60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

O PAPEL DO XENOENXERTO NA CIRURGIA PLASTICA REPARADORA NA ATUALIDADE: UMA REVISAO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Resumo

Introdução: A utilização da pele de peixe em cirurgias plásticas reconstrutivas representa uma abordagem inovadora e promissora. O uso de pele de peixe, como a proveniente do tilápia, vem ganhando destaque devido à sua composição rica em colágeno, propriedades biocompatíveis e baixo risco de rejeição. Objetivo: Realizar uma revisão da literatura buscando sintetizar as evidências relacionadas à utilização da pele de peixe em cirurgia plástica reconstrutiva. Método: A base de dados PUBMED foi utilizada para seleção dos trabalhos, empregando a seguinte estratégia de busca: (fish[title] AND skin[title]) AND (plastic OR esthetic OR aesthetic OR reconstructive OR reconstruction). Apenas ensaios clínicos, estudos observacionais e relatos de caso publicados nos últimos 10 anos foram incluídos na amostra de artigos a serem avaliados. Resultados: A busca foi realizada no mês de outubro de 2023, e a estratégia previamente estabelecida retornou 11 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, 2 artigos foram eliminados, sendo um deles por ter sido realizado em animais, e outro por se caracterizar como uma proposta de ensaio clínico ainda não finalizada. Sendo assim, 9 artigos compuseram a amostra final desta revisão. Conclusão: No geral, os estudos revisados apontaram que a utilização da pele de peixe em cirurgias reconstrutivas mostrou-se como uma opção segura e confiável. Dentre os principais resultados, destacou-se a utilização da pele de peixe no tratamento e aceleração da recuperação de feridas em pés diabéticos, feridas decorrentes do processo de calcifilaxia, e na abordagem terapêutica para angiodermatite necrótica. Interessante destacar o uso da pele de peixe na criação de neovaginas, com a utilização da pele de tilápia do Nilo no tratamento da síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser em pacientes que não obtiveram sucesso com a terapia de dilatação, na estenose vaginal e na vaginoplastia primária nos casos de transição de gênero masculino-feminino. No entanto, cabe ressaltar a importância do cuidado com o material a ser transplantado, que deve ser esterilizado de forma eficaz, especialmente com a utilização de nanopartículas de prata.

Introdução

A cirurgia reconstrutiva plástica visa restaurar a forma e a função dos tecidos danificados ou deficientes, e a escolha do material de enxerto desempenha um papel fundamental na obtenção de resultados ideais. Os enxertos biológicos, derivados de tecidos humanos ou animais, vêm ganhando destaque por suas propriedades únicas, incluindo biocompatibilidade, imunogenicidade reduzida e potencial de regeneração celular. Por sua vez, as modalidades de enxertos biológicos incluem os autoenxertos, os aloenxertos e os xenoenxertos. Os autoenxertos envolvem a transferência de tecido de um local para outro, considerando o corpo do mesmo indivíduo. Os aloenxertos correspondem à doação de tecidos por indivíduos da mesma espécie, ou seja, tecidos de doares humanos sendo utilizados também em humanos. Por sua vez, os xenoenxertos consideram a doação de tecidos provenientes de diferentes espécies, como por exemplo, utilização da pele de porcos e peixes em cirurgias reconstrutivas em humanos.
Xenoenxertos dérmicos desempenham um papel essencial em diversas modalidades de reconstrução da pele. Utilizados em casos de queimaduras extensas, cirurgias de reconstrução cutânea, reconstrução facial, mamária e de órgãos genitais, esses enxertos oferecem soluções temporárias ou permanentes para restaurar a função e a estética da pele. Todavia, ao mesmo tempo em que fornecem suporte estrutural e promovem a regeneração tecidual, os xenoenxertos buscam superar desafios, como o risco de rejeição imunológica, necessitando de cuidados específicos para garantir o sucesso desses procedimentos.
A utilização da pele de peixe em cirurgias plásticas reconstrutivas representa uma abordagem inovadora e promissora. O uso de pele de peixe, como a proveniente do tilápia, tem ganhado destaque devido à sua composição rica em colágeno, propriedades biocompatíveis e baixo risco de rejeição. Essa modalidade de enxerto dérmico tem sido aplicada em diversos procedimentos, como a reconstrução de queimaduras e o tratamento de úlceras e feridas crônicas. A pele de peixe oferece um suporte estrutural eficaz, promove a regeneração celular e contribui para a cicatrização acelerada. Além disso, a disponibilidade abundante desse recurso, aliada à sua resistência e flexibilidade, torna-a uma opção viável para cirurgiões plásticos em busca de alternativas inovadoras na reconstrução de tecidos cutâneos comprometidos. O contínuo avanço na pesquisa biomédica e a aplicação clínica bem-sucedida da pele de peixe indicam um horizonte promissor para o seu papel cada vez mais significativo nas cirurgias plásticas reconstrutivas.
Considerando o crescente uso da pele de peixe em cirurgias reconstrutivas, a proposta desta revisão foi avaliar as principais aplicações deste recurso, revisando estudos realizados em humanos e discutindo seus achados, de forma a trazer uma visão sobre o atual panorama da utilização dessa modalidade de xenoenxerto no âmbito da cirurgia plástica reconstrutiva.

