Dados do Trabalho
Título
EXPERIENCIA DO SERVIÇO DE CIRURGIA PLASTICA DO HOSPITAL DO SERVIDOR PUBLICO MUNICIPAL DE SAO PAULO EM RITIDOPLASTIA NOS ULTIMOS CINCO ANOS
Resumo
A busca por procedimentos cirúrgicos estéticos de rejuvenescimento facial tem crescido ao longo dos últimos anos e, por conseguinte, as cirurgias da face tem sido cada vez mais procuradas. Em vista disso, o presente estudo tem como escopo analisar a experiência do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo (HSPM-SP) na cirurgia de ritidoplastia ao longo dos últimos cinco anos. Foram avaliados, durante o período de janeiro 2018 a janeiro de 2023, todos os pacientes submetidos a este procedimento.
Introdução
O envelhecimento tem preocupado a humanidade durante muito tempo. Em vista disso, ao longo dos últimos anos, tem crescido a procura por procedimentos estéticos para rejuvenescimento da face, principalmente o lifting facial ou ritidoplastia.
Dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) demonstram que cerca de 24 milhões de cirurgias estéticas foram realizadas em todo mundo no ano de 2019, sendo o Brasil o segundo país que mais realizou procedimentos cirúrgicos.
Concomitante ao aumento da procura pela plástica facial vem os resultados satisfatórios e as complicações inerentes às cirurgias, cuja frequência pode depender, entre outros fatores, do procedimento utilizado.
Diante do exposto, o pleno conhecimento do perfil epidemiológico, bem como do levantamento relacionado as técnicas cirúrgicas empregadas como terapêutica para os pacientes com flacidez facial, permite que o Serviço de Cirurgia Plástica do HSPM se adeque e proporcione um melhor tratamento para os seus pacientes.
Objetivo
Analisar o perfil epidemiológico dos pacientes submetidos a ritidoplastia, no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, bem como as técnicas cirúrgicas utilizadas no tratamento, além de evidenciar a importância do conhecimento técnico e epidemiológico a fim de promover um melhor tratamento para os pacientes que irão se submeter a tal procedimento.
Método
A pesquisa consiste em um estudo descritivo, retrospectivo e de natureza quantitativa.
A pesquisa analisou, através da revisão de prontuários e registros fotográficos, pacientes que foram submetidos a cirurgia de ritidoplastia pela clínica da Cirurgia Plástica, entre o período de janeiro de 2018 a janeiro de 2023. Todos os pacientes tinham o diagnóstico prévio de flacidez facial e alguns também com flacidez cervical, buscavam a melhora eletiva da aparência da face/pescoço.
Foram avaliados o número de pacientes, sexo, idade, índice de massa corpórea (IMC), comorbidades, tabagismo, técnica cirúrgica, tipo de anestesia empregada e as complicações peri e pós operatórias relacionadas à técnica cirúrgica utilizada.
Os dados coletados foram, posteriormente, alocados em tabelas do Excel para cálculos das médias, prevalência e comparação de resultados com literatura.
Resultado
No período de janeiro de 2018 a janeiro de 2023, foram incluídos 63 pacientes no presente estudo. Tais pacientes obedeceram aos critérios de inclusão: serem portadores de flacidez facial/cervical e terem sidos atendidos pelo Serviço de Cirurgia Plástica do HSPM.
Os pacientes avaliados possuíam idade entre 43 e 72 anos, média de 59,8 anos, sendo que desses 8% (5) eram do sexo masculino (M) e 92% (58) do sexo feminino (F). Quando analisamos os pacientes por faixa etária, constatamos que tivemos 1,58 % (1) dos pacientes na faixa etária entre 30 – 45 anos; 55% (35) dos pacientes estavam na faixa etária entre 46 – 60 anos, e 43,42% (27) pacientes encontravam-se entre 61 – 75 anos e 0% (zero) acima de 75 anos de idade.
No que tange ao Índice de Massa Corpórea (IMC), 47,6% (30) possuíam um IMC normal (entre 18,5 – 24,99), 49,2% (31) eram portadores de sobrepeso (entre 25 – 29,99) e 3,2% (2) pacientes eram portadores de obesidade grau I.
Ao considerarmos as comorbidades que acometem os pacientes da nossa amostra, 6% (4) apresentavam apenas Diabetes Mellitus (DM), enquanto 31% (20) apenas Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), 7,9% (5) eram portadores de hipotireoidismo. 4,7% (3) apresentavam HAS e DM, enquanto 7,9% (5) eram portadores de HAS e hipotireoidismo. Além desses acometimentos, pôde-se observar que 36% (23) não possuíam qualquer tipo de comorbidade, no momento da coleta de dados.
A respeito das técnicas cirúrgicas oferecidas aos pacientes com flacidez facial, foram realizadas 92% (58) com utilização da técnica convencional, 5% (3) com uso da técnica de tunelização (Dilson Luz) e 3% (2) técnica Deep Plane. Em 56% (35) das cirurgias foi empregada sedação e anestesia local, já em 44% (28) foi utilizada anestesia geral endovenosa.
Do número total das cirurgias, 15% (10) evoluiu com alguma complicação. 9 % (6) hematoma, 3% (2) necrose, 3% (2) fibrose. 50% (1) das cirurgias com utilização da técnica Deep Plane evoluíram com hematoma. Já, 66% dos pacientes submetidos a Tunelização Progressiva evoluíram com hematoma. Os pacientes com hematoma foram tratados com drenagem e acompanhamento ambulatorial, sem comprometimento do resultado final. Pacientes que evoluíram com necrose foram tratados com desbridamento e posterior ressutura, todos os casos com boa evolução. Já os pacientes com fibrose foram tratados com infiltração de corticoide (Triancinolona), todos com bons resultados.
