60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

ANALISE DAS CIRURGIAS DE MASTECTOMIA MASCULINIZADORA NO HOSPITAL UNIVERSITARIO DA U.F.J.F. REALIZADAS NO ANO 2023 E 2024: ESTATISTICA E PESQUISA DE SATISFAÇAO

Resumo

A mastectomia transsexualizadora, também conhecida como mastectomia masculinizadora, é um procedimento cirúrgico crucial para indivíduos transgêneros masculinos que buscam alinhar suas características físicas com sua identidade de gênero. Este procedimento não apenas remove o tecido mamário, mas também tem um impacto significativo na saúde mental e bem-estar psicossocial dos pacientes, reduzindo a disforia de gênero e promovendo uma maior congruência corporal. No contexto brasileiro, a demanda por cirurgias de afirmação de gênero tem crescido, refletindo uma maior visibilidade e aceitação das questões transgêneras.
Este estudo tem como objetivo analisar as cirurgias de mastectomia transsexualizadora realizadas no Hospital Universitário da UFJF durante os anos de 2023 e 2024. A análise inclui a avaliação estatística dos resultados cirúrgicos e a pesquisa de satisfação dos pacientes, buscando compreender melhor os impactos deste procedimento tanto em termos estéticos quanto psicossociais. A investigação pretende fornecer dados valiosos que possam orientar futuras práticas clínicas e contribuir para a melhoria contínua dos cuidados oferecidos a pacientes transgêneros.
Ao explorar a satisfação dos pacientes e os resultados estéticos, este estudo também pretende identificar áreas para aprimoramento técnico e sugerir recomendações para a prática clínica.

Introdução

A mastectomia transsexualizadora, também conhecida como mastectomia masculinizadora, é um procedimento cirúrgico crucial para indivíduos transgêneros masculinos que buscam alinhar suas características físicas com sua identidade de gênero. Este procedimento não apenas remove o tecido mamário, mas também tem um impacto significativo na saúde mental e bem-estar psicossocial dos pacientes, reduzindo a disforia de gênero e promovendo uma maior congruência corporal. No contexto brasileiro, a demanda por cirurgias de afirmação de gênero tem crescido, refletindo uma maior visibilidade e aceitação das questões transgêneras. O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem desempenhado um papel importante ao oferecer serviços de saúde especializados para a população transgênero.
Ao coomprender a importancia da mastectomia masculinizadora e os desafios enfrentados por essa população, os profissionais de saude estarão mais bem preparados para oferecer um cuidado compassivo inclusivo e culturalmente senwivel a individuos em busca de autenticidade de genero.
A masculinização torácica com mastectomia masculinizadora para transexuais de mulher para homem geralmente é o primeiro e mais importante passo no processo de redesignação de gênero. O principal objetivo desse procedimento é obter um contorno torácico esteticamente agradável com cicatriz mínima.
A cirurgia de mastectomia masculinizadora envolve mais que uma simples mastectomia, como as utilizadas no tratamento do câncer de mama.
Por causa do tórax feminino subjacente, os pacientes interessados na masculinização do tórax oferecem desafios únicos aos cirurgiões. Fatores-chave como maior volume de mama feminina, maior grau de excesso de pele, qualidade do tecido mamário, ptose e má qualidade da pele quanto a sua elasticidade e tensão devido a anos de terapia hormonal determinam a técnica ideal e o resultado estético final positivo.
Assim, a técnica é altamente dependente do tamanho da mama, grau de excesso de pele e elasticidade, tamanho e posição do CAP.
Ao explorar a satisfação dos pacientes e os resultados estéticos, este estudo também pretende identificar áreas para aprimoramento técnico e sugerir recomendações para a prática clínica. Em última análise, nosso objetivo é garantir que a mastectomia transsexualizadora no Hospital Universitário da UFJF não apenas atenda, mas supere as expectativas dos pacientes, promovendo seu bem-estar e saúde integral.

Objetivo

Esse trabalho tem como objetivos:
1. Analisar o perfil dos pacientes submetidos a cirurgias da mastectomia transexulaizadora no Hospitsl Universitario da Universade Federal de Juiz De Fora, levando em consideração variaveis como idade e tempo de terapia hormonal e de acompanhamento multidisciplinar.
2. Realizar uma analise, incluindo o numero de procedimentos, ténica indicada, complicações, tempo de internação , entre outros aspectos relevantes.
3. Investigar a satsfação dos pacientes submetidos a mastectomia transexulaizadora no Hospital Universitario da U.F.J.F. por meio de um questionario avaliando aspectos como qualidade do atendimento, suporte pré e pósperatorio, resultados esteticos e impacto na qualidade de vida.

