Dados do Trabalho
Título
Utilização da rede hemostática no tratamento da ginecomastia: um relato de caso
Resumo
Introdução: A Ginecomastia é a alteração mamária mais frequente nos homens e está entre as cirurgias estéticas mais solicitadas por esse gênero. A complicação mais comum na correção da ginecomastia é a ocorrência de hematoma. A utilização de pontos de sutura transfixantes configurando uma rede hemostática percutânea se mostra uma técnica intraoperatória eficaz na prevenção do acúmulo de líquidos no espaço virtual deixado após o descolamento. Métodos: Este relato de caso visa relatar o caso de paciente submetido a correção de ginecomastia com adenectomia associado a confecção de rede hemostática. A rede hemostática foi realizada no segmento superior, inferior e areolar a esquerda e superior e areolar a direita com fio Nylon 4.0 com agulha cilíndrica após hemostasia, antes do fechamento da incisão da adenectomia, portanto sob visão direta. A rede foi retirada com 96 horas. Resultado: D.B.D.S , 18 anos, gênero masculino, com aumento de glândula mamária há cerca de 5 anos causando desconforte e insegurança em relação a sua autoimagem. USG de mama com presença de aumento de glândula mamária bilateral, BIRADS 2. Discussão: No tratamento cirúrgico da ginecomastia deve-se pensar em técnicas adicionais de prevenção a complicações pós-operatórias, associadas ao acúmulo de líquido em espaço de descolamento, como hematoma e seroma. Conclusão: Utilização de técnicas cirúrgicas que visam diminuir a ocorrência de acúmulo de líquidos em espaço de descolamento são de suma importância na prática cirúrgica na cirurgia plástica para a prevenção de complicações pós-operatórias com melhor resultado estético e conforto para o paciente.
Introdução
A ginecomastia é a alteração mamária mais frequente em homens e a sua principal causa é idiopática. Esta relacionada a desequilíbrios hormonais com aumento do estrogênio e diminuição dos androgênios ou déficit de receptores de androgênicos. Sendo assim pode ser associada a uma gama de doenças endocrinológicas, sistêmicas, neoplásicas, alterações fisiológicas e utilização de medicamentos. Cerca de 66% de meninos adolescentes tem ginecomastia sendo a maioria com melhora transitória devido a desequilíbrios hormonais associados a essa fase. Lembrando que além dos fatores hormonais relacionados a ginecomastia a patologia pode se desenvolver com o uso de alguns medicamentos como uso de anabolizantes esteroides o que vem se tornando cada vez mais frequente. 1,2
A correção da ginecomastia está entre as cirurgias estéticas mais solicitadas pelo gênero masculino de acordo com pesquisa internacional realizada pelo ISAPS (International Society of Aesthetic Surgery) referente ao ano de 2018. E a sua faixa etária é ampla sendo uma queixa de homens de 14-15 anos até a terceira idade. 3
O tratamento da ginecomastia deve se basear na anamnese dirigida, exame físico, exame de imagem e laboratoriais, lembrando que homens com aumento de mama devem ser investigados para câncer de mama masculino já que 1% dos cânceres de mama ocorrem em pacientes do gênero masculino. Caso haja correlação com medicação ou doença sistêmica deve ser realizado primeiro a suspensão da medicação ou compensação da doença sistêmica de base. Caso a ginecomastia persista por mais de 1 ano está indicada a correção cirúrgica. 1,2
O procedimento cirúrgico deve ser de natureza excisional com a adenectomia, com associação ou não da lipoaspiração. A sua principal complicação é ocorrência de hematoma, que gera maior número de intervenções pós-operatórias como punções no leito da ferida ou reabordagens cirúrgicas para esvaziamento de coágulos. Tal complicação acaba gerando um quadro de estresse e desconforto para o paciente. 4
Objetivo
Este trabalho objetiva relatar o caso de um paciente submetida a correção de ginecomastia com adenectomia associada a confecção de rede hemostática, conforme artigo proposto por Auersvald em 2012.
Método
Trata-se de um relato de caso, envolvendo um paciente submetido a correção de ginecomastia com a adenectomia e confecção de rede hemostática no Hospital Federal da Lagoa (HFL).
Os dados foram coletados do prontuário eletrônico, interessando a idade, gênero, história clínica, exames complementares, técnica cirúrgica empregada.
As cirurgias foram realizadas sob anestesia geral, por equipe multidisciplinar, composta por cirurgiões plásticos e anestesiologistas.
Resultado
D.B.D.S , 18 anos, gênero masculino, avaliado por equipe de Cirurgia Plástica do Hospital Federal da Lagoa(HFL) por queixa de ginecomastia com aumento de glândula mamária há cerca de 5 anos causando desconforte e insegurança em relação a sua autoimagem.
