60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ANALISE EPIDEMIOLOGICA DAS MAMOPLASTIAS REALIZADAS NO HOSPITAL DAS CLINICAS DA UNICAMP ENTRE 2016 E 2021 E SUAS COMPLICAÇOES

Resumo

As mamoplastias estão entre as cirurgias plásticas mais realizadas no Brasil e no mundo. Entretanto, ainda há resultados conflitantes na literatura sobre a determinação dos fatores de risco relacionados a maiores complicações. Frente a isto, o presente estudo objetivou descrever o perfil epidemiológico e complicações pós operatórias de pacientes submetidas a mamoplastias. Para tal, foi realizada uma análise retrospectiva baseada em revisão de prontuários de 66 pacientes submetidas a cirurgias mamárias entre 2016 e 2021 no HC da Unicamp. Os resultados obtidos demonstraram uma maior prevalência de mamoplastias redutoras em nosso serviço (46%), sendo a técnica de Pitanguy a mais utilizada. A principal complicação observada foi a deiscência de ferida operatória com cicatrização por segunda intenção (24%). A única variável com significância estatística associada a um maior risco de complicações pós-operatórias foi o peso de tecido mamário ressecado a partir de 600 gramas.

Introdução

As mamoplastias estão entre as principais cirurgias plásticas realizadas no Brasil e no mundo. Em 2021, a mamoplastia de aumento foi a 2ª cirurgia plástica mais realizada no Brasil, correspondendo a 10.9% dos procedimentos cirúrgicos estéticos. A mastopexia e a mamoplastia redutora também apresentaram importante relevância no país, correspondendo a 6.4 % e a 4.1 %, respectivamente.1
Já foi demonstrado que a mamoplastia de aumento é capaz de aumentar a satisfação pessoal das pacientes em relação a aparência da própria mama, melhorar o bem estar sexual e psicossocial2. Apesar do baixo índice de complicações agudas, a mamoplastia de aumento com próteses possui uma taxa de 2.5 - 14% de contratura capsular, sendo esta a principal complicação tardia decorrente do procedimento3.
A mamoplastia redutora também pode trazer inúmeros benefícios funcionais a vida das pacientes que vão além da melhora estética, como diminuição da dor musculoesquelética, dores de cabeça e melhora da qualidade do sono, além de ter um impacto fundamental na saúde psicológica, diminuindo os níveis de ansiedade e depressão, melhorando a autoestima, função sexual e qualidade de vida4. Entretanto, a taxa de complicação global das mamoplastias redutoras pode oscilar entre 32 - 53%5–7.
Alguns fatores podem estar relacionados a um maior risco de complicações após a realização de mamoplastias redutoras, como índice de massa corporal (IMC) > 30 kg/m2, tabagismo e idade maior ou igual a 60 anos8. As principais complicações descritas são deiscência operatória, infecção, necrose gordurosa, seroma, hematoma e alterações de sensibilidade.

Objetivo

O objetivo deste trabalho é descrever o perfil epidemiológico das pacientes submetidas a mamoplastias no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entre os anos de 2016 e 2021 e suas complicações pós-operatórias.

Método

Este trabalho consiste em um estudo descritivo, retrospectivo e baseado em análise de prontuários. Foram incluídas todas as pacientes submetidas a mamoplastias estéticas (mamoplastia de aumento com prótese, mastopexia com ou sem próteses e mamoplastia redutora) no HC da Unicamp entre os anos de 2016 e 2021 que consentiram com a participação do estudo por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Unicamp. Todas as pacientes foram acompanhadas por um período de 6 meses. Foram excluídas pacientes que não concordaram com a realização do estudo ou que apresentavam informações incompletas em prontuário médico.
Após avaliação dos prontuários físicos e eletrônicos das pacientes, foi construído um banco de dados contendo informações sobre as seguintes variáveis: idade, comorbidades, tabagismo, uso de medicamentos, peso, altura, IMC, grau de ptose mamária, distância fúrcula - complexo areolopapilar (CAP), data da cirurgia, técnica cirúrgica utilizada, tipo de pedículo do CAP, tempo cirúrgico, peso total do tecido mamário retirado, uso de dreno, tempo do uso de dreno, tempo de internação após a cirurgia e presença de complicações (necrose gordurosa, deiscência, evento tromboembólico, infecção, hematoma, seroma, necrose parcial ou total de CAP, cicatriz hipertrófica ou queloide).
A análise estatística dos dados obtidos foi feita de forma descritiva e com medidas de tendência central para as variáveis contínuas. As variáveis categóricas foram analisadas com descrição de proporção. A avaliação dos preditores de complicações em relação às variáveis epidemiológicas foi feita utilizando o teste de qui-quadrado.

