60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

RECONSTRUÇAO NASAL POS-TRAUMA COM UTILIZAÇAO DE RETALHO MEDIOFRONTAL: RELATO DE CASO

Resumo

Introdução: O retalho frontal é considerado uma das primeiras opções em reconstrução de dorso nasal pós ressecção de neoplasia de pele local ou trauma quando há exposição de estruturas como cartilaginosa e óssea. Trata-se de um retalho seguro e quando bem indicado e confeccionado, geralmente cursa com boa evolução, fornecendo bons resultados funcionais e estéticos.
Objetivo: Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de um paciente que foi submetido à cirurgia de reconstrução nasal pós-trauma pelo serviço de cirurgia plástica de um Hospital Municipal em 2022.
Métodos: Realizado relato de caso clínico de um paciente submetido à cirurgia de reconstrução nasal pós-trauma. Recebeu primeiro atendimento pelo serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal Dr Mario Gatti em 2023, na cidade de Campinas/SP
Conclusão: O retalho frontal representa a escolha ideal reconstrutiva em muitos pacientes e pode ser realizado com segurança e confiabilidade em ambiente hospitalar. Essa técnica permite a restauração da função a que se destina o nariz, mantendo boa permeabilidade ventilatória e bom resultado estético

Introdução

A história da reconstrução do nariz está intrinsecamente ligada à evolução da cirurgia plástica. Desde os tempos antigos, como no período Védico na Índia Antiga (2.000 a 500 a.C), onde a punição para adultério era a amputação do nariz, há registros de intervenções plásticas nessa região¹. Sushruta Shamita, no Ayur-Veda (600 a.C), apresentou uma técnica de reconstrução nasal completa usando um retalho frontal mediano e recomendava o uso de folhas de árvore para marcação. Essa técnica é conhecida hoje como método indiano.
No século XIX, uma deformidade comum após a reconstrução nasal era uma columela curta, com a ponta nasal recuada. Auvert desenvolveu um retalho frontal com um ângulo de 45 graus, o que alongava o retalho. Retalhos oblíquos tornaram-se populares no final do século XIX 2,4. Em 1935, Gillies descreveu um retalho em forma de U que se elevava e descia na região frontal, enquanto Converse, em 1942, relatou um retalho do escalpo que incluía a pele da testa. Ambas as técnicas aumentaram o fluxo sanguíneo e o comprimento do retalho. Com retalhos mais longos, foi possível criar columelas mais extensas, permitindo uma melhor projeção da ponta nasal. Em 1966, Millard introduziu o uso de retalho de mucosa labial através de um orifício no lábio para revestir a columela, reduzindo significativamente a retração pós-operatória.

Objetivo

Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de um paciente que foi submetido à cirurgia de reconstrução nasal pós-trauma pelo serviço de cirurgia plástica de um Hospital Municipal em 2022.

Método

Realizado relato de caso clínico de um paciente submetido à cirurgia de reconstrução nasal pós-trauma. Recebeu primeiro atendimento pelo serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal Dr Mario Gatti em 2023, na cidade de Campinas/SP. Os dados e informações foram obtidos durante as consultas ambulatoriais, sendo que os mesmos se encontram tanto em prontuário físico quanto eletrônico.

Resultado

Paciente H.S, 21 anos, sexo masculino, solteiro, negro, sem comorbidades, com história de trauma automobilístico pós queda de motocicleta. Chegou até a emergência do Hospital Municipal Mario Gatti com lesão corto-contuso em região de ponta nasal com perda de substância (Figura 1). Foi avaliado pela equipe da neurocirurgia e bucomaxilo, sem evidência de lesões neurológicas, ósseas em crânio, tendo como acomentimento perda total da ponta nasal e da columela, além de ferida no prolábio.
Realizado na urgência sutura da ferida no prolábio e curativo com sulfadiazina de prata 1% na região nasal acometida com perda de substância e acompanhamento ambulatorial.
No ambulatório foi optado por aguardar esfriar o processo inflamatório e programar a reconstrução nasal em u segundo momento. O paciente permaneceu com acompanhamento semanal no nosso ambulatório e realizando curativo diário.
Após 60 dias do trauma (Figura 2) e já com processo de cicatrização presente e retrações cicatriciais bem estabelecidas e sem nenhum sinal de infecção, optamos por prosseguir com a reconstrução nasal por meio de confecção de retalho mediofrontal no primeiro tempo cirúrgico, sendo possível o fechamento primário da região frontal. O retalho teve boa evolução, sem pontos de deiscência, epiteliólise ou necrose (Figura 3). Após 28 dias realizamos o segundo tempo cirúrgico para autonomização do retalho e refinamento da ponta (Figura 4). A região nasal obteve boa evolução assim como a ferida na região frontal, esta com cicatriz fina e sem sinais de cicatriz patológica. A ponta nasal apresentava edema e uma transição abrupta no supratip, sendo optado por aplicação de corticoide intralesional, 3 aplicações com intervalos de 14 dias entra cada aplicação. Após 2 meses da segunda abordagem cirúrgica e 3 aplicações locais de corticoide, a ponta nasal já obtinha uma transição mais suave com o supratip e a região da columela totalmente reconstruída (Figuras 4 e 5). O paciente encontra-se satisfeito com o resultado.

Discussão

No que diz respeito a reconstrução nasal, o nariz é dividido em três zonas, para as quais existem condutas específicas a serem tomadas.
A Zona I abrange a parte superior do dorso e lateral; a Zona II, a ponta nasal e regiões alares; e a Zona III a metade inferior da ponta nasal, columela e triângulo mole. Para defeitos maiores que 1,5 cm envolvendo a Zona II, recomenda-se retalho nasogeniano ou retalho paramediano frontal, enquanto que defeitos envolvendo a columela (Zona III) requerem enxertos osteocartilagenosos provenientes de hélice auricular, por exemplo6.
Devido à semelhança da pele em espessura, sua proximidade com a área receptora, o duplo e robusto suprimento arterial, e a relativa facilidade na aprendizagem da técnica, o retalho médio-frontal clássico (também conhecido como retalho indiano) tem sido amplamente utilizado e aceito para reconstruções nasais, do canto dos olhos e das pálpebras. A causa dos defeitos a serem corrigidos varia significativamente conforme os casos tratados em cada centro, abrangendo desde lesões benignas e traumas até ressecções por câncer. A reconstrução nasal reparadora devido a tumores de pele é o uso mais comumente relatado para este retalho, uma vez que as opções de reconstrução nasal, especialmente para a ponta do nariz, frequentemente não proporcionam resultados estéticos tão satisfatórios.
Na primeira etapa da reconstrução com retalho mediofrontal o tecido frontal e os enxertos cartilaginosos são colocados nas áreas receptores. No segundo tempo cirúrgico, o retalho é levantado novamente e afinado para uma espessura de 3-4mm. Em um terceiro momento, o pedículo é cortado e os supercílios reposicionados, sendo esses tempos cirúrgicos espaçados com no mínimo três semanas de intervalo para que o retalho se torne autônomo7.
Apesar da necessidade de repetidos procedimentos cirúrgicos de refinamento até o alcance do contorno e definição satisfatórios, o retalho frontal paramediano oferece ótimos resultados estéticos a longo prazo para reparar defeitos complexos no nariz.

Conclusão

O retalho frontal representa a escolha ideal reconstrutiva em muitos pacientes e pode ser realizado com segurança e confiabilidade em ambiente hospitalar. Essa técnica permite a restauração da função a que se destina o nariz, mantendo boa permeabilidade ventilatória e bom resultado estético

Referências

1. Melega JM. Cirurgia plástica - fundamentos e arte: cirurgia reparadora de cabeça e pescoço. Vol. II. Rio de Janeiro: Medsi; 2002.
2. Converse JM. Corrective and reconstructive surgery of the nose. In: Converse JM, ed. Reconstructive plastic surgery. Vol 2. 2nd ed. Philadelphia: Saunders; 1977.
3. Talmant JC. Reconstruction du Nez. In: EMC. Techniques chirurgicales: chirurgie plastique reconstructive et esthétique. Vol. 1. Paris: Elsevier; 2000. 5. Burget GC, Menick FJ. The subunit principle in nasal reconstruction. Plast Reconstr Surg. 1985;76(2):239-47.
4. Rohrich RJ, Barton FE, Hollier L. Nasal reconstruction. In Aston SJ, Beasley RW, Thorne CHM, editors. Grab and Smith’s plastic surgery. New York: Lippincott-Raven; 1997. P. 513-19.
5. Little SC, Hughley BB, Park SS. Complications with forehead flaps in nasal reconstruction. Laryngoscope. 2009;119(6):1093-9.
6. GEMPERLI, Rolf; MUNHOZ, Alexandre Mendonça; NETO, Ary de Azevedo Marques. Fundamentos da cirurgia plástica. 1. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter Publicações, 2015. p. 82-92.

Palavras Chave

Retalho mediofrontal; reconstrução; nariz

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

HOSPITAL MUNICIPAL MARIO GATTI - São Paulo - Brasil

Autores

RAMON BRANDAO BARBOSA, MARINA SCHNEIDER, MARIANA ANDRADE VICENTE