60º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica

Dados do Trabalho


Título

SINDROME DE MONDOR POS CIRURGIA DAS MAMAS: ANALISE RETROSPECTIVA.

Resumo

A Síndrome de Mondor é uma condição rara caracterizada por tromboflebite superficial das veias torácicas, frequentemente associada a trauma, infecções, neoplasias ou causas idiopáticas. Este estudo retrospectivo analisou o prontuário de 652 pacientes submetidas a cirurgia mamária ao longo de 10 anos no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), para avaliar a incidência da Síndrome de Mondor. Os procedimentos cirúrgicos incluíram mamoplastia de aumento, mastopexia, reconstrução mamária e mamoplastia redutora. A condição foi confirmada por exame físico e ultrassonografia (ecodoppler). Dos 652 casos, 3 (0,46%) desenvolveram Síndrome de Mondor e apenas uma necessitou tratamento, realizado com calor local e anti-inflamatórios não hormonais. A síndrome, apesar de benigna e autolimitada, é subdiagnosticada devido à sua apresentação clínica inespecífica. Este estudo sublinha a necessidade de diagnóstico precoce e manejo adequado para minimizar o desconforto do paciente. A condição tem um bom prognóstico, geralmente resolvendo-se em 2 a 8 semanas, mas a recorrência é possível. Estudos futuros são necessários para aprofundar a compreensão dos mecanismos fisiopatológicos e melhorar as estratégias de tratamento.

Introdução

A Síndrome de Mondor, também denominada Doença de Mondor, é uma condição rara caracterizada pela tromboflebite superficial das veias torácicas. Frequentemente envolve as veias subcutâneas da parede torácica anterior, região mamária ou abdominal superior. Primeiramente descrita por Henri Mondor¹ em 1939, a condição é clinicamente identificada pela presença de um cordão subcutâneo palpável, muitas vezes doloroso. Sua etiologia pode estar relacionada a trauma, infecções, neoplasias ou causas idiopáticas². A incidência é relativamente baixa, tornando a condição um desafio diagnóstico³.

Objetivo

A baixa incidência da Síndrome de Mondor, aliada à diversidade de suas causas e manifestações clínicas, justifica a realização de estudos retrospectivos para melhor compreensão da condição. Este estudo pretende contribuir para a literatura médica ao consolidar dados de casos registrados e oferecer uma visão mais abrangente sobre a Síndrome de Mondor e sua incidência.

Método

Foi realizada uma análise retrospectiva de casos envolvendo 652 pacientes do sexo feminino submetidas a cirurgia mamária ao longo de um período de 10 anos, conduzidas pelo autor correspondente no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS). Os procedimentos cirúrgicos incluíram mamoplastia de aumento com implantes de silicone, mastopexia, reconstrução mamária e mamoplastia redutora. A Síndrome de Mondor foi confirmada por meio de exame físico e ultrassonografia (ecodoppler) da região afetada. A incidência dessa condição foi analisada nas pacientes operadas.

Resultado

Das 652 pacientes estudadas, 3 (0,46%) desenvolveram cordões fibrosos palpáveis após a cirurgia mamária, caracterizando a Síndrome de Mondor. Duas pacientes apresentaram a condição após mamoplastia de aumento e uma após mamoplastia redutora. Nos dois casos de mamoplastia de aumento, a manifestação foi bilateral, enquanto no caso de mamoplastia redutora ocorreu unilateralmente. O início da doença ocorreu entre três semanas e 2 anos após a cirurgia. Todas as pacientes evoluíram satisfatoriamente e apenas uma necessitou tratamento, realizado com calor local e anti-inflamatórios não hormonais. Os sintomas desapareceram completamente após duas a três semanas.
Caso 1 (IMAGEM 1 - (A) Cordões fibrosos após mamoplastia redutora. (B) Paciente com Doença de Mondor em parede abdominal. ): Paciente feminina, 52 anos, submetida à mamoplastia redutora. O pós-operatório transcorreu inteiramente sem intercorrências até 9 semanas após, quando apresentou cordas fibrosas longitudinais nos vasos torácicos laterais (sob a mama esquerda) e também na parede abdominal, sem outras queixas associadas. O diagnóstico clínico foi de tromboflebite superficial (doença de Mondor) após cirurgia mamária. O cordão fibroso desapareceu espontaneamente 3 semanas depois.
Caso 2 (IMAGEM 2: (A) Tromboflebite de Mondor dois anos após mamoplastia de aumento. (B) Mesma paciente, duas semanas após tratamento clínico.): Paciente feminina, 34 anos, apresentou tromboflebite de Mondor 2 anos após a mamoplastia de aumento. Queixa de cordão fibroso endurecido e doloroso no lado esquerdo da parede toracoabdominal, de aparecimento após atividade física. Ao exame físico, apresentava mama normal, sem contratura e com cicatriz periareolar de boa qualidade. Ultrassonografia, ressonância magnética e mamografia normais. O diagnóstico foi de doença de Mondor. Foram prescritos compressas mornas e anti-inflamatórios não hormonais e os sintomas desapareceram em 2 semanas.
Caso 3 (IMAGEM 3: Doença de Mondor, cordão fibroso abaixo de mama direita, 3 semanas após implante de silicone mamário.): Paciente feminina, 38 anos, submetida a mamoplastia de aumento. O pós-operatório transcorreu sem intercorrências até a 3ª semana. A paciente observou o aparecimento de um cordão fibroso abaixo da mama direita, sem outros sintomas. O diagnóstico clínico foi de tromboflebite de veia subcutânea, como sintoma de doença de Mondor. Os sintomas desapareceram em duas semanas, sem a necessidade de instituição de qualquer tratamento.

