burns & trauma, 8, tkaa003. https://doi.org/10.1093/burnst/tkaa003
2. Ghanaati S. (2022). Focus on craniomaxillofacial injuries in trauma patients. European journal of trauma and emergency surgery : official publication of the European Trauma Society, 48(4), 2511–2512. https://doi.org/10.1007/s00068-022-02036-4
3. Coelho AJM, Guimarгes VHA, Amaral NO, Diуrio ISN, Elias CT, Sagata Y, et al. O trauma de face submetido a cirurgia: Uma análise epidemiológica de 10 anos no interior do Brasil. Rev. Bras. Cir. Plast.2024;39(1):1-5
4. Alves, Rodrigo Lemos. Perfil epidemiológico dos traumas maxilofaciais em pacientes atendidos num hospital de ensino na região norte do estado do Ceará / Rodrigo Lemos Alves. 2019.
5. Kopecký, A., & Němčanský, J. (2020). TRAUMA IN OCULOPLASTIC SURGERY A REVIEW. TRAUMATOLOGIE V OKULOPLASTICKÉ CHIRURGII PŘEHLEDOVÝ ČLÁNEK. Ceska a slovenska oftalmologie : casopis Ceske oftalmologicke spolecnosti a Slovenske oftalmologicke spolecnosti, 76(3), 103–110. https://doi.org/10.31348/2020/18
6. Silva JJ de L, Lima AAAS, Melo IFS, Maia RCL, Pinheiro Filho TR de C. Trauma facial: análise de 194 casos. Rev Bras Cir Plást [Internet]. 2011Jan;26(1):37–41. Available from: https://doi.org/10.1590/S1983-51752011000100009
7. Pinheiro LHZ, Silva BB, Basso RCF, Franco FF, Andrade TFC, Pili RC, et al. Epidemiological profile of patients undergoing surgery to treat facial fractures in a university hospital. Rev. Bras. Cir. Plбst.2022;37(2):177-182
Palavras Chave
Trauma de Face; fraturas complexas da face; face
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto - São Paulo - Brasil
Autores
GIOVANNI MELONE JUNIOR, ADERBAL GAULINO GALASSI NETO, LUIZ GABRIEL MILANEZ RONCHI, RENAN PEREIRA DE OLIVEIRA TINOCO, JOAO ANTONIO ZANATTA NETO, ELIANE REGINA BUENO RIBEIRO GARCIA