Ao exame físico: observa-se mama pouco aumentada, sem excesso de pele. Sendo classificado como grau I de Simon. Realizado USG de mama com presença de aumento de glândula mamária bilateral, BIRADS 2. (Fig.1) (Fig.2)
A abordagem cirúrgica foi programada por equipe e realizada a adenectomia por incisão semicircular inferior da aréola (incisão de Webster) com posterior revisão de hemostasia e confecção da rede hemostática no segmento superior, inferior e areolar a esquerda e superior e areolar a direita com fio Nylon 4.0 com agulha cilíndrica sob visão direta. (Fig.3)
Programado retorno ambulatorial em 96 horas de pós operatório para retirada de rede hemostática e avaliação. (Fig.4) E posterior retorno ambulatorial em 2 meses de pós operatório (Fig.5)
Discussão
A ginecomastia tem sua incidência que varia entre 65% na população adolescente e 36% na adulta, sendo responsável por 70% das alterações mamárias no publico masculino. Conforme discorrido em introdução, pode estar associado a condições clínicas onde há alterações hormonais. Sendo assim, a ginecomastia para o homem pode levar a transtornos morfológicos, alterações de autoimagem, no relacionamento social e qualidade de vida. 3
É a 4.ºcirurgia mais realizada no brasil, levando em consideração as cirurgias reparadoras, sendo a cirurgia mais solicitadas pelo gênero masculino. No tratamento da ginecomastia a principal complicação é o hematoma, variando na literatura de 10.3 a 46% dos casos. 3,4
A ocorrência do hematoma dificulta a evolução pós-operatória levando a mais intervenções e assim comprometendo o resultado final pós-operatório, além de gerar um quadro de insegurança e desconforto ao paciente. Na cirurgia plástica diversas táticas cirúrgicas são aplicadas para se evitar o acúmulo de líquidos em espaço virtual após realização de descolamento de tecidos , como os pontos de Baroudi na abdominoplastia, e também Hudson com a ideia de aplicar os princípios de pontos transfixantes com estabilização da pele e fechar o espaço virtual evitando-se a formação de novas coleções em cirurgia plástica facial. 5
A utilização da rede hemostática na ritidoplastia, como forma preventiva para hematoma, foi descrito em artigo por Auersvald et al, em 2012 e 2014 5,6, teve como resultados a utilização da rede hemostática como método adicional eficaz na prevenção do hematoma nas primeiras 72h pós-operatórias. Sendo assim descrito pelo mesmo autor em novo artigo em 2012 foi proposto então a utilização da rede hemostática como método para prevenção de hematomas pós-operatórios precoces agora em correção de ginecomastia. 4
Segundo Murugesan et al. em 2020 descreve a utilização da rede para evitar o hematoma no tratamento da ginecomastia, realizando na área da adenectomia e da lipoaspiração. 7
Segundo TAVARES FILHO et al(2022) , a utilização de rede hemostática sem utilização de drenos e confecção da mesma antes do fechamento da incisão da adenectomia em segmentos superior, inferior e areolar com retirada da rede em 48-96h se mostrando um procedimento adicional eficaz na prevenção do hematoma pós-operatório e não sendo observado comprometimento de resultado visual com marcas dos pontos em nenhum caso. 3
A realização de procedimentos intra-operatórios adicionais para se evitar complicações pós-operatórias, como o hematoma, é de grande valia na prática da Cirurgia Plástica.
Conclusão
É de suma importância o conhecimento sobre a técnica cirúrgica pra correção da ginecomastia e suas principais complicações, assim como suas indicações e benefícios para o paciente.
Na correção da ginecomastia com intuito de se evitar hematoma pós-operatório precoce a rede hemostática se mostra uma opção de procedimento adicional eficaz.
Os autores não possuem relações comerciais como: consultorias, participação acionária ou outras participações societárias, patentes recebidas e/ou pendente, ou qualquer relação comercial que pode ser de alguma forma considerado relacionado a este artigo.
Referências
1. CHUNG, K. C. Grabb and Smith’s plastic surgery. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2020.
2. CARREIRÃO, SERGIO. Cirurgia Plástica para formação do especialista, 2011.
3. TAVARES FILHO, João M et al. Rede hemostática no tratamento cirúrgico das ginecomastias como prevenção de hematoma. Cir. plást. iberolatinoam., Madrid, v. 48, n. 3, p. 281-286, sept. 2022.
4. Auersvald A, Auersvald LA. Rede hemostática para prevenção de hematoma e seroma em cirurgia plástica. Arquivos Catarinenses de Medicina. 2012;41(01):86-88.
5. Auersvald A, Auersvald LA. Biondo-Simões MLP. Rede hemostática: uma alternativa para a prevenção de hematoma em ritidoplastia. Rev. Bras. Cir. Plást. 2012;27(1):22-30
6. Auersvald A, Auersvald LA. Hemostatic Net in Rhytidoplasty: An Efficient and Safe Method for Preventing Hematoma in 405 Consecutive Patients. Aesth. Plast. Surg. 2014;38.
7. Murugesan L, Karidis A. External Quilting: New technique to avoid Haematoma in gynaecomastia surgery. Aesth Plastic Surg. 2020, 44:45-51.
8. Medeiros MMM. Abordagem cirúrgica para o tratamento da ginecomastia conforme sua classificação. Rev. Bras. Cir. Plást. 2012;27(2), 277-282.
Palavras Chave
GINECOMASTIA rede hemostática hematoma
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospital Federal da Lagoa - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
FERNANDA RODRIGUES DE CARVALHO, MATHEUS NOGUEIRA SANTOS ARAUJO , JOAO LUIZ TAVARES MENDES, JOSE PAULO GUEDES SAINT CLAIR , MAYRA JOAN MARINS DA COSTA, RENATA LOWNDES CORREA FRANCALACCI