Discussão

A Síndrome de Mondor é frequentemente subdiagnosticada devido à sua apresentação clínica inespecífica⁴. Os fatores causais são variados e incluem trauma direto, cirurgias, infecções locais, neoplasias e também pode ter origem idiopática.
Esta alteração vascular é benigna e geralmente autolimitada. Aproximadamente 75% dos pacientes são mulheres.
A incidência da doença de Mondor entre pacientes do sexo feminino com distúrbios mamários está entre 0,5% e 0,8%⁵. Na análise retrospectiva dos casos operados num intervalo, encontramos uma incidência de apenas 3 pacientes, achado semelhante aos dados da literatura médica. Os pacientes geralmente apresentam dor e a palpação revela um cordão subcutâneo rígido e doloroso, edema leve e eritema podem estar presentes e, em alguns casos, sintomas sistêmicos como febre também podem ocorrer.
O diagnóstico é essencialmente clínico, pode ser apoiado por exames de imagem para confirmar a presença de trombose venosa superficial. A abordagem terapêutica é geralmente conservadora, com o uso de anti-inflamatórios não esteroides para alívio da dor. Em casos raros, pode ser necessária intervenção cirúrgica⁶. O conhecimento por parte do cirurgião e a educação do paciente são fundamentais para o manejo adequado e prevenção de complicações. A Síndrome de Mondor possui um bom prognóstico, com resolução completa em um período aproximado de 2 a 8 semanas. No entanto, a recorrência é possível e deve ser monitorada. Se faz necessário o diagnóstico diferencial com doença neoplásica da mama.

Conclusão

A Síndrome de Mondor, apesar de rara, deve ser considerada no diagnóstico diferencial de dor torácica e mamária com presença de cordão subcutâneo palpável. O diagnóstico é essencialmente clínico, também podendo ser embasado por exames de imagem. A abordagem terapêutica é predominantemente conservadora. Este estudo retrospectivo destaca a importância do reconhecimento precoce e manejo adequado da condição para garantir a resolução rápida e minimizar o desconforto do paciente. Estudos futuros são necessários para melhor compreensão dos mecanismos fisiopatológicos e aprimoramento das estratégias de tratamento.

Referências

1 Mondor H. Tronculite sous-cutanee subaigue de la panoi thoracique antero-laterale. Mem Acad Chir 1939;65:1271-8.
2 Tijerina VN, Saenz RA. Mondor’s syndrome: a clinical finding on subfascial breast augmentation. Aesthetic Plast Surg 2010;34:531-3.
3 Salemis NS, Vasilara G, Lagoudianakis E. Mondor’s disease of the breast as a complication of ultrasound-guided core needle biopsy: management and review of the literature. Breast Dis 2015;35:73-6.
4 Pasta V, D’Orazi V, Sottile D, Del Vecchio L, Panunzi A, Urciuoli P. Breast Mondor’s disease: diagnosis and management of six new cases of this underestimated pathology. Phlebology 2015;30:564-8.
5 Masayuki Amano, Taro Shimizu, Mondor's Disease: A Review of the Literature, Internal Medicine, 2018;18:2607-2612.
6 Lhoest F, Grandjean FX, Heymans O. [Mondor’s disease: a complication after breast surgery]. Ann Chir Plast Esthet 2005;50:197-201.

Palavras Chave

Sindrome de Mondor; Complicações pós mamoplastia; Mamoplastia.

Arquivos

Área

Cirurgia Plástica

Categoria

Cirurgia Plástica

Instituições

Hospital São Lucas da PUCRS - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

ANDRESSA CAPELETTI ECHER, ALBERTO GOLDMAN, MILTON PAULO DE OLIVEIRA, LUCAS PASTORI STEFFEN, ADRIANO CALCAGNOTTO GARCIA, JULIANA CAMPELLO BECK