Objetivo

Realizar uma revisão da literatura buscando sintetizar as evidências relacionadas à utilização da pele de peixe em cirurgia plástica reconstrutiva.

Método

Tratou-se de uma revisão integrativa da literatura, que utilizou a base de dados PUBMED para seleção dos trabalhos, empregando a seguinte estratégia de busca: (fish[title] AND skin[title]) AND (plastic OR esthetic OR aesthetic OR reconstructive OR reconstruction). Apenas ensaios clínicos, estudos observacionais e relatos de caso publicados nos últimos 10 anos foram incluídos na amostra de artigos a serem avaliados. Trabalhos em andamento e que não envolvessem estudos em humanos foram excluídos da amostra a ser revisada.

Resultado

A busca foi realizada no mês de outubro de 2023, e a estratégia previamente estabelecida retornou 11 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, dois artigos foram eliminados, sendo um deles por ter sido realizado em cachorros, e outro por se caracterizar como uma proposta de ensaio clínico ainda não finalizada. Sendo assim, os 9 artigos restantes foram lidos em sua íntegra, resumidos, e apresentados na seção a seguir em ordem cronológica considerando o ano de publicação.

Discussão

Dias et al. (2019a), descreveram uma técnica de procedimento denominada McIndoe para tratamento cirúrgico da síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser com o uso de pele de tilápia do Nilo como suporte para a proliferação de novo epitélio vaginal. Com base no proposto novamente por Dias et al. (2019b), a pele de tilápia costuma apresentar bons resultados quando utilizada como enxerto biológico no manejo cirúrgico da síndrome de Mayer- Rokitansky-Küster-Hauser. Assim, os pesquisadores consideraram o uso desse biomaterial para neovaginoplastia em estenose vaginal induzida por radiação. Woodrow et al. (2019), propuseram avaliar o benefício potencial de um enxerto de pele de peixe intacto rico em ômega-3 (Kerecis Omega 3) no tratamento de feridas pós-operatórias de pé diabético. De acordo com Dias et al. (2020), a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser é a segunda causa mais frequente de amenorreia primária, situando-se logo após a disgenesia gonadal. Os autores destacam que a neovaginoplastia é uma opção de tratamento apropriada para pacientes que não obtiveram sucesso com a terapia de dilatação. Diversos biomateriais têm sido empregados neste procedimento, incluindo peritônio, âmnio, enxertos de pele e retalhos miocutâneos. O artigo trouxe argumentos apontando que a pele da tilápia do Nilo possui características únicas, como microbiota não infecciosa, morfologia comparável à pele humana e alta taxa de biorreabsorção in vivo. Ressaltou- se que a pele de tilápia do Nilo já demonstrou eficácia em tratamentos de queimaduras e, portanto, sugere-se sua aplicação como um novo enxerto biológico para tratar a agenesia vaginal associada à síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser. Para Rodríguez et al. (2020), a pele peniana insuficiente é comum durante a vaginoplastia quando é realizada a cirurgia de para transição de homem para mulher, e esse problema pode ser compensado por um retalho cutâneo escrotal, com a desvantagem do crescimento de pelos. Para os autores, a pele da tilápia do Nilo foi utilizada com sucesso para o tratamento cirúrgico da síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser e da estenose vaginal. Sendo assim, o estudo conduzido pelos pesquisadores objetivou descrever uma nova técnica para vaginoplastia primária em cirurgia de afirmação de gênero masculino-feminino utilizando pele de tilápia do Nilo como enxerto biocompatível para garantir profundidade vaginal adequada. Dardari et al. (2022), descreveram um caso de angiodermatite necrótica onde foi utilizado um enxerto de pele de peixe intacto para tratar um paciente com diabetes, insuficiência renal terminal e hipertensão arterial. Segundo os autores, todo o procedimento terapêutico foi realizado em atendimento ambulatorial sem necessidade de internação do paciente, apresentando como resultado a redução acentuada da dor e epitelização completa da lesão após 10 semanas de tratamento. Sendo assim, a conclusão do estudo apontou que a utilização da pele de pele de peixe deve ser vista como uma possível nova abordagem terapêutica para angiodermatite necrótica. Segundo Elshahawy et al. (2022), a integridade do colágeno deve ser considerada ao usar um agente esterilizante para enxertos de pele de peixe.

