Dados do Trabalho
Título
RISCOS E COMPLICAÇOES ASSOCIADAS A APLICAÇAO DE POLIMETILMETACRILATO (PMMA) POR NAO-MEDICOS EM REGIAO GLUTEA: RELATO DE CASO E CONSIDERAÇOES ANATOMICAS
Resumo
Este trabalho relata o caso de complicação grave após a aplicação de Polimetilmetacrilato (PMMA) em região glútea bileteral por um profissional sem formação médica. Paciente L.V.H, 35 anos, apresentou sinais flogísticos e secreção purulenta na área tratada. O diagnóstico foi de infecção e reação inflamatória grave por corpo estranho em região de aplicação muscular de PMMA. O tratamento incluiu antibioticoterapia, desbridamento cirúrgico e cuidados pós-operatórios intensivos. Este caso ilustra os riscos associados à aplicação inadequada de PMMA e enfatiza a necessidade de regulamentação e treinamento médico adequado para profissionais que realizam procedimentos estéticos
Introdução
O Polimetilmetacrilato (PMMA) é amplamente utilizado em procedimentos estéticos para preenchimento de tecidos moles devido à sua durabilidade e eficácia. No entanto, a aplicação inadequada por profissionais não-qualificados pode resultar em complicações gravíssimas. Este trabalho apresenta um relato de caso de complicação pós-aplicação de PMMA na região glútea realizada por um não-médico, destacando a importância da qualificação profissional e das condições adequadas para a realização desses procedimentos.
A aplicação do PMMA nas regiões glúteas é um procedimento estético que visa aumentar o volume e melhorar o contorno dessa área. No entanto, a complexidade anatômica e a rica vascularização da região glútea tornam esse procedimento arriscado, especialmente quando realizado por profissionais não qualificados.
Objetivo
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de complicação grave após a aplicação de PMMA na região glútea por não-médicos, discutindo as implicações clínicas, a importância da qualificação profissional e conhecimento anatômico da região para o uso adequado de preenchedores.
Método
Reportar 01 caso de complicação pós-aplicação de PMMA na região glútea realizada por um não-cirurgião plástico atendido pelo Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica (IBCP). Utilizou-se de referência para citação e busca bibliográfica artigos indexados no Pubmed localizados através dos descritores citados em associações booleanas and e or por um período de até 05 anos.
Resultado
1. Imagem - Região glútea bilateral apresentando sinais de flogístico e necrose tecidual após aplicação por um não-médico.
Discussão
O uso do PMMA como preenchedor por profissionais não-médicos e as complicações pelo uso indiscriminado da subtância aumenta progressivamente. Nessas situações, cujas complicações se tornam presentes, orienta-se a retirada do PMMA sempre que possível, para minimizar a reação inflamatória associada a cuidados pós-operatórios com curativos diários, monitoramento da cicatrização e fisioterapia.
Dentre as complicações associadas ao PMMA por não-cirurgiões plásticos, observa-se o maior risco de infecção, sendo comum quando o procedimento é realizado em condições não-estéreis. Não obstante, pode-se citar: reações inflamatórias por reação de corpo estranho; a necrose tecidual resultante da obstrução vascular; granulomas por resposta inflamatória crônica; deformidades teciduais por migração do material; embolias (1-4).
A complexidade anatômica e a rica vascularização da região glútea tornam esse procedimento arriscado, especialmente quando realizado por profissionais não qualificados. A região glútea é composta por várias camadas de tecidos, incluindo pele, tecido subcutâneo, músculos e fáscias. Os principais músculos da região glútea são: Glúteo Máximo (maior e mais superficial músculo da região, responsável pela extensão e rotação lateral do quadril); Glúteo Médio (localizado abaixo do glúteo máximo, é responsável pela abdução e rotação medial do quadril); Glúteo Mínimo (menor e mais profundo dos músculos glúteos, também envolvido na abdução e rotação medial do quadril). Quanto a vascularização arterial: Artéria Glútea Superior (Ramo da artéria ilíaca interna, que se divide em ramos superficial e profundo, irrigando o glúteo máximo, médio e mínimo); Artéria Glútea Inferior (também um ramo da artéria ilíaca interna, que irriga o glúteo máximo e outras estruturas profundas da região glútea). Quanto à drenagem venosa da região glútea salienta-se a importância das veias glúteas superiores e inferiores, que acompanham as artérias correspondentes e drenam para a veia ilíaca interna, além das veias perfurantes, que conectam-se com a rede venosa profunda e superficial, facilitando a drenagem venosa da região (5-7).
Dessa forma, a aplicação inadequada do material desrespeitando a anatomia torna maior os riscos de necrose tecidual devido à obstrução vascular causada pela injeção de grandes volumes de PMMA ou pela compressão dos vasos sanguíneos. Outra possibilidade de agravamento é a injeção inadvertida de PMMA em um vaso sanguíneo causando embolia, assim obstruindo vasos em locais distantes, ex: embolia pulmonar ou cerebral. Sabe-se que o PMMA pode migrar da área de injeção original para outras partes do corpo, causando deformidades e complicações adicionais. A migração pode ser facilitada pela movimentação dos músculos glúteos e pela rede vascular da região. A complexa rede arterial e venosa da região glútea aumenta o risco de complicações vasculares, que podem ser difíceis de tratar e podem levar a danos permanentes. A falta de qualificação profissional para realização do procedimento corresponde a outro fator contribuinte das complicações, pois ela corrobora com a falta de conhecimento sobre a técnica correta, anatomia local e as complicações potenciais, bem como a resolução das mesmas. Outros agravantes identificados são: condições não-estéreis de aplicação do produto; volume inadequado de aplicação, o que pode resultar nas obstruções e compressões vasculares (8-10).
Assim, salienta-se a importância da educação e treinamento de profissionais médicos especialistas na área, por exemplo cirurgiões plásticos e dermatologistas, além da restrição de aplicabilidade do produto com objetivo de redução de danos à saúde dos pacientes, visto que apenas médicos estão aptos a orientar a indicação correta, tratar intercorrências e propor melhores alternativas terapêuticas. Nesse contexto, é de suma importância destacar a regulamentação e fiscalização das autoridades de saúde acerca das práticas em “medicina estética” para garantir a segurança dos pacientes, de modo que seja praticada apenas por profissionais com formação adequada e especialistas.
Conclusão
A aplicação de PMMA na região glútea por profissionais desqualificados pode resultar em complicações graves, como infecção, necrose e embolias. Neste caso, destaca a importância da realização de procedimentos estéticos apenas com profissionais devidamente treinados e qualificados, como cirurgiões plásticos e dermatologistas. A intervenção precoce e adequada é crucial para minimizar os danos e melhorar os resultados clínicos e estéticos. Recomenda-se a regulamentação rigorosa e a conscientização dos pacientes sobre os riscos associados a procedimentos estéticos realizados por profissionais não-qualificados.
Referências
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Palavras Chave
Polimetilmetacrilato (PMMA); Preenchedores; Necrose tecidual
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIRURGIA PLÁSTICA - São Paulo - Brasil
Autores
JAV? OLIVEIRA VALDEVI?O, ADDLER STEVE QUEZADA PALACIOS, NATHALIA CRISTINA SANTOS STUCCHI FERREIRA, ISABELLA MARTINS MORO, LUCAS RODRIGUES OLIVEIRA, JOSÉ ARIMATÉIA MENDES