Aprender Criança 2024

Dados do Trabalho


Título

Do sim ao não: como a reação familiar pode impactar no (in) sucesso escolar de alunos neurodivergentes

Objetivos

Analisar de forma comparativa os desempenhos acadêmicos de dois alunos da mesma faixa etária em uma escola municipal da região de Ribeirão Preto em 2023, onde através das análises de desempenho escolar, apontou-se que os infantes, possivelmente, poderiam portar transtornos do neurodesenvolvimento. Diante de tal cenário, foi adquirida a mesma postura de atuação pedagógica e elaborado um relatório de observação dos dois alunos, em períodos diferentes, comunicando, na sequência, as famílias. Como resultado, constatou-se duas condutas antagônicas por elas, desdobrando-se em dois quadros de avanços acadêmicos distintos.

Material e Método

Diante da construção do relato de caso apresentado, foi utilizado como campo de estudo, a sala de aula, dotada de amplo aparato pedagógico para a consecução dos objetivos acadêmicos e propiciando a observação diária dos alunos, paradigmas desse trabalho. Como metodologia de produção, foi realizada a observação e registros do desempenho escolar dos alunos de forma sistemática, respaldado pela literatura científica.

Resultados

As observações foram realizadas sistematicamente com dois alunos: o aluno X, sexo masculino, completando sete anos em julho de 2023, com núcleo familiar composto por pai e mãe, participativos em todas as reuniões e eventos escolares. O aluno Y, sexo masculino, completando sete anos em dezembro de 2023, com núcleo familiar participativo e idêntico ao aluno X. Ambos vieram da mesma rede municipal de ensino e ingressaram no Ensino Fundamental, na primeira série. Nas primeiras intervenções pedagógicas, foi observado que o aluno X não estava acompanhando adequadamente os conteúdos aplicados, e por se sentar na última fila, deduziu-se que poderia ser essa a dificuldade. Foi, então, reposicionado ao primeiro lugar, o que não resolveu o seu desconforto. Ao final da aula, sua mãe foi comunicada dos fatos e sugerida, a priori, um atendimento oftalmológico, haja vista considerar a possibilidade de uma dificuldade visual. Muito receptiva, encaminhou seu filho ao especialista na mesma semana. Após consulta, não foi diagnosticado nenhum problema visual. Diante dessa negativa, passou-se a observar persistentemente o aluno X, durante aproximadamente dois meses e meio, notando dificuldades em manter a atenção e em fixar os conteúdos, além de uma tendência a se distrair facilmente, absorto em seus pensamentos. Diariamente, era feita a comunicação com a família para entender seu comportamento em casa, especialmente durante as tarefas, sendo que a mãe relatava dificuldades semelhantes às que eram enfrentadas em sala de aula. Observava-se também que diante da improdutividade acadêmica do aluno X, sua autoestima estava muito baixa, com diversos episódios em que se autodenominava “burro”, sentindo-se inferior aos amigos de classe. Ante a observação detalhada em sala de aula, ficou perceptível que o aluno X apresentava sinais de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Após elaborar um relatório de observação detalhado, a mãe procurou ajuda médica, resultando no diagnóstico de TDAH e com a indicação de intervenções medicamentosas. Com um pouco mais de um mês de tratamento, o aluno X mostrou melhorias significativas. Sua autoestima aumentou, o que refletiu positivamente no desempenho acadêmico, avançando do estágio pré-silábico para o silábico alfabético. Sua participação em sala de aula também melhorou substancialmente. No decorrer do ano, com o seguimento do tratamento, o aluno X consolidou o último status da hipótese de escrita, tornando-se um aluno alfabetizado, com amplo domínio das sílabas complexas. Durante todo o processo, a mãe esteve ao lado das estratégias realizadas e atuou integralmente em busca do avanço pedagógico, em forma conjunta com as intervenções aplicadas. No tocante ao aluno Y, inicialmente denotou-se uma carência dos conteúdos básicos que já deveria ter adquirido nos anos anteriores, e por isso foi submetido ao reforço escolar no contraturno. Após essa conduta, os pais interpelaram questionando essa decisão, alegando que nenhum professor havia tomado tal atitude. Amistosamente, através de uma conversa detalhada enfatizando a importância do reforço escolar, eles concordaram com a medida adotada. Apesar do empenho no reforço, o aluno Y continuava demonstrando dificuldades significativas, como a incapacidade de acompanhar as instruções na lousa e problemas com noção de espaço e lateralidade. O método pedagógico e a intervenção individual foram administrados de forma equalitária aos alunos X e Y, pois ambos vivenciavam as mesmas dificuldades de foco, assimilação e concentração. Passados quatro meses desde o início das aulas, sem avanços satisfatórios, mesmo com o reforço, fez-se necessário a elaboração do relatório de observação. Após a entrega e orientação sobre as possibilidades de acompanhamento e intervenção médica visando a melhoria e avanço nos desempenhos acadêmicos, a negativa da mãe veio no sentido de que o filho não necessitaria de um neurologista, e que os relatos trazidos eram mera questão de fase de desenvolvimento do infante, e que em breve, apresentaria quadros satisfatórios de desempenho. Independentemente, após a negativa familiar quanto ao acompanhamento médico, foram usados diversos mecanismos pedagógicos, estratégias de ensino e aprendizagem individualizada, portanto não se vislumbrou resultados positivos e avanços na hipótese de escrita, permanecendo no nível pré-silábico.

Conclusões e implicações dos resultado

No transcorrer desse trabalho, restou-se cristalina a complexidade da relação entre o apoio familiar e a superação de dificuldades de aprendizagem. Embora muitas famílias sejam predominantemente presentes, como é o caso das duas citadas nesse relato, algumas ainda podem negar a necessidade de intervenções especializadas, em detrimento a um possível diagnóstico, prejudicando o desenvolvimento integral dos filhos. É fato que esse assunto, apesar de estar mais em evidência, ainda consiste em um tabu, envolto por preconceitos. Quando se fala em transtornos do neurodesenvolvimento, os pais são remetidos aos tempos decadentes, onde essas pessoas eram vistas como doentes mentais, por isso é necessário que os estudos que temos hoje, alcancem essas famílias e que tendo conhecimento da infinidade de tratamentos, possam desmitificar a repressão que esse tema ainda provoca e assim, entender que o diagnóstico não é uma sentença, mas um ponto de partida para a melhoria de qualidade de vida e aprendizagem.

Área

Transtornos em neurodesenvolvimento

Categoria

Educador

Instituições

Prefeitura Municipal de Orlândia - São Paulo - Brasil

Autores

TATIANA CRISTINA DE CARVALHO