Conclusão

No geral, os estudos revisados apontaram que a utilização da pele de peixe em cirurgias reconstrutivas mostrou-se como uma opção segura e confiável. Dentre os principais resultados, foi destacada a utilização da pele de peixe no tratamento e aceleração da recuperação de feridas em pés diabéticos, feridas decorrentes do processo de calcifilaxia, na abordagem terapêutica para angiodermatite necrótica. Interessante destacar o uso da pele de peixe na criação de neovaginas, onde a pele de tilápia do Nilo foi utilizada com sucesso no tratamento da síndrome de Mayer- Rokitansky-Küster-Hauser em pacientes que não obtiveram sucesso com a terapia de dilatação, na estenose vaginal e na vaginoplastia primária nos casos de transição de gênero masculino-feminino. No entanto, cabe ressaltar a importância do cuidado com o material a ser transplantado, que deve ser esterilizado de forma eficaz, como por exemplo, a utilização de nanopartículas de prata.

Referências

DARDARI, D. et al. Curing Necrotic Angiodermatitis with an Intact Fish Skin Graft in a Patient Living with Diabetes. Medicina (Kaunas, Lithuania), v. 58, n. 2, p. 292, 15 fev. 2022.
DIAS, M. T. P. M. et al. Tilapia fish skin as a new biologic graft for neovaginoplasty in Mayer- Rokitansky-Kuster-Hauser syndrome: a video case report. Fertility and Sterility, v. 112, n. 1, p. 174– 176, jul. 2019a.
DIAS, M. T. P. M. et al. Neovaginoplasty for radiation-induced vaginal stenosis using Nile Tilapia Fish Skin as a biological graft. Journal of Surgical Case Reports, v. 2019, n. 11, p. rjz311, nov. 2019b.
DIAS, M. T. P. M. et al. Neovaginoplasty Using Nile Tilapia Fish Skin as a New Biologic Graft in Patients with Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser Syndrome. Journal of Minimally Invasive Gynecology, v. 27, n. 4, p. 966–972, 2020.
ELSHAHAWY, A. M. et al. The optimal concentration of silver nanoparticles in sterilizing fish skin grafts. Scientific Reports, v. 12, n. 1, p. 19483, 14 nov. 2022.
LANTIS II, J. C. et al. Final efficacy and cost analysis of a fish skin graft vs standard of care in the management of chronic diabetic foot ulcers: a prospective, multicenter, randomized controlled clinical trial. Wounds: A Compendium of Clinical Research and Practice, v. 35, n. 4, p. 71–79, abr. 2023.
RODRÍGUEZ, Á. H. et al. Male-to-Female Gender-Affirming Surgery Using Nile Tilapia Fish Skin as a Biocompatible Graft. Journal of Minimally Invasive Gynecology, v. 27, n. 7, p. 1474–1475, 2020.
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WOODROW, T.; CHANT, T.; CHANT, H. Treatment of diabetic foot wounds with acellular fish skin graft rich in omega-3: a prospective evaluation. Journal of Wound Care, v. 28, n. 2, p. 76–80, 2 fev. 2019.

Palavras Chave

Xenoenxerto; Cirurgia Plástica Reconstrutiva; Pele de Tilápia

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO PAULO - São Paulo - Brasil

Autores

CICERO RICARDO MACHADO DE MATOS, LEANDRO DE PAULA GREGORIO, LOHANA VIDAURRE SALVATIERRA, JOSÉ AUGUSTO CALIL, ROBERTO LUIZ SODRE