Discussão
Em razão do processo de envelhecimento, todos os tecidos da face são afetados de diferentes maneiras: a pele perde elasticidade, ocorre reabsorção de gordura, os músculos perdem o tônus e volume. Além disso, há diminuição na volumetria óssea, ocasionando aumento da flacidez dos tecidos moles sobrejacentes que dependem desses para sustentação.
Historicamente, a cirurgia plástica estética é considerada um procedimento seguro. Entretanto, assim como em toda cirurgia, na ritidoplastia o paciente está vulnerável a complicações. Segundo Rod J. Rohrich, fotografias faciais padronizadas são obtidas, tornando-se essenciais para o planejamento pré-operatório, aconselhamento do paciente e fins médico-legais. Em vista disso, todos os pacientes foram submetidos a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, além de uma seção de fotografias antes das cirurgias, no pré-operatório.
Analisando os dados obtidos durante o período em que o estudo foi realizado, nota-se que os pacientes eram majoritariamente idosos, ou seja, maiores que 60 anos. Entretanto, através de uma triagem pré-operatória adequada, os pacientes na faixa etária avançada podem ser submetidos à cirurgia do lifting facial com risco relativamente baixo. Uma revisão retrospectiva com 216 casos de ritidoplastias realizadas por um único cirurgião, no período de três anos, comparou pacientes acima e abaixo de 65 anos de idade. Os autores descobriram que os pacientes mais velhos tinham uma classificação de risco pré-operatória mais alta da American Society of Anesthesiologists (ASA), porém, não houve diferenças de complicações pós operatórias entre os grupos.
Além disso, é possível observar que a procura por cirurgias de rejuvenescimento facial é maior entre as mulheres, apesar do interesse crescente por parte do gênero masculino. Segundo dados estatísticos da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, em 2020, 18.024 ou 9% das ritidoplastias foram realizadas em homens. Já no ano de 2017, esse número foi de 11.719 ou 8% das cirurgias.
As comorbidades mais comumente encontradas nos pacientes deste estudo foram: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus e Hipotireoidismo. A Hipertensão Arterial Sistêmica, a semelhança do que mostra alguns outros estudos, foi a patologia mais comum entre os pacientes submetidos a ritidoplastia no HSPM.
Existem várias técnicas cirúrgicas que visam atenuar os efeitos da idade, sejam através de descolamentos profundos de SMAS, subperiostais, High SMAS, descolamentos subcutâneos, entre outros. Ao serem comparadas, algumas técnicas apresentam resultados belíssimos, mas com maior risco de complicações. No presente estudo, foram utilizados três planos cirúrgicos: Técnica Convencional com plicatura do SMAS e ressecção do excedente de pele, Técnica da Tunelização Progressiva (Dilson Luz) e o Deep Plane.
Entre as complicações observadas, dois casos de fibrose e um de hematoma ocorreram após aplicação na técnica Deep Plane. Um caso de hematoma deu-se após uso da Técnica de Tunelização (Dilson Luz). Nenhum caso de necrose ou alteração da sensibilidade motora foi observado.
A presença de hematoma foi registrada em 9% dos casos, sendo realizada abordagem cirúrgica após a detecção. Número que corresponde a 5,5%, acima da média de acordo com os estudos de Baker, de 1983, no qual 3,5 % dos casos apresentaram hematomas, e de 2005, juntamente com o de Baker et al., no qual a essa complicação ocorreu em 4,25% dos casos. Além disso, no nosso estudo, foi observado uma maior prevalência dos hematomas no gênero do sexo masculino, semelhante ao que Rohrich et al. concluíram em seu estudo.
A literatura descreve que a necrose cutânea é observada em cerca de 3,6% dos casos de ritidoplastia convencional e cerca de 1% nas dissecções em planos profundos (Deep Plane). No presente estudo foi observado 3% dos casos com necroses, durante os últimos cinco anos. Todos os casos foram relatados após a técnica convencional.
A ritidoplastia é uma cirurgia considerada segura, porém não está isenta de complicações. Por isso, se faz necessário uma adequada avaliação pré-operatória do paciente, além de um profundo conhecimento anatômico da face e região cervical, afim de minimizar os riscos de contratempos. O bom relacionamento com o paciente através de um diálogo verdadeiro e o gerenciamento das expectativas são fundamentais para manter um grau de satisfação aceitável, ainda que diante de complicações inevitáveis.
Mesmo diante uma variedade de técnicas e métodos terapêuticos que surgem diariamente, durante o nosso estudo foi observado uma maior predominância na aplicação da técnica convencional da ritidoplastia (abordagem subcutânea com plicatura do SMAS). Além disso, tal método cirúrgico mostrou ser o que menos complicações apresentou em comparação com a Tunelização Progressiva e Deep Plane.
Conclusão
Conclui-se, portanto, que a técnica convencional de ritidoplastia foi o procedimento cirúrgico que mostrou-se o mais seguro e com menos complicações para o tratamento da flacidez facial nas mãos dos assistentes e residentes da cirurgia plástica do HSPM-SP.
Referências
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Palavras Chave
Ritidoplastia; face.
Arquivos
Área
Cirurgia Plástica
Categoria
Cirurgia Plástica
Instituições
HOSPITAL DO SERVIDOR PUBLICO MUNICIPAL DE SAO PAULO - São Paulo - Brasil
Autores
STEPHANIE PANIZZON, PEDRO EDUARDO DE OLIVEIRA CARTAXO, LEANDRO DE PAULA GREGORIO, EDUARDO PAULINO DE OLIVEIRA, JOSE AUGUSTO CALIL, ROBERTO LUIZ SODRÉ