Método

Desenho do Estudo: Este é um estudo transversal descritivo que analisa os resultados cirúrgicos e a satisfação dos pacientes submetidos à mastectomia transsexualizadora no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) nos anos de 2023 e 2024.
População e Amostra: A população do estudo inclui todos os pacientes transgêneros masculinos que realizaram a mastectomia transsexualizadora no Hospital Universitário da UFJF entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024. A amostra foi composta por pacientes que consentiram em participar da pesquisa de satisfação e tiveram seus dados clínicos disponibilizados para análise estatística.
Coleta de Dados: Dados Demográficos e Clínicos: Foram coletadas informações sobre idade, índice de massa corporal (IMC), histórico médico, e detalhes do procedimento cirúrgico, incluindo técnica utilizada e tempo de recuperação.
Pesquisa de Satisfação dos Pacientes: A satisfação dos pacientes foi avaliada por meio de um questionário, que incluía questões sobre satisfação geral com o resultado cirúrgico, percepção da qualidade estética, e impacto psicossocial da cirurgia.

Resultado

Foram realizadas nove cirurgias de mastectomia masculinizadora entre agosto de 2023 e maio de 2024. A idade média dos pacientes foi de 33,33 anos (faixa etária entre 29 e 42 anos). O índice de massa corporal (IMC) médio foi de 25,17 (entre 20,02 e 29,8). Todos os pacientes (100%) tinham história de receber terapia hormonal antes da cirurgia. O tempo medio de terapia hormonal foi de 5 anos (entre 3 e 7 anos). Além disso, todo paciente foi submetido a uma avaliação psicológica além de avaliação com endocrinologista, ginecologista e assistente social. Seis (66,66%) dos pacientes negava antecedente patologico, um (11,11%) referia diabetes e hipertensão arterial; um (11,11%) apresentava hipertiroidismo e um (11,11%) hipotiroidismo. A respeito do desejo de realizar outros procedimento dentro do processo transexualizador: tres pacientes (33,3) gostariam de realizar histerectomia, um paciente (11,11%) ooforectomia ; um paciente ( 11,11%) redessignação de sexo e quatro (44,4%) não desejam realizar nenhum outro procedimento cirurgico no momento. Foram realizados no pre operatorio hemograma, ureia, creatinina, coagulograma, glicose, risco cardiologico. Um exame ultrassonográfico das mamas foi realizado para avaliar a existência de tecido glandular e excluir qualquer tumoração patológica em todos os casos.
Oito pacientes foram submetidos a mastectomia com dupla incisão associada ao enxerto livre de CAP. Um paciente foi sumetido a mastectomia subcutânea com incisão periareolar semicircular , ja que apresentava pouco volume mamario, ptose grau I, boa elasticidade da pele e pouco excesso cutaneo. Lipoaspiração não foi associada nestes procedimentos cirúrgicos.
A taxa de complicações maiores foi de 11,11%, sendo um paciente que apresentou hematoma no primeiro dia pósoperatorio, que optpu-se por drenar no centro cirurgico. Complicações menores foram: hematoma pequeno (11,11%), que foi puncionados e esvaziados no consultório, sem necessidade de nova abordagem cirúrgica. Distúrbios cicatriciais foram encontrados os seguintes: dog ear unilateral (11,11%). Este paciente foi submetido a revisão de cicatriz com meses de pósoperatorio.
Outras complicações locais não foram encontradas, tais como: grande deiscência, necrose cutânea, perda total do enxerto do CAP, infecção ou assimetrias evidentes; bem como sistêmicas: trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar, embolia gordurosa ou óbito. Todas as mamas foram enviadas para diagnóstico anatomopatológico, que acusaram ausência de malignidade em todas as peças cirúrgicas. Oito pacientes receberam alta no dia seguinte da cirurgia, sendo o paciente que evolui com hematoma o único que recebe alta no segundo dia pósoperatorio.Todos os pacientes retornaram com 1 semana no ambulatorio para acompanhamento. Um segundo retorno se da uma semana após o primeiro e o terceiro retorno com 1 mes de pósoperatorio
Foi realizado uma pesquisa de satisfação que revelou que todos os pacientes submetidos a mastectomia masculinizadora estão extremamente satisfeitos com o resultado (10 em um escala de 0 a 10), referindo pouco disconforto no pósoperatorio, recuperação rápida e com um impacto positivo na autoconfiança e bem estar emocional. Quando questionados a respeito da perda de sensibilidade da areola , todos os pacientes sumetido a enxerto de CAP referem que preferem o menor volume mamario possivel , sendo a sensibilidade um aspecto secundario ou indiferente.