Resultado

Após análise dos dados, 66 pacientes foram incluídas no estudo. A média de idade das pacientes foi de 40 anos (intervalo de 16 - 65 anos). O IMC variou entre 18 kg/m2 e 29 kg/m2, sendo a média de 24,16 kg/m2. A distância fúrcula - CAP pré-operatória foi maior nas pacientes submetidas a mamoplastias redutoras, média de 27,8 cm e menor nas pacientes que realizaram mamoplastias de aumento, média de 21,9 cm. Outras informações demográficas são descritas na tabela 1
Todas as cirurgias de mamoplastia realizadas no HC da Unicamp entre 2016 e 2021 foram feitas em regime de internação hospitalar e com anestesia geral, sendo o principal tipo de cirurgia a mamoplastia redutora (46%). A técnica de Pitanguy foi utilizada em 97% das mamoplastias redutoras, sendo somente uma paciente submetida a técnica de Thorek com enxerto de CAP durante o período, conforme demonstrado na tabela 2. O tipo de pedículo de CAP mais realizado foi o superomedial, em 72% dos casos de mamoplastias redutoras e mastopexias.
O tempo médio de cirurgia foi de 174 minutos, sendo a maior média de tempo verificada durante as cirurgias de mastopexia (204 minutos) e a menor média nas cirurgias de mamoplastia de aumento (118 minutos). Em todas as mamoplastias de aumento e mastopexias com próteses foram utilizadas próteses de silicone microtexturizadas com volumes variando entre 240 - 395 ml e 225 - 330 ml, respectivamente. Drenos foram utilizados somente em 8% das pacientes, de acordo com a preferência do cirurgião. O peso médio de tecido ressecado nas mamoplastias redutoras foi de 792 gramas e nas mastopexias foi de 239 gramas.
A taxa global de complicações foi de 38%, conforme demonstrado na tabela 3, sendo a deiscência a mais frequente (16 pacientes). Vale ressaltar que todos os casos de deiscência não necessitaram de nova abordagem cirúrgica e todas as feridas tiveram cicatrização completa por segunda intenção. Não houve nenhum evento tromboembólico. Necrose unilateral parcial ou total do CAP foi verificada somente em 8% das cirurgias. Não houve casos de necrose bilateral do CAP. As mamoplastias redutoras foram responsáveis por 68% de todas as complicações observadas. Nenhuma das mamoplastias de aumento ou mastopexias com prótese apresentou contratura capsular até o seguimento de 6 meses.
Algumas variáveis indicaram tendência a maior risco de complicações, como IMC ≥ 25, idade ≥ 42 anos, presença de comorbidades, distância fúrcula - CAP ≥ 25 cm e tempo cirúrgico ≥ 180 minutos, porém sem significância estatística. Somente a retirada de tecido mamário ≥ a 600 gramas se correlacionou com significância estatística a maior risco de deiscência (p = 0.035) e maior risco global de complicações (p = 0.036).

Discussão

As cirurgias mamárias estão entre as maiores demandas nos atendimentos do cirurgião plástico atualmente, sendo o conhecimento de suas complicações de fundamental importância. O presente estudo evidenciou uma taxa de complicação global de 38%, entretanto quando analisado somente o subgrupo de mamoplastias redutoras, a taxa global de complicações foi de 57%, valor um pouco acima do verificado na maioria dos estudos sobre o tema. Em um estudo retrospectivo similar que avaliou 277 mamoplastias redutoras realizadas entre 2014 e 2018 a taxa de complicação global foi de 49.3%, sendo a deiscência com formação de ferida e cicatrização por segunda intenção a principal complicação isolada (42.1%), o que também foi verificado em nosso estudo9.
O peso médio de tecido ressecado neste estudo após a realização de mamoplasrias redutoras foi de 792 gramas, o que está um pouco acima da média apontada na literatura, fator que pode justificar a maior taxa de complicações pós-operatórias verificada. O peso de tecido ressecado foi a única variável associada a maior risco de complicação pós operatória com significância estatística. Em estudo realizado com 539 pacientes submetidas a mamoplastias redutoras, a média do peso de tecido mamário ressecado foi de 633 gramas, valor inferior ao nosso estudo, o que pode justificar uma taxa de complicação inferior obtida (33%)8. Entretanto, média da distância fúrcula - CAP (28.6 cm) verificada nesta análise foi similar ao presente estudo (27.8 cm).
A relação entre IMC e complicações pós operatórias em cirurgias mamárias ainda é um tema controverso. Neste estudo não foi verificada correlação com significância estatística entre IMC e um maior risco de complicações, fato que está em concordância com outras análises sobre o tema10,11. Entretanto há estudos que demonstram uma correlação de alto IMC a uma maior frequência de complicações pós-operatórias8,12.
As mamoplastias de aumento e mastopexias apresentaram um menor índice de complicação pós-operatória, 11% e 35%, respectivamente. Estes dados estão de acordo com a literatura atual, entretanto o curto seguimento de 6 meses realizado pode não ter sido suficiente para avaliar taxas de contratura capsular, principal complicação tardia após uso de próteses de silicone, a qual manifesta-se em 80% dos casos durante os primeiros 5 anos de pós-operatório13.

Conclusão

Com o presente estudo foi possível delinear o perfil epidemiológico das pacientes operadas em nosso serviço, demonstrando haver uma consonância das taxas globais e específicas de complicações em relação a literatura. Em nossa análise, a única variável relacionada a um maior risco de complicações pós operatórias foi peso de tecido mamário ressecado igual ou maior a 600 gramas em mamoplastias redutoras. Entretanto, há outros fatores já descritos previamente que podem se relacionar a uma maior taxa de complicações, apesar de não ter sido verificada significância estatística nesta análise.

Referências

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Palavras Chave

Mamoplastia; maxtopexia. complicações pós-operatória

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

UNICAMP - São Paulo - Brasil

Autores

LIVIA GABRIELLE SILVA CARVALHO, CAIO DE SOUZA LEVY, JULIA CRISTINA FACCHI, MAYARA MARIA DE JESUS ROZANTE, FERNANDO FABRICIO FRANCO, PAULO LIVIA KHARMANDAYAN