60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

AVALIAÇAO DE RETRAÇAO CUTANEA POS-OPERATORIA IMEDIATA COM O USO DE J-PLASMA (RENUVION) E ARGOPLASMA.

Resumo

A lipoaspiração é um procedimento consagrado e amplamente utilizado para eliminar o excesso de gordura em várias partes do corpo. Não obstante a lipoaspiração seja eficaz na remoção da gordura, ela pode deixar a pele com uma aparência flácida, o que pode comprometer o resultado almejado. Tecnologias avançadas e seguras podem contribuir para a diminuição da flacidez após procedimentos de lipoaspiração. O equipamento J-Plasma (Renuvion) e Argoplasma, utilizados no presente trabalho, permitem a combinação de radiofrequência e plasma de hélio/argônio para retrair a pele e estimular a produção de colágeno, potencializando os resultados. O objetivo desta monografia é verificar a eficácia da utilização do Renuvion e Argoplasma para retração da pele após procedimentos de lipoaspiração. Um total de 15 pacientes passaram por essa tríade, operação, radiofrequência e acompanhamento evolutivo. Essa tecnologia oferece inúmeras vantagens após a lipoaspiração, não se limitando à retração da pele, mas também proporciona resultados prolongados, assim como uma recuperação mais rápida e mais confortável. Em nenhum dos casos os pacientes solicitaram revisão ou procedimentos secundários. As complicações foram de pequeno porte, e tratadas com fisioterapia especializada. Os resultados atestam a segurança da utilização de tais tecnologias visando à contração da pele e um contorno mais harmonioso após a lipoaspiração.

Introdução

Nas últimas décadas, o aumento na procura por procedimentos de rejuvenescimento com riscos reduzidos e uma recuperação rápida fez com que surgissem diversas tecnologias voltadas à retração da pele. Um amplo leque de dispositivos de alta tecnologia atualmente está disponível como opções seguras e de grande eficácia.
Um dos métodos que têm mostrado grandes resultados nesse sentido é a radiofrequência, considerada um método minimamente invasivo (1,2), que parte do princípio de que a corrente elétrica gerada atinge profundidades significativas nos tecidos, gerando energia e calor intenso devido à resistência presente na derme e no tecido subcutâneo. Como consequência, há um aquecimento nas camadas mais internas da pele, no entanto a superfície é mantida relativamente resfriada e de certa forma protegida (3). Este aquecimento ocasiona a desnaturação e a contração das fibras de colágeno, resultando na retração do tecido, estimulando a formação imediata de novas fibras de colágeno, contribuindo para o encolhimento e, por conseguinte, aumentando a eficácia delas na sustentação da pele (4,5,6).
Diversos dispositivos de radiofrequência foram desenvolvidos após a observação da sua eficácia, os quais podem ser divididos em dois tipos principais de sistemas operacionais: o unipolar, em que a corrente de radiofrequência atravessa o corpo, e o bipolar, sendo a corrente de radiofrequência limitada à região localizada entre os dois eletrodos. O sistema bipolar, por apresentar um maior foco, frequentemente requer uma menor quantidade de energia para alcançar o mesmo efeito de aquecimento. Considerando a ampla gama de tecnologias que se baseiam no aquecimento dos tecidos, a radiofrequência se destaca como a mais utilizada e clinicamente comprovada (4,7). Um dos grandes méritos dessa abordagem consiste no fato de alcançar camada profunda da pele, sendo capaz de afetar inclusive a hipoderme.

Objetivo

O objetivo do presente estudo é constatar quantitativamente a capacidade de retração imediata da pele, utilizando aparelho de radiofrequência J-Plasma (Renuvion) após procedimentos de lipoaspiração.

Método

Neste trabalho utilizaram-se duas metodologias: J-Plasma (Renuvion) e Argoplasma. A principal diferença é a forma com que o plasma é gerado, a primeira com o gás hélio e a segunda com argônio. No J-Plasma (Renuvion) o parâmetro de potência de plasma foi de 80%; fluxo de 2 litros/min de gás hélio, com 4 ciclos de passagem em cada área aplicada de ida/vota. Como visto na (Figura 1A), se demarca uma área de 4 cm em todos os pacientes, e na (Figura 1B) observamos a medição com adipômetro de alumínio, previamente esterilizado e graduado em milímetros com abertura de medição.
Após os procedimentos cirúrgicos supramencionados, utilizamos a peça estéril de mão Renuvion, um dispositivo monopolar acoplado a um gerador compatível empregando energia de radiofrequência e plasma de hélio (9). O gerador, com uma potência ajustável de até 40 W (expressa como 0 - 100%, onde 100% é 40 W), proporciona a energia de radiofrequência ao equipamento, a qual é empregada para ativar o eletrodo e, ao direcionar certa vazão de gás hélio (i.e., fluxo de gás ajustável de 1 - 5 L/Min) através do eletrodo energizado (150 mA a 250 mA), resulta na criação de plasma de hélio para realizar corte, coagulação ou ablação de tecidos moles (10). O plasma de hélio promove a contração da pele por aquecimento dos tecidos a temperaturas maiores do que 85ºC (11). O Renuvion possui um eletrodo não extensivo, apresentando dois comprimentos diferentes: 15 cm - disponível em configuração de porta única, bem como porta dupla, oferecendo flexibilidade em intervenções cirúrgicas - e 27 cm, disponibilizado apenas na configuração de porta dupla.
Também utilizamos a tecnologia de plasma com argônio (i.e., Argoplasma). O método é bastante semelhante ao Renuvion. O Argoplasma é um aparelho de retração de pele (Figura 3A) que tem sua cânula de dimensões semelhantes a uma cânula de lipoaspiração. Após a lipoaspiração, ele é introduzido pelo orifício da mesma e dentro libera calor do jato de plasma de argônio, fazendo com que as fibras que ligam a derme aos planos mais profundos se retraiam, gerando retração e reduzindo a flacidez da pele acima. Além da contração primária, ele também faz um estímulo intenso de colágeno que resulta em uma segunda onda de retração (Figura 3B).
Na figura 4A é possível observar os parâmetros do Renuvion utilizados em todos os pacientes: Blend II = 040; Spray= 050; Std=050; 70% de potência; e Fluxo de gás de 1.5 L/Min. No Argoplasma foi utilizado um fluxo de argônio de 80% com 2L/Min.
A seleção criteriosa dos pacientes, bem como a gestão cautelosa das expectativas são cruciais, pois os resultados clínicos da radiofrequência ainda apresentam previsibilidade e reprodutibilidade limitadas. No presente estudo 15 pacientes foram submetidos previamente à cirurgia de lipoaspiração, a faixa etária variando de 33 a 43 anos de idade (Tabelas 1 e 2) e IMC variando entre 21.5 e 35.2 (média 28.3).
Nas variáveis que foram levadas em consideração para a aplicação do método estão incluídos: antecedentes cirúrgicos e patológicos, utilização prévia de alguma tecnologia de retração cutânea. Todos os pacientes são do sexo feminino e não se levou em consideração variantes como raça.
As áreas corporais nos quais os procedimentos foram realizados incluem as regiões supraumbilical, infraumbilical, flancos e púbis. Em todos os casos foram feitas medidas antes e após o uso da tecnologia.
No período de quatro meses de agosto a novembro do ano do 2023, foi feito um trabalho prospectivo sobre as tecnologias empregadas, bem como a análise sistemática dos resultados advindos da utilização da radiofrequência gerada pelos equipamentos do J-Plasma (Renuvion) e Argoplasma, após cirurgias plásticas.

Resultado

A totalidade dos pacientes, em ambos os equipamentos utilizados, experimentaram algum grau na redução da flacidez da pele. No presente estudo observou-se que os pacientes obtiveram resultados visíveis de maneira rápida, na maioria das vezes em apenas uma semana após o procedimento (Tabelas 3 a 5). Entretanto, do ponto de vista clínico, tais resultados tornaram-se mais perceptíveis.
As figuras 6 a 9 mostram alguns resultados da lipoaspiração seguida do Renuvion, todos atendendo plenamente as expectativas dos pacientes. Alguns estudos demonstram resultados ainda melhores de contração da pele após seis meses do tratamento (12). Tais observações coadunam com os resultados de diversas pesquisas que têm acompanhado os efeitos do calor produzido pela radiofrequência na estimulação da contração do colágeno, bem como na colagênese e elastogênese, os quais podem resultar em um processo de remodelagem que ocorre durante o tratamento e continuar por vários meses após a aplicação (13-17).
Há uma variedade de publicações científicas que corroboram e fornecem embasamento quanto à segurança da radiofrequência em diversos tratamentos estéticos (18).
Das 15 pacientes, quatro (26%) apresentaram eventos adversos. Duas pacientes apresentaram fibrose e quatro apresentaram seroma. Não obstante o valor percentual relativamente alto, as fibroses e os seromas foram plenamente tratados com terapia manual, compressões com placa e espuma, bem como exercícios ativos e passivos por fisioterapeuta, com o tempo do tratamento determinado pela evolução de cada paciente (Figs. 10 e 11). Todas as pacientes foram posteriormente avaliadas baseadas em anotações de visitas pós-operatórias e avaliação de fotografias pós-operatórias durante o período de acompanhamento.

Discussão

A medicina tem evoluído muito com os avanços tecnológicos, sendo que até alguns anos atrás, as escolhas para tratar a flacidez cutânea eram quase que exclusivamente cirúrgicas. No entanto, com a introdução da radiofrequência e de outros dispositivos que usam diversas fontes de energia para contrair os tecidos de maneira não invasiva, houve uma grande evolução e novas alternativas surgiram (19,20). A eficácia dos efeitos térmicos da radiofrequência no enrijecimento da pele é estatisticamente inegável, não obstante seja fundamental reconhecer que esses efeitos podem ser parcialmente imprevisíveis. Uma possível explicação para isso é a dificuldade de ajustar a potência fornecida de acordo com as diferentes impedâncias da pele em indivíduos variados (21). Os dispositivos de radiofrequência percutâneos e subcutâneos geram calor, que se origina da resistência dos tecidos na derme e na gordura. Isso culmina com a promoção de neocolagênese, remodelação da matriz dérmica e leve redução de adipócitos. Adicionalmente, a aplicação mais profunda de plasma de hélio frio resulta na contração dos tecidos moles. Isso demonstra como a frequência é um parâmetro de extrema relevância, haja vista que a profundidade de penetração é inversamente proporcional a esta.
Os resultados do presente trabalho mostraram uma boa eficiência das tecnologias Renuvion e Argoplasma para o remodelamento do colágeno e consequente retração da pele. No entanto a amostragem de dados é relativamente baixa para tecer maiores considerações estatísticas. Como efeitos secundários, foi possível observar uma melhora da circulação sanguínea, uma vez que há um aumento na vasodilatação com resultados semelhantes aos descritos na literatura por Atiyeh e Dibo (2009).
O uso dessas duas tecnologias empregadas, mesmo que se sigam os protocolos recomendados, podem envolver diversos riscos, que dependem da experiência e destreza do cirurgião, incluindo, mas não se limitando a queimaduras não intencionais, fibrose, cicatrizes, lesões nervosas, dor, desconforto, acúmulo de gases, levando a crepitação ou desconforto temporário, infecção, hematoma, seroma, assimetria ou um resultado estético insatisfatório. O risco aumenta com pacientes que já passaram por esse procedimento anteriormente (11).

Conclusão

Os resultados mostram que houve contração da pele, fornecendo ótimos resultados nas pacientes submetidas à tecnologia de radiofrequência, assim como também foram beneficiadas por uma melhora da circulação sanguínea. Destaca-se ausência de riscos elevados uma vez seguidos os protocolos recomendados quando realizados após a lipoaspiração, em comparação à lipoaspiração isolada. Essas constatações fortalecem o respaldo às indicações para o uso desse procedimento. Estudos prospectivos devem ser realizados para verificar a manutenção dos resultados obtidos no pós operatório tardio. Dos dois casos em que ocorreram fibroses pontuais, 100% foram tratadas com fisioterapia, sendo que todos os resultados finais mostraram-se relativamente superiores ao procedimento em que foi realizado exclusivamente a lipoaspiração convencional. Sendo assim, o uso de radiofrequência se mostrou uma técnica eficaz, que potencializa os resultados estéticos da lipoaspiração, atuando na retração e melhoria da pele, agregando resultados clínicos a tais procedimentos.

Referências

BELENKY, I., 2012. Exploring Channeling Optimized Radiofrequency Energy: a Review of Radiofrequency History and Applications in Esthetic Fields. Adv Ther.; 29(3):249-66. 1,2
BLUGERMAN, G., SCHAVELZON, D., PAUL, M. D., 2010. A safety and feasibility study of a novel radiofrequency-assisted liposuction technique. Plast Reconstr Surg; 125(3): 998–1006
CHEN, S. S., WRIGHT, N. T., 1997. Humphrey JD. Heat-induced changes in the mechanics of a collagenous tissue: isothermal free shrinkage. J Biomech Eng;119(4): 372-8
CARVALHO, G. F., 2011. Avaliação dos efeitos da radiofrequência no tecido conjuntivo. Rev Bras Med.; 68(2 N. Especial)
RUSCIANI, A., CURINGA, G., MENICHINI, G., ALFANO, C., RUSCIANI, L., 2007. Nonsurgical tightening of skin laxity: a new radiofrequency approach. J Drugs Dermatol.; 6(4): 381-6
HURWITZ, D., SMITH, D., 2012. Treatment of overweight patients by radiofrequency- -assisted liposuction (RFAL) for aesthetic reshaping and skin tightening. Aesthetic Plast Surg.; 36(1): 62-71
SHUMAKER, P. R., ENGLAND, L. J., DOVER, J. S., ROSS, E. V., HARFORD, R., DERIENZO, D., BOGLE, M., UEBELHOER, N., JACOBY, M., POPE, K., 2006. Effect of monopolar radiofrequency treatment over soft-tissue fillers in an animal model: part 2. Lasers Surg Med.; 38(3): 211-7
CHOI, Y. J., LEE, J. Y., AHN, J. Y., KIM, M. N., Park, M. Y., 2012. The safety and efficacy of a combined diode laser and bipolar radiofrequency compared with combined infrared light and bipolar radiofrequency for skin rejuvenation. Indian. J Dermatol Venereol Leprol.; 78(2): 146-52
HASSUN, K. M., BAGATIN, E., VENTURA, K. F., 2008. Radiofrequência e infravermelho: Rev Bras Med.; 65 (N. Especial): 18-20
COLLAWN, S. S. F., 2010. Skin tightening with fractional lasers, radiofrequency, Smartlipo. Ann Plast Surg.; 64(5): 526-9
GOLDBERG, D. J., 2004. Nonablative laser technology Radiofrequency. Aesthet Surg J.; 24(2): 180-1.

Palavras Chave

Radiofrequência; Lipoaspiração; tecnologia.

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Serviço de pós graduaçao Prof. Ronaldo Pontes - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

EDUARDO ROVARIS SARTORETTO, FERNANDO VOTRI, ARTHUR SCHWAB SANTOS, RUBEM BERNARDO BARTZ, GISELA HOBSON PONTES