Discussão

O transexualismo masculino é um distúrbio de identidade (disforia) de gênero. Esses indivíduos acreditam que foram criados no corpo do gênero errado, sofrem de persistente desconforto psicológico relacionado ao seu sexo anatômico e desejam viver e ser aceitos permanentemente no papel social do gênero masculino. A masculinização torácica com mastectomia masculinizadora para transexuais de mulher para homem geralmente é o primeiro e mais importante passo no processo de redesignação de gênero. O principal objetivo desse procedimento é obter um contorno torácico esteticamente agradável com cicatriz mínima.
Sobre as bases legais atuais das cirurgias de transexuais, a Resolução no 2.265, de 20 de setembro de 2019, do Conselho Federal de Medicina, corroborado por publicação no Diário Oficial da União dia 09/01/2020 (edição 6, seção 1, página 96), define a idade mínima de 18 anos para a as cirurgias mamárias de retribuição sexual, como a mastectomia simples bilateral (masculinizadora) e 16 anos para hormonioterapia, bem como um ano de acompanhamento psiquiátrico mínimo.
A cirurgia de mastectomia masculinizadora envolve mais que uma simples mastectomia, como as utilizadas no tratamento do câncer de mama. Por causa do tórax feminino subjacente, os pacientes interessados na masculinização do tórax oferecem desafios únicos aos cirurgiões. Fatores-chave como maior volume de mama feminina, maior grau de excesso de pele, qualidade do tecido mamário, ptose e má qualidade da pele quanto a sua elasticidade e tensão devido a anos de uso de faixas compressivas e terapia hormonal determinam a técnica ideal e o resultado estético final positivo.
Assim, a técnica é altamente dependente do tamanho da mama, grau de excesso de pele e elasticidade, tamanho e posição do CAP.
Para se obter resultados satisfatórios na cirurgia de mastectomia masculinizadora o cirurgião deve se atentar para as diferenças entre a anatomia mamária feminina e masculina, o contorno da parede torácica, a redução do tecido mamário e excesso de pele, o posicionamento adequado do complexo aréolo-papilar (CAP), a obliteração do vinco inframamário e a minimização de cicatrizes da parede torácica.
Grande parte do sucesso da criação de um tórax de aparência masculina depende da localização e da forma do complexo areolopapilar (CAP), que comparado com os femininos é geralmente menor, mais ovoide e localizado no quarto ou quinta costela sobre o peitoral.
Os altos resultados de satisfação dos pacientes reforçam nossa hipótese de que este procedimento tem não apenas impacto estético, mas também forte impacto psicossocial. A experiência de ter um corpo físico que está em contraste com a identidade de gênero pode ser uma fonte de sofrimento crônico. Estudos sugerem que o corpo físico em si é a principal fonte de insatisfação e sofrimento nesses pacientes. Componentes psicossociais e de qualidade de vida parecem elevar a visão dos pacientes sobre os resultados porque a cirurgia permitiu que eles alcançassem um corpo mais próximo do gênero autoidentificado.

Conclusão

Apesar das variações nos resultados estéticos, a maioria dos pacientes relatou um alto nível de satisfação com os resultados da cirurgia. Isso destaca o impacto positivo da mastectomia masculinizadora na qualidade de vida e bem-estar psicossocial dos pacientes transgêneros. A satisfação elevada dos pacientes, ressalta a importância do procedimento para a identidade de gênero e a saúde mental dos indivíduos. A cirurgia permitiu que os pacientes se sentissem mais alinhados com sua identidade de gênero, reduzindo a disforia de gênero e aumentando a resiliência pessoal.
Este estudo confirma a importância da mastectomia masculinizadora para pacientes transgêneros e sugere que, apesar de algumas limitações técnicas, a cirurgia é amplamente bem-sucedida em melhorar a satisfação e a qualidade de vida dos pacientes. O aprimoramento contínuo das técnicas cirúrgicas e o cuidado centrado no paciente são essenciais para maximizar os benefícios desta importante intervenção médica.
As limitações incluem uma amostra relativamente pequena e a ausência de seguimento a longo prazo dos pacientes. Futuras pesquisas devem incluir uma maior diversidade de participantes e avaliar os resultados ao longo do tempo para obter uma compreensão mais abrangente dos benefícios da mastectomia masculinizadora.

Referências

1. Miszewska C. et al. Female-to-Male Chest Surgery in Transgender Patients: A Comparison Between 2 Different Techniques and a Satisfaction Study in a Single Center. Aesthet Surg J Open Forum. 2024 Feb 13;6
2. Sundhagen HP et al. Chest Wall Contouring in Transgender Men: A 20-Year Experience from a National Center. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2023 Apr 28;11(4)
3.CONTE CHR, et al. Técnica de mastectomia masculinizadora (FTM) - Interpretação pessoal. Rev. Bras. Cir. Plást.2019;34(0):45-47
4. Marques BPDA, et al. Mastectomia masculinizadora para redesignação de gênero de transexuais masculinos. Rev. Bras. Cir. Plást. 36 (04) • 2021

Palavras Chave

Mastectomia Transgênero; mastectomia masculinizadora; Cirurgia de Afirmação de Gênero

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

HOSPITAL UNIVERSITARIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - Minas Gerais - Brasil

Autores

CLÁUDIA YANINA GARCIA TORREZ, LARISSA SILVA LEITÃO DARODA, BRUNO PORTES MOREIRA, RODRIGO FERREIRA TOLEDO, CRISTIANO ALVES DE SOUZA