Dados do Trabalho
Título
RECONSTRUÇAO DE ASA NASAL CONSEQUENTE A MORDEDURA CANINA – RELATO DE CASO
Resumo
Relatamos o caso de um paciente do sexo masculino que buscou reparação de lesão por mordedura canina um ano após ser mordido na região nasal pelo próprio cão. Evidenciava-se pronunciada desfiguração nasal com estenose de narina e comprometimento da função nasal e da higiene em orifício nasal direito. Optou-se pela reconstrução com enxerto composto do ramo anterior da hélice auricular. Houve integração total do enxerto com melhora do aspecto estético e funcional. Apesar do tratamento precoce ser a opção de escolha nas mordeduras caninas, a reconstrução tardia pode também fornecer resultados satisfatórios.
Introdução
Lesões por mordedura de cães representam uma emergência. Podem causar desfiguração e estigmatização. Os próprios donos de cães são as vítimas habituais das mordeduras, muitas vezes com perda de substância importante. A cirurgia precoce proporciona melhores resultados. Porém, não raras vezes os pacientes procuram tratamento de modo tardio, com deformidades e alterações funcionais no caso de lesões em nariz, lábios ou pálpebras. Relatamos o caso de reconstrução de região nasal de um paciente após mordedura canina.
Objetivo
Relatamos o caso de um paciente masculino de 28 anos portador de perda de substância e estenose de narina direita (Figuras 1 e 2). O trauma teria ocorrido há um ano, após ser acometido por mordedura canina na região nasal pelo próprio cão. O tratamento imediato, segunda relatou o paciente, foi apenas conservador, sendo a ferida cicatrizada por segunda intenção. Em função da idade do paciente e das condições clínicas e locais, optamos por enxerto composto da hélice auricular.
Método
Sob anestesia local assistida, a área comprometida na narina direita foi incisada em sua totalidade, expondo área a ser reconstruída. Enxerto composto (pele, cartilagem e pele) em forma triangular com 1,8cm de base foi removido do ramo anterior de hélice do mesmo lado da lesão. Defeito foi fechado por planos sem produzir deformidade evidente na região. O enxerto foi suturado ao defeito da narina por planos e pequeno tubo de silicone foi introduzido, posicionado e suturado nesta cavidade, permanecendo por duas semanas (figura 3). Antibioticoterapia foi prescrita no período pós-cirúrgico. Nos seis meses seguintes, uma pequena órtese de silicone foi confeccionada e mantida durante a noite na narina direita.
Resultado
O paciente não apresentou complicações no período pós-operatório. Tanto a área doadora como a receptora do enxerto cicatrizaram sem problemas. O enxerto composto teve integração total apesar de sua dimensão. O paciente apresentou melhora estética e de sua capacidade respiratória (Figuras 4 e 5). Revisão tardia três anos após a cirurgia reparadora evidenciou resultado preservado, sem retração ou estenose importantes.
Discussão
Pacientes portadores de deformidades e perda de substância após mordedura canina na face apresentam importante impacto emocional, muitas vezes acompanhado de cicatrizes inestéticas e comprometimento funcional. Estudo de Macedo com 111 pacientes acometidos de mordedura canina e humana mostrou grande morbidade com este tipo de lesão. A mordedura canina apresentou 80 a 90% de todas as mordeduras atendidas nas unidades de emergência. As crianças são as vítimas mais frequentes de mordeduras caninas, sendo a maioria vítima de cães conhecidos ou da família. As regiões mais acometidas são a face e pescoço, principalmente pela estatura da criança.(1)
No caso relatado, o paciente buscou auxílio tardio, um ano após ter sido submetido ao trauma. O mesmo referiu que não houve infecção após o trauma, apesar de cicatrização demorada por segunda intenção. A estenose pronunciada da cavidade nasal levou, além de importante deformidade estética em um paciente jovem, a uma limitação grave da respiração neste lado do nariz, reduzindo o fluxo de ar, sua umidificação e sua filtragem, além de dificultar a limpeza ou higiene do lado comprometido.
A reconstrução deste tipo de defeito possui inúmeras e criativas opções cirúrgicas, tais como retalhos frontais(2-3), reimplante da porção amputada(4) e outros retalhos locais.(5) Enxertos compostos, como enxertos auriculares, são úteis na reconstrução estética e funcional. De modo geral, para garantir a integridade e sobrevivência do enxerto, a largura do enxerto não deve exceder 1 cm em função do comprometimento circulatório, embora retalhos maiores também tenham sido usados com sucesso ocasionalmente. (6-7)
No caso relatado, além do cuidado na manipulação dos tecidos, a escolha criteriosa da área doadora e os cuidados locais através da colocação de órtese são essenciais, diminuindo a chance de estenose precoce e ajudando na modelação da cavidade nasal. A área doadora não apresentou deformidade evidente. Além disso, apesar de não ter sido obtida restauração completa e simétrica da área comprometida, foi evidente a melhora do aspecto estético e, principalmente, da função nasal, sendo esse o objetivo maior de uma cirurgia reparadora desse tipo na região nasal. A preservação do resultado após três anos, mostrou ter sido esta uma boa opção cirúrgica. Proposta de novos procedimentos e refinamentos sejam por retalhos locais ou outros recursos visando melhoria do resultado foi negada pelo paciente que demonstrou estar satisfeito com o tratamento já realizado.
Conclusão
O enxerto composto demonstrou ser uma opção efetiva na melhora estética, levando a melhora da capacidade respiratória e do estigma facial. Apesar de não ter corrigido completamente o defeito em um único tempo cirúrgico, obteve-se textura e coloração da área reconstruída semelhantes às regiões adjacentes do nariz. Criteriosa escolha pela melhor técnica, associação de técnicas ou refinamentos posteriores podem levar a um melhor resultado. Apesar da intervenção precoce estar indicada sempre que possível, reconstruções tardias na região nasal podem oferecer adequada atenuação da deformidade associada a uma melhoria funcional
Referências
1 Mondor H. Tronculite sous-cutanee subaigue de la panoi thoracique antero-laterale. Mem Acad Chir 1939;65:1271-8.
2 Caspara Uth C, Boljanovic S. Nasal reconstruction in a child afteradogbite-9yearslater.PlastReconstrSurgGlobOpen. 2015;3(5):e398.
3 Shipkov H, Traikova N, Stefanova P, Pazardjikliev D, Simov R. The forehead flap for immediate reconstruction of the nose after bite injuries: indications, advantages, and disadvantages. Ann Plast Surg. 2014;73(3):358.
4 Stupka I, Dvorak Z, Vesely J, Novak P, Perrotta RE, Lombardo GA. Reconstruction of a nose bitten and eaten by a dog: ten-year follow-up of a bitten-off nose replantation performed on an eleven-year-old boy. Ann Plast Surg. 2015;75(6):585–7.
5 Austin GK, Shockley WW. Reconstruction of nasal defects: contemporary approaches. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg. 2016;24:453–60
6 Ferreira S, Ayres Quaresma LE, Timóteo CA, da Silva Fabris AL, Faverani LP, Francisconi GB, Souza FA, Júnior IR. The primary closure approach of dog bite injuries of the nose. J Craniofac Surg. 2014;25(3):e216–e218.
7 Goldman A, Wollina U. Dog bite injury - alar repair with composite graft. Wien Med Wochenschr. 2018 Jun;168(9-10):261-264. English. doi: 10.1007/s10354-016-0523-5. Epub 2016 Nov 2. PMID: 27807675.
Palavras Chave
Mordeduras e Picadas; enxerto; RECONTRUÇÃO NASAL
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
Hospital São Lucas da PUC-RS - Rio Grande do Sul - Brasil
Autores
PEDRO CAVALCANTI MORETTO, ADRIANO CALCAGNOTTO GARCIA, LUCAS PASTORI STEFFEN, ANDREY BARROS DA SILVA, MILTON PAULO DE OLIVEIRA, ALBERTO